segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
O que a chuva me trouxe
Escolhi sair de casa o quanto antes, pois já não havia mais ar. Os pulmões reclamavam e evitei a despedida. Não conseguia escrever uma palavra e, por este motivo, o que lhe restou foi a ausência de explicação.
Cada fragmento da infância queimava no peito. Caminhadas sem rumo e dias conversando com o vento. Sempre pedia para que ele me trouxesse a chuva. Parecia que além das nuvens os pedidos ganhavam forma. Era como se eu deixasse de estar no nível mais baixo e os pés finalmente abandonavam o chão. No quintal, repleto pelo verde do musgo que crescia nas beiradas das paredes, eu passava as horas envolvido pela atmosfera surreal, sem nem ao menos saber o que isso significava. Via nos galhos de árvores e pedras tudo o que precisava para criar um novo mundo. Eu não governava, mas observava minhas criaturas e seus conflitos. Sempre soou familiar.
Lembro-me do dia em que a noite chegou mais cedo. O céu escureceu e a terra exalou seu perfume. Descalço, senti o solo mais frio e o sopro do vento fez minha pele se recolher. Começou a chover e, inutilmente, tentei conter a lágrima que escorria. Eu não sabia o que isso significava. Sentia nas gotas de chuva uma paz inominável.
(...)
Aurora
"Não há luz que consiga evitar o reflexo da água. Não há terra que consiga mudar seu fluxo por inteiro. De tudo o que criei, foi a chuva que recebeu a bênção da vida. Despejei em sua essência o que havia de mais puro em mim. O amor".
Varuna
"Quando surgi, fui apresentada a uma terra seca e abandonada. Caminhei por muito tempo e só o que vi foram cicatrizes deixadas pela minha ausência. Mas eu não sentia pena nem tristeza. Estava estática e alimentada por uma antipatia profunda. Nada me comovia, nem mesmo o apelo daqueles pequenos seres.
Após alguns dias, voltei ao deserto e percebi que a vida ainda resistia. As criaturas lutavam para que o último fio de esperança não se perdesse em meio a tanta poeira. O que me encantou não foi a cena decadente nem mesmo a culpa que sabia ser minha. O que me encantou foi a capacidade de resistir e ainda assim pedir por mim sem rancor.
Toquei meu rosto e percebi que os olhos estavam molhados. Chorei. Deixei chover. E choveu muito".
(...)
O guarda-chuva foi responsável por te colocar ao meu lado. Seus sapatos estavam encharcados e eu não pude evitar o convite. Em silêncio, caminhamos pela cidade, que mais parecia um jornal molhado. Em seguida, muitos anos. Momentos marcados pela água que caia dos céus. Parecia nosso ritual e a única coisa que de fato nos pertencia. Podia chover sempre... Nos casamentos, nas festas, nos feriados. Podiam reclamar e praguejar. Nós sempre encontrávamos um lugar onde fôssemos bem-vindos.
E um dia ela passou. Você decidiu partir. Não havia mais a magia no som das gotas atiradas ao chão. Ainda assim, não restou tristeza, mas a forte sensação de que havíamos lavado nossas almas. E para as feridas, a água doce da chuva não ajudou. Eu fui buscar o sal do mar.
A chuva me trouxe o eterno. E todas as vezes em que ela chegar, estarei novamente em contato com você. Somos pequenos pedaços do infinito. Não sei o que isso significa. Apenas deixo ela cair sobre mim e se fundir com as lágrimas. Chorei. Deixei chover. E choveu muito.
domingo, 11 de dezembro de 2011
O dom de esquecer
Já havia se passado três meses. Parece que esse período de tempo não alterou nada. E eu ainda sinto o peso das malas em minhas mãos. Também ouço meus próprios passos pelo corredor e cerro os lábios ao me lembrar das últimas palavras ditas. Esquecer é um dom. Esquecer é uma dádiva.
Eu estava escrevendo mal. Não encontrava a mim mesmo. Foi o que ela me disse. Vestida com sua blusa florida e calças masculinas, olhou-me como se não suportasse aquela imagem distorcida. Pediu para que eu a desse um motivo que evitasse minha saída da escola. Eu só consegui dizer que "no lugar das páginas dos livros poderiam ter colocado folhas em branco". Estava fora do mundo, mais uma vez.
Resolvi ir até a colina. A cidade não me queria mais. E eu nunca a desejei. Caminhei por muitas horas, até que resolvi descansar encostado em um velho carvalho. A voz da floresta me conduzia. Eles jamais saberiam a respeito dos meus motivos. Nem família, nem amigos, nem você. Primeiro eu me apaixonei pelo céu.
Nublado e denso, seu rosto carrancudo não assustou meus olhos. Zéfiro soprava como nunca e o frio abraçava minha pele. As nuvens eram mas mesmas que cobriam nossos corpos. Deitados na grama, fizemos juras de amor com a ponta dos dedos. Escrevemos nas nuvens de chuva cada gota da esperança que nos unia e, futuramente, viria a nos destruir.
Eu sempre me senti como um balão solto no ar. Sem aquela mão para me manter por perto, eu partia diversas vezes e nunca voltava para dizer o que vi e senti. Naquele instante o céu me recebia como reflexo de sua decadência. Estirado no chão, eu o encarava sem vontade de levantar e caminhar novamente. E, lentamente, suas mãos envolveram meu rosto.
Os cinco dias da semana e os milhares de meses intermináveis. Os anos de poucas lembranças e as vontades urgentes, emergentes e inconsequentes. Depois de ter visto o céu, teto nenhum conseguiu me segurar. Ao buscar sempre um lugar onde estivesse próximo do alto, acabei me apaixonando pelas estradas.
Os joelhos sempre me foram fieis. Os pés também, apesar de reclamarem muito. Sendo assim, não tinha mais desculpas para ficar. As mãos que agora envolviam meu rosto eram as mesmas que me levavam comida à boca. Sozinho, caminhei como se essa fosse a forma mais confortável de se suicidar.
Enquanto olhava para horizonte, percebi que, aos poucos, deixava de me importar com as direção. Eu seguia uma vontade de chorar misturada com a batida acelerada de um coração inquieto. Gastava a água do corpo como caminhão que queima até a última gota de combustível. Eu já não tinha mais laços com a história que um dia me descreveu.
Na estrada, pude chorar e gritar sem ser acudido. Pude enlouquecer a ponto de socar um tronco e rasgar a carne dos dedos. Pude beber e fumar. Pude passar fome e dar valor ao que tinha para comer. Eu pude tantas coisas que acabei me cansando de tal liberdade. Decidi impor alguns limites e tentar desenhar uma borda que agregasse toda aquela bela pintura feita com a respingos de alma. Parei na pequena cidade e lá me apaixonei pelas velas.
Quando ela me perguntou se eu estava com sono não precisou muito para que respondesse. Os olhos vermelhos imploravam por um segundo de paz. Aceitei o convite. Enquanto dormia, sonhei com a réplica perfeita daquele que seria o abraço mais gostoso de todos. Seus olhos espertos fitavam meu corpo cansado. Sem saber como começar a conversa inevitável, derrubou algumas coisas na mesa até que parou diante de mim e roubou meu ar. Eu não conseguia ver todo o seu rosto, parte dele estava escondido pelas sombras, mas a outra metade cintilava com a luz das velas. Aquele tom amarelado cobria de ouro o rosto da cor da madeira. Minhas mãos decidiram confortar aquele face esculpida com perfeição. Antes de partir, deixei uma carta com algumas palavras. Não agradeci, pois nunca esperamos nada um do outro.
Eu deveria tê-la amado intensamente. Deveria ter feito da última paixão a síntese de todo o sentimento que tanto cultivei. Mas não foi assim. Pois a natureza me ensinou a respeitar tudo o que não for compreensível ao meu ver. E o que corre pelas minhas veias é justamente essa ausência de nomes e definições. Meu coração não sabe escrever nem ler as linhas do mundo e suas regras complexas. Ele sente e sofre demais por isso, mas é uma dor tão necessária que sem ela eu jamais teria motivos para lutar contra algo. E como descrever meu coração? Não, não consigo. Claro que consigo, só evito fazê-lo. Mas faço, dessa vez.
Fragmento da essência de todas as energias, ele foi batizado pela Fênix e sua gana por destruição. A partir dos próprios estilhaços, recolhe todas as partes e constrói uma pseudo versão de si mesmo. Jogado num universo, vaga e explode, consome-se até que caia esgotado sobre sua própria solidão. Ainda assim não o conheço tão bem. Mas ele sabe tudo a meu respeito.
Debaixo daquela árvore, percebi que alguém me observava. Jamais imaginei que naquele instante me apaixonaria por você. Seu sorriso me trouxe o retrato mais belo do céu e nenhuma palavra precisou ser dita. Como se meu coração tivesse percorrido milhares de estradas até encontrar o seu, senti um peso no peito que me fez querer congelar o tempo. E os meus olhos brilhavam como luzes de velas assim que encontraram no seu a chama da ave de fogo, que renascia mais uma vez das cinzas de um amor distante.
Foi naquele dia, há três meses, que ergui as malas pesadas e caminhei para o corredor da velha casa de campo. Cerrei os lábios na tentativa de não dizer "entre", mas falhei. E quando me dei conta já havia esquecido de todo o mundo. Esquecer é um dom. Esquecer é uma dádiva.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Não vejo cores, mas as ouço
O refúgio está no silêncio. Quando a casa vazia abriga apenas minha ausência, sinto que o tempo começa a correr ao contrário e as velhas fotos voltam para a parede do quarto. Os corredores revivem flores e velhos móveis. As escadas fazem menos barulho. Meu coração bate mais calmo.
Não consegui adormecer. O mar cantarolava qualquer música e meu corpo pedia por uma caminhada. As ondas, em sua dança particular, conduziram-me por quilômetros até que encontrei aquela grande pedra. Coração da terra. Mais solitária do que nunca. Enquanto observava a imensidão, lembrei das pessoas que deram cor ao meus dias.
As verdes me traziam uma paz sobrenatural. Sempre centradas e com o tom de voz bem suave, sabiam me decifrar apenas pela vibração das cordas vocais. Procuravam nos meus olhos o que havia sobrado do último sorriso. Na esperança de não deixar que minha alma se rendesse ao sono dos inconformados, eles diminuíram a velocidade da vida e me embalavam numa longa melodia capaz de misturar o sal das lágrimas com o doce dos lábios.
Os vermelhos queriam mais de mim do que eu mesmo poderia pedir. Consumiam-me diariamente e colocam à prova toda a criatividade que viesse a ter. A diversão se misturava com a forte insegurança refletida nas palavras repetidas e no vocabulário propositalmente vasto. Aceleravam o tempo para que os maus momentos fossem breves interlúdios na longa jornada de um único dia. Apostavam no erro e o transformava em acerto. Alquimistas do intangível, sabiam lidar com o fogo, com o metal e com o sangue. Com eles, lutei sempre que pude.
As amarelas guardavam no sorriso o conforto do abraço de mãe. Gigantes e imponentes, tinham uma aura tão acolhedora que perto delas me sentia como um pequeno planeta girando em torno do sol de ouro. Alimentavam minhas ideias com a luz de sua segurança. Aqueciam meus dias e respeitavam meu período nas sombras. Tiravam do sabor dos alimentos a mágica de tecer um nosso gosto que superasse o amargo na boca. Tais pessoas deixavam de lado a própria vida para que as outras cores pudessem se manter em eterna plenitude.
Os azuis sempre me encantaram. Em especial, por sua distância do mundo real e o respeito pelo silêncio. Detentores de um saber único, transitavam - sem dificuldade - pelas vias da tristeza e traduziam o amor em pequenas doses de carinho. Implosivos, mostraram-me o infinito de sua sabedoria. A felicidade dos azuis se fez no instante em que o céu adotou sua cor como pele. Nesse momento, eles sorriram através das estrelas.
Eu, o preto, consumo todas essas cores. Sou eu o debilitado, incapaz de criar tais sentimentos dentro de mim. Preciso de cada uma das cores para me manter vivo e elas me servem de motivo para continuar. Aqueles que têm como cor o preto surgem para eliminar os excessos. Céticos, buscam em cada detalhe a queda das verdades e explicações inflexívies. Lidam com a contradição como se está fosse tão necessária quanto a sabedoria. E de fato é. Ultrapassam as linhas entre real e fantasioso para que suas mentes possam morrer e reviver das próprias cinzas. Acreditam no equilíbrio, mas desdenham das doutrinas. Eu, o preto, sou um pedaço do universo que por rebeldia se desprendeu do vazio.
E você, o branco, ainda encanta meus olhos. Com um toque, reuniu todas as cores possíveis e impossíveis para desenhar, à mão livre, todos os cantos do infinito. Criador da temperança, ensinou às outras cores a arte de se misturar. Não separou os quentes dos frios. No seu coração, fez com que eles produzissem uma luz tão forte que após sua ascensão nada mais cegou minha mente. E meus pulmões negros se encheram de um silêncio bucólico.
Enquanto vivermos, as cores serão o que são. Parte de nós. Parte de tudo o que nós mais amamos e odiamos. Parte do silêncio. Parte do nosso refúgio.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Sunday
Cada gota matava a sede. A chuva não atrapalhava os olhos, nem impedia o som. A chuva estava hipnotizante.
Olha para o alto e a lama nos pés não diz mais nada. Sente o cheiro da terra e relaxa os ombros. Cada acorde, cada riff distorcido, cada segundo numa atmosfera sônica que matava os neurônios e libertava a mente das garras da racionalidade. Você não consegue olhar para si mesmo. A natureza pensou em tudo. Essa foi a maneira que ela encontrou de te manter vivo por mais tempo. Você não consegue se ver.
Domingo.
Caminhava com passos cuidadosos. O chão não era confiável. Respirava profundamente. Os pulmões ainda não estavam recuperados. A cidade deixa marcas. Cheguei ao local. Muitas gente, muita água, pouco espaço... Cheguei e já parti.
Como descrever uma sensação tão única? Como? Bem, não existe uma fórmula, mas existem palavras.... Muitas palavras.
"Primeiro, você deixa de sentir o corpo. É como se os membros esfarelassem como areia. Em seguida, o peso nas costas desaparece. A visão, cansada de sempre capturar o mesmo, decide dormir e tudo fica escuro. Então, você passa a "ver" com os ouvidos. Cada nota, cada vibração de corda, cada gota de chuva ecoava dentro do vazio que, agora, completava a existência. O "nada" dentro de mim parecia ter se misturado com o ambiente. Não havia mais direção a ser seguida e o coração batia devagar. Nem frio e nem calor. Apenas o vazio preenchendo o ser.
Não há mais nome, endereço, família, dor, paixão, vontades e frustrações. Não há nada. E por isso, existe algo no fundo das camadas soterradas de frequências inaudíveis. Existe a fuga".
O tempo escorreu até as pontas dos dedos molhados. Gota por gota, contou cada segundo gasto com a ausência da mente. Não me cobrou depois. Mas ainda assim, fez questão de registrar.
Conforme fui retornando, lembrei-me das pessoas que gostaria de ter comigo naquele momento. Dividir o vazio, repartir a inexistência e poder falar sobre aquilo que ninguém jamais vai entender.
A mente é como um cavalo selvagem. Enquanto puder cavalgar, será bela e imprevisível. Mas no instante em que ganhar cabresto, o que antes encantava, passará a tirar da beleza o dom de fazer sorrir sem estar realmente feliz.
sábado, 29 de outubro de 2011
O amor não é o suficiente
E nunca será.
Enquanto eu permanecer aqui, dentro dessa prisão de carne e ossos, nada mais será alcançável. Toda a distância será bem-vinda. Dentro do meu quarto, dentro do ônibus, dentro da sala de aula e, principalmente, dentro de você.
Mas que se foda. Um dia os textos poderão fluir de uma maneira menos óbvia. O desafio mesmo é escrever quando se está feliz. A tristeza já é presença fixa nos textos deste espaço. Ainda assim, resisto aos dias comuns.
O amor nunca será o bastante. E se um dia vier a ser... Estarei aqui, para registrar o momento.
A carta que nunca foi entregue
Não faz sentido nenhum. Nunca nos falamos. Ainda assim, acumulei dezenas de palavras para te dizer. Desculpe, não existe uma explicação racional, por isso valorizo tanto o que sinto. É algo que só sinto por você. Então, não pense que é loucura. Apenas não fiz questão de rotular.
Sabe, não consigo definir como vai ser ou como poderia ser. Só sei que quero que seja com você. Isso basta. Queria ser feliz com você. Vamos, temos pouco tempo! Acredite, vou encontrar um lugar para nós.
Eu gosto de você e te quero ao meu lado. Enquanto eu não souber explicar, garanto que seremos livres e os sentimentos vão deixar de ter nome. Só quero poder dormir e saber que, pela manhã, seu sorriso virá antes dos raios de sol.
E se alguém nos culpar, lavaremos as feridas com o sal da água do mar. Pode ser simples se a gente quiser. E eu quero.
O amor não é suficiente. Tem que ser mais forte do que o nome, do que a cor dos olhos e o tom de pele. O amor nunca será suficiente. Ele para no coração. Eu paro na alma. Quero o universo e não apenas o sol.
O amor jamais será o bastante.
Enquanto eu permanecer aqui, dentro dessa prisão de carne e ossos, nada mais será alcançável. Toda a distância será bem-vinda. Dentro do meu quarto, dentro do ônibus, dentro da sala de aula e, principalmente, dentro de você.
Mas que se foda. Um dia os textos poderão fluir de uma maneira menos óbvia. O desafio mesmo é escrever quando se está feliz. A tristeza já é presença fixa nos textos deste espaço. Ainda assim, resisto aos dias comuns.
O amor nunca será o bastante. E se um dia vier a ser... Estarei aqui, para registrar o momento.
A carta que nunca foi entregue
Não faz sentido nenhum. Nunca nos falamos. Ainda assim, acumulei dezenas de palavras para te dizer. Desculpe, não existe uma explicação racional, por isso valorizo tanto o que sinto. É algo que só sinto por você. Então, não pense que é loucura. Apenas não fiz questão de rotular.
Sabe, não consigo definir como vai ser ou como poderia ser. Só sei que quero que seja com você. Isso basta. Queria ser feliz com você. Vamos, temos pouco tempo! Acredite, vou encontrar um lugar para nós.
Eu gosto de você e te quero ao meu lado. Enquanto eu não souber explicar, garanto que seremos livres e os sentimentos vão deixar de ter nome. Só quero poder dormir e saber que, pela manhã, seu sorriso virá antes dos raios de sol.
E se alguém nos culpar, lavaremos as feridas com o sal da água do mar. Pode ser simples se a gente quiser. E eu quero.
O amor não é suficiente. Tem que ser mais forte do que o nome, do que a cor dos olhos e o tom de pele. O amor nunca será suficiente. Ele para no coração. Eu paro na alma. Quero o universo e não apenas o sol.
O amor jamais será o bastante.
sábado, 15 de outubro de 2011
Odiar
O dia em que cheguei ao limite. Desisti do silêncio. Aquela foi a última vez que evitei o ódio. Respeitei-o sem pensar duas vezes.
Esperei até que viesse até mim. Com aqueles olhos em chamas - quase como dois rubis - você rasgou minha carne e me jogou no chão. Quebrou meus ossos e perfurou meus músculos. Ria alto e mostrava seus dentes como uma fera descontrolada. Destruiu meus lábios. Destruiu meu sorriso. E eu te observava com o olhos ensanguentados, vermelhos como os seus rubis. Aprendi muito durante aqueles poucos segundos de violência.
Olhava a sola do seu sapato e tentava decifrar os pedaços de mim que ficaram presos nela. Era o momento em que a dor já não podia ser sentida. Ela teve pena de mim e resolveu me abandonar. Eu não estava mais ali, fisicamente. Porém, tinha certeza que iria voltar. E voltei.
Quantas vezes não deixei de ser apenas mais um idiota a buscar formas de aceitar coisas mais idiotas ainda? Sentir-se culpado por não achar graça nenhuma nas piadas. Esconder-se no silêncio, no fundo da sala, nas roupas largas. Esconder-se no canto da quadra. Antes de dormir eu só pedia uma coisa: faça-me invisível por mais um dia... Só mais um dia. Um dia, alguém me ouviu.
Levantei e recolhi o resto da vergonha. O olhar não conseguia se erguer diante de toda aquela cena deplorável. Achei que tivesse no fundo do poço, mas descobri que podia ir mais a fundo. Algo molhado estalou no meu rosto. A saliva grossa escorria pela bochecha e o sal que lavou as feridas foi o das lágrimas que não conseguiram se conter. Terra, sangue e livros. Meus novos companheiros.
Quando cheguei em casa, apenas evitei qualquer objeto que pudesse refletir a imagem do garoto assassinado. Sim, já não existia ali o que antes atendia pelo meu nome. Sem nome, sem alma e se tiver alma, está agora esta coberta de terra, sangue e livros. Por um instante, senti que algo tentava resgatar os sentimentos que moviam o menino morto. Desejei apenas um abraço. Queria que o seu ombro sufocasse meu choro. Não tive. Não tenho mais nada. Tenho algo novo. Não perco mais nada.
Dez semanas deitado e em silêncio. A mente não existia. Resistia. Assim como o corpo. Odiava meus pais e toda a minha família. Odiava a raça humana. Odiei-me com todas as forças. Levantei.
Pelas ruas, eu andava na esperança de receber uma bala na cabeça. Achava que, finalmente, algo ou alguém terminaria o que aquele par de rubis havia começado. Mas não foi assim. Não existia alguém mais covarde do que a criatura proveniente da intolerância.
(...)
- Hoje, faço questão de ir te encontrar depois da aula. Faz tempo que não nos vemos. Tenho saudades, sabe?
- Eu também tenho. Preparei algo para você. Acredite, vai gostar...
- Sabe que não ligo para essas coisas de "ganhar" e tudo mais...
- Eu sei e não ligo para o fato de você não ligar. Então, esteja lá.
- Estarei.
No meu bolso, guardava aquele pequeno objeto prateado que mais parecia um fragmento de estrela. Ali, havia depositado todo o universo que preenchia o espaço do coração. Não gravei nenhuma data ou nome. Ali, registrei apenas o que importava: o sentimento sem nome.
- Você é pontual mesmo, hein?
- Sim. E então, o que tem de tão importante para me dar?
- Abra a mão... Não olhe ainda!
- Humm... Poxa! Isso deve ter sido caríssimo!
- Só isso que você tem a dizer?
- Claro que não! Adorei! Deixe-me abri-lo... Não acredito que você colocou essa foto...
- Não poderia ser outra. Este relógio de bolso irá marcar as horas que nos envolveram. E, sempre que você quiser encurtar o período em que estivermos distantes, não dê corda nele. Deixe-o parado, até que nos encontremos novamente. Essa fotografia é a prova de que o tempo parou no momento mais feliz de nossas vidas.
- Eu te amo. E também tenho algo para lhe entregar.
- O que é?
- De-me sua mão... Agora... Hum... bem, coube certinho!
- Você sabe que a próxima será dourada, não sabe?
- Sei. Até lá, compartilharemos do mesmo universo.
- Eu te amo, sabia?
- Sei.
Os olhos de rubi estavam ali, nas sombras. Esperou até que a última palavra fosse dita e então resolveu entregar a nós o presente que havia reservado. Sem pensar duas vezes, saltou em minha direção e me atingiu a cabeça com um soco. Pegou ele pelos braços e o chutou o estômago. Nós dois estávamos no chão, mas ele foi arrastado para outro canto. Lá, eu só pude ver o pedaço de estrela cair junto com a mão, agora morta e sem reação. Eu sobrevivi. Infelizmente.
(...)
O dia em que a dor sentiu pena de mim
Um passo. Mais uma facada. Dois passos e mais duas facadas. Olhos de pedra, coração preto e alma banhada com ódio. Boca amarga. Joelhos doloridos e ouvidos extremamente sensíveis. Estômago gelado, peito apertado e respiração fora de ritmo. Fora de tudo.
Olhei para aquela enorme caixa feita de carvalho e enfiei a mão no bolso. O relógio estava parado. A aliança só pendia no meu dedo. Eu estava só. Eu te amo, sabia? (Sei).
Sempre desejei ser invisível. Naquele dia, alguém me ouviu mais uma vez. Anulei-me.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
O limite da dor, nas mãos do silêncio
Devia me questionar mais. Na verdade, nunca deveria ter parado de fazer isso. Olhar para aquilo que acredito ser e então desconstruir qualquer conclusão ou imagem pré-fabricada. Quantas coisas para fazer. Quanto tempo para perder.
E quem sou eu? Covardia seria encontrar uma resposta. A morte pode me servir de resposta. Pelo menos, por enquanto é o que tenho como definição do que sou.
A morte das minhas próprias esperanças sou eu durante os dias que se passam. Também sou a morte da expectativa, e no lugar dela coloco frustração. Morri antes mesmo de nascer e se nasci, nasci cansado. Morto de cansaço.
Sou a morte da minha raiva. Deixo ela queimar até consumir minha razão e noção. Passo dos limites e entro no espaço vago da mente de quem trocou os pensamentos pelos sentimentos. Não sei raciocinar, sou a morte das minhas capacidades cognitivas.
Queria pegar toda a vida e colocá-la num recipiente. E que só me fosse permitido o acesso a ela durante as noites em que o céu estivesse mais pesado e sufocasse meu peito. Pois a vida me consome mais do que a própria morte. Tira de mim o direito de não existir.
Quantas vezes eu vou ter que prender meus pulsos a tais questões? Continuo perguntando e deixando que a dúvida me sirva de combustível. Corro por ruas sem nome, passo por casas sem pessoas. Piso na grama seca de jardins proibidos. Acaricio a cabeça de cães cansados de procurar por comida. Escuto, no fundo daquele quintal de concreto, o assovio da maldade. Na mesa, o prato vazio e o copo cheio de água suja.
Deram-me um mundo no qual sou o rei do nada. Nele, governo a inexistência. Sem leis, sem ninguém para me prender ou chamar de tirano, passo os dias desenhando meus ideais. Desenho em muros e paredes tudo o que não cabe na minha cabeça. Se a alma transbordar, serão minhas mãos que irão recolhe-la.
Enquanto me sentir assim, tão distante das definições alheias, os espinhos não deixaram de caminhar junto aos meus pés. O coração que resiste, os pulmões que reclamam, a mente que clama por embriaguez, os ouvidos que sangram, os olhos que adormecem e a boca que se cala. Fala pelos dedos e não pelos cotovelos. Escrevo quando canso de ser a minha própria morte. Escrevo para...
Não há nada mais confortável do que se sentir capaz de por um fim em todo o sofrimento. Imaginar que a qualquer momento eu posso desligar a chave que transmite angústia pelas veias. Saber que não tão distante está o direito de silenciar a agonia. No limite da dor, é possível encontrar paz nas mãos do silêncio. Suporto apenas por ter a certeza de que posso optar por não suportar, a qualquer momento, em qualquer lugar.
E que chorem por mim. Que julguem minha alma como imprópria e ingrata. Ainda assim, serão incapazes de recolhe-la no instante em que a existência se libertar da insistência de viver uma vida sem graça e cheia de sofrimentos. Faça-os dizer meu nome com rancor e tristeza. Faça-os pedir para que minha essência fique presa neste mundo. Do egoísmo, saciei-me a ponto de não suportar nem mesmo o seu cheiro, reproduzido nos meus desejos mais intensos. E quem sou eu, senão a morte das minhas próprias palavras? Sou assim tão deslocado que perco o ritmo da escrita e conduzo a mim e a você numa viagem sem sentido e sem destino. Cheia de espaço para que ambos possamos construir algo melhor do que apenas mais um texto.
Jamais vou deixar de me questionar e, principalmente, de justificar os meus atos, baseando-me na (in)certeza de que sou minha própria anulação. Posso, logo, desapareço.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
O sexto
Naquela manhã, fiz questão de acordar mais cedo. Além das tarefas habituais, decidi que iria colher alguns legumes para o almoço. Já havia passado a época das colheitas, no entanto eu sentia falta de vegetais frescos. O caminho era sempre o mesmo: estrada de terra e longas árvores nas laterais. E lá estava o sol a banhar todas as folhas verdes. Pois bem, era só mais um dia comum.
Não... Definitivamente não era.
Anos e anos na solidão. Depois que perdi meus familiares nunca mais sai daquele vilarejo. Éramos doze irmãos. Minha mãe costumava dizer que cada um de nós carregava uma constelação em nossas almas e, coincidentemente, cada um de nós nasceu em um mês do ano. Eu era a sexta constelação.
Asmin
O mais velho. Asmin tinha ombros largos e olhos flamejantes. Seus cabelo dourado o diferenciava dos demais irmãos. Seu espírito era vívido e criativo, parecia que estava sempre em combustão. Queria tudo ao mesmo tempo e sempre enchia os pulmões para gritar aos quatro ventos os seus desejos. Asmin, meu querido irmão, inquieto e valente. Seu coração não cabia dentro do peito.
Tenos
A rocha que jamais se moveria. Tenos era intransponível. Dominador e autosuficiente adorava cultivar todos os bens materiais que conseguia em suas aventuras. Cada conquista amorosa era como um diamante bruto que entrava para sua coleção. Tenos tinha a beleza como aliada. Mas não a beleza física e sim a beleza dos gestos. Seus braços fortes envolviam as moças carentes e davam coragem aos rapazes medrosos. Tenos era filho da terra e sua coragem não cabia dentro das palavras.
Nivad
O universo cabia dentro do sorriso de Nivad. Aquele que gostava de conversar e também de desafiar as barreiras entre pessoas. Meu irmão, que tantas vezes me fez cair no sono com suas longas estórias, vagava pelo mundo dos sonhos. Era como o vento e mudava sem avisar. Repudiava qualquer forma de dominação e lutava contra a rotina. Era inseguro, pois as suas bases se faziam no ar. Nivad - senhor da palavra e mestre na arte de reinventar-se - lutava para não demonstrar que seu maior medo era ter as asas cortadas por um amor qualquer. Era filho do céu, e sua liberdade não cabia dentro de casa.
Gamon
Com seus laços invisíveis, Gamon envolvia a toda a família. Fragmentou seu coração e para cada um de nós fez questão de deixar um pedaço. Conhecia o silêncio dos mortos, pois desde pequeno conversava com aqueles que já não mais habitavam este planeta. Gamon chorava e não tinha vergonha disso. Sabia muito sobre a água e seus mistérios. Contou-me, uma vez, que no fundo de cada rio existia uma bela moça com sorriso de pérola. Gamon era filho da água e suas lágrimas não cabiam dentro dos olhos.
Silas
Jamais conheci um espírito mais forte do que o de Silas. Seu espírito de liderança também era a fonte de arrogância que o fazia tomar frente da maioria das decisões. O que tinha em seu olhar não era coragem, de fato, mas sim força. E força está além da capacidade de arriscar-se. Força também se faz nos momentos de resignação. Silas gostava de exercitar-se à luz do sol. Dizia que sua alma passava a ser preenchida com o dourado celeste. Não aceitava um "não" como resposta, mas era forte o bastante para abrir mão do "sim". Era filho da luz e não cabia dentro do sol.
Eu...
Não agora... Não.
Chivat
Carregava a paz em seu colo. Sempre atento e pronto para equilibrar os ânimos, Chivat tinha uma beleza particular. Movimentava-se com graça e leveza. Optou pela razão e abriu mão do amor. Chivat queria viver num mundo onde tristeza e felicidade fossem aliadas. Acreditava com todas as forças na capacidade de extinguir-se e então voltar a existir como parte de um todo. Chivat, filho do silêncio, não cabia dentro das guerras.
Celos
Abençoado com olhos negros, Celos gostava de criticar os demais irmãos. Ele dizia que sua crítica nada mais era do que a ajuda que todos precisavam para crescer. Sempre atacava o ponto fraco de cada um, mas quando o seu era tocado, jurava vingança. Celos conhecia o lado difícil da vida, não porque tivesse sofrido, mas porque optou por isso. Encontrou no sofrimento derivado da solidão o recanto de suas forças. Meu irmão, que tanto me ensinou sobre a dor, não cabia dentro das próprias lamentações.
Dário
O protetor. Quantas vezes vi Dário deixar seu sono de lado para velar pelo dos demais irmãos. Ótimo atleta tinha olhos de falcão. Seus cabelos dourados o faziam parecer muito com Silas, ainda que os temperamentos se distanciassem. Dário vivia o amor eo queimava com todas as forças. Era um eterno apaixonado, mas sempre acabava sozinho. Vivia a frustração de suas próprias expectativas e esperava, em vão, pelo coração perfeito. Dário era filho do fogo e seu amor não cabia dentro das chamas.
Benzar
Benzar podia trabalhar por uma década sem pausa que manteria a pose e a promessa feita. Conhecia as artes e não o cansaço. Era leal e justo, tinha nos olhos a lâmina de uma espada capaz de cortar as falsas aparências e revelar o que havia no interior de cada pessoa. Abandonava a si mesmo para poder ajudar aos demais e sua bondade não cabia dentro deste mundo.
Leucad
O misterioso. Para nós, era um desafio saber o que se passava na cabeça de Leucad. Falava com os olhos e sempre afogava o pensamento nos livros. Frio e distante nos amava de uma maneira bem peculiar. Seu sorriso era lindo, pois era raro. Com isso, valorizávamos até mesmo o mais simples gesto de afeto. Leucad amou muito outra pessoa, mas sua natureza não o permitiu se aproximar muito do calor de uma nova paixão. Leucad era filho da água e não cabia dentro daquele oceâno de incertezas.
Fermis
Seu rosto era como a lua. Iluminava qualquer escuridão. A beleza se definia no seu sorriso perfeito e olhos azuis como céu. Gentil e delicado, Fermis era protegido pelos outros e quase nunca se envolvia em conflitos. Sonhador e amoroso conquistou todos os corações a sua volta. Cantava com a alma e dançava como um peixe envolvido pelas correntezas do hedonismo. Fermis era filho das rosas, mas seu perfume não pertencia a nenhum jardim.
Eu...
Kalim
Enquanto voltava com a cesta cheia de belos legumes e frutas, aquela velha cena voltou. Pensei que nunca mais aconteceria algo do tipo, mas aconteceu. Ele veio até mim e disse:
"Kalim, lágrima que deixei escorrer e na terra foi parar, até quando vai me evitar? Sou seu pai, sua mãe, seu irmão, seu amor... Sou você, Kalim. Não deixe que o medo vença a guerra e te faça prisioneiro pelo resto da eternidade. Você, que carrega na mente o universo, que tem perfume de rosas, lida com o silêncio e sabe captar as palavras com o olhar. Kalim conheça-te a ti mesmo, meu filho. Não negue sua essência. Não abandone o que tens de mais precioso: sua própria alma".
Desde pequeno conversávamos muito. Um dia o questionei e então tudo mudou:
- Sinto-me solitário, mesmo com doze irmãos ao meu redor. Diga-me, estou sendo cruel, certo?
- Só serás cruel se assim se sentir, Kalim. Veja, todos nós precisamos de um momento de solidão.
- Até você?
- Sim, até mesmo eu.
- Nunca percebi.
- Já reparou na chuva?
- O que tem ela? Só atrapalha a brincadeira dos meus irmãos e me causa sono.
- Exato. Vocês simplesmente ficam reclusos, protegendo-se das minhas lamúrias.
- Sei...
- Por que esse olhar triste?
- Porque não posso falar com você sobre o que sinto.
- E por qual motivo, posso saber?
- Não encontro as palavras certas.
- Pois bem, vou ajudá-lo. Feche os olhos. Agora inspire. Certo. Solte o ar. Abra os olhos.
- Não vejo nada, mesmo com os olhos abertos! Estou cego!
- Calma, Kalim. Você está vendo sim, o que não consegue fazer é enxergar.
- Mas meus olhos estão abertos!
- Pois sua alma continua fechada.
- E o que eu faço? Como eu faço?
(silêncio)
- Vai me abandonar agora? Então é isso? Tirou de mim a capacidade de ver, apenas por capricho? Maldito seja! Acha que podes tudo apenas porque está dentro da minha mente. Mas veja, este mundo me parece velho e repetitivo. Não vejo sentido em viver aqui, muito menos em me relacionar com as demais pessoas. Elas são preguiçosas e mesquinhas. Eu não sou daqui, não quero ficar aqui.
(uma luz surge)
- Hum... Então era isso que você queria me dizer. Entendi.
- Estava aí o tempo todo? Covarde!
- Escute, Kalim. De fato, você está em outro nível. Este mundo já lhe é familiar há muito tempo. Sua essência, seu espírito e sua existência marcaram muitas vidas e no final do percurso você optou por voltar. Qual o sentido de viver num mundo cheio de sofrimento? Qual o sentido em se relacionar com pessoas cheias de defeitos e fraquezas? Para que levantar todos os dias e fazer tarefas que não preenchem o seu ser? Diga-me.
- Tudo isso, para viver. Presenciar o futuro que não me pertence e apostar no indefinido. Meu nome é Kalim, e eu não caibo dento de mim mesmo.
- Sim, Kalim, o menino que carrega em si o berço da luz. Nascido na lama, banhado pela vergonha de um mundo decadente, fez do seu sofrimento o caminho para a elevação. Ainda que esteja cansado, você, pequeno Kalim, trilhará na escuridão a estrada para que mais onze estrelas encontrem seu lugar no céu. Sei que não cabe dentro de si mesmo, pois no seu peito eu depositei o universo e suas constelações.
- Om.
Não... Definitivamente não era.
Anos e anos na solidão. Depois que perdi meus familiares nunca mais sai daquele vilarejo. Éramos doze irmãos. Minha mãe costumava dizer que cada um de nós carregava uma constelação em nossas almas e, coincidentemente, cada um de nós nasceu em um mês do ano. Eu era a sexta constelação.
Asmin
O mais velho. Asmin tinha ombros largos e olhos flamejantes. Seus cabelo dourado o diferenciava dos demais irmãos. Seu espírito era vívido e criativo, parecia que estava sempre em combustão. Queria tudo ao mesmo tempo e sempre enchia os pulmões para gritar aos quatro ventos os seus desejos. Asmin, meu querido irmão, inquieto e valente. Seu coração não cabia dentro do peito.
Tenos
A rocha que jamais se moveria. Tenos era intransponível. Dominador e autosuficiente adorava cultivar todos os bens materiais que conseguia em suas aventuras. Cada conquista amorosa era como um diamante bruto que entrava para sua coleção. Tenos tinha a beleza como aliada. Mas não a beleza física e sim a beleza dos gestos. Seus braços fortes envolviam as moças carentes e davam coragem aos rapazes medrosos. Tenos era filho da terra e sua coragem não cabia dentro das palavras.
Nivad
O universo cabia dentro do sorriso de Nivad. Aquele que gostava de conversar e também de desafiar as barreiras entre pessoas. Meu irmão, que tantas vezes me fez cair no sono com suas longas estórias, vagava pelo mundo dos sonhos. Era como o vento e mudava sem avisar. Repudiava qualquer forma de dominação e lutava contra a rotina. Era inseguro, pois as suas bases se faziam no ar. Nivad - senhor da palavra e mestre na arte de reinventar-se - lutava para não demonstrar que seu maior medo era ter as asas cortadas por um amor qualquer. Era filho do céu, e sua liberdade não cabia dentro de casa.
Gamon
Com seus laços invisíveis, Gamon envolvia a toda a família. Fragmentou seu coração e para cada um de nós fez questão de deixar um pedaço. Conhecia o silêncio dos mortos, pois desde pequeno conversava com aqueles que já não mais habitavam este planeta. Gamon chorava e não tinha vergonha disso. Sabia muito sobre a água e seus mistérios. Contou-me, uma vez, que no fundo de cada rio existia uma bela moça com sorriso de pérola. Gamon era filho da água e suas lágrimas não cabiam dentro dos olhos.
Silas
Jamais conheci um espírito mais forte do que o de Silas. Seu espírito de liderança também era a fonte de arrogância que o fazia tomar frente da maioria das decisões. O que tinha em seu olhar não era coragem, de fato, mas sim força. E força está além da capacidade de arriscar-se. Força também se faz nos momentos de resignação. Silas gostava de exercitar-se à luz do sol. Dizia que sua alma passava a ser preenchida com o dourado celeste. Não aceitava um "não" como resposta, mas era forte o bastante para abrir mão do "sim". Era filho da luz e não cabia dentro do sol.
Eu...
Não agora... Não.
Chivat
Carregava a paz em seu colo. Sempre atento e pronto para equilibrar os ânimos, Chivat tinha uma beleza particular. Movimentava-se com graça e leveza. Optou pela razão e abriu mão do amor. Chivat queria viver num mundo onde tristeza e felicidade fossem aliadas. Acreditava com todas as forças na capacidade de extinguir-se e então voltar a existir como parte de um todo. Chivat, filho do silêncio, não cabia dentro das guerras.
Celos
Abençoado com olhos negros, Celos gostava de criticar os demais irmãos. Ele dizia que sua crítica nada mais era do que a ajuda que todos precisavam para crescer. Sempre atacava o ponto fraco de cada um, mas quando o seu era tocado, jurava vingança. Celos conhecia o lado difícil da vida, não porque tivesse sofrido, mas porque optou por isso. Encontrou no sofrimento derivado da solidão o recanto de suas forças. Meu irmão, que tanto me ensinou sobre a dor, não cabia dentro das próprias lamentações.
Dário
O protetor. Quantas vezes vi Dário deixar seu sono de lado para velar pelo dos demais irmãos. Ótimo atleta tinha olhos de falcão. Seus cabelos dourados o faziam parecer muito com Silas, ainda que os temperamentos se distanciassem. Dário vivia o amor eo queimava com todas as forças. Era um eterno apaixonado, mas sempre acabava sozinho. Vivia a frustração de suas próprias expectativas e esperava, em vão, pelo coração perfeito. Dário era filho do fogo e seu amor não cabia dentro das chamas.
Benzar
Benzar podia trabalhar por uma década sem pausa que manteria a pose e a promessa feita. Conhecia as artes e não o cansaço. Era leal e justo, tinha nos olhos a lâmina de uma espada capaz de cortar as falsas aparências e revelar o que havia no interior de cada pessoa. Abandonava a si mesmo para poder ajudar aos demais e sua bondade não cabia dentro deste mundo.
Leucad
O misterioso. Para nós, era um desafio saber o que se passava na cabeça de Leucad. Falava com os olhos e sempre afogava o pensamento nos livros. Frio e distante nos amava de uma maneira bem peculiar. Seu sorriso era lindo, pois era raro. Com isso, valorizávamos até mesmo o mais simples gesto de afeto. Leucad amou muito outra pessoa, mas sua natureza não o permitiu se aproximar muito do calor de uma nova paixão. Leucad era filho da água e não cabia dentro daquele oceâno de incertezas.
Fermis
Seu rosto era como a lua. Iluminava qualquer escuridão. A beleza se definia no seu sorriso perfeito e olhos azuis como céu. Gentil e delicado, Fermis era protegido pelos outros e quase nunca se envolvia em conflitos. Sonhador e amoroso conquistou todos os corações a sua volta. Cantava com a alma e dançava como um peixe envolvido pelas correntezas do hedonismo. Fermis era filho das rosas, mas seu perfume não pertencia a nenhum jardim.
Eu...
Kalim
Enquanto voltava com a cesta cheia de belos legumes e frutas, aquela velha cena voltou. Pensei que nunca mais aconteceria algo do tipo, mas aconteceu. Ele veio até mim e disse:
"Kalim, lágrima que deixei escorrer e na terra foi parar, até quando vai me evitar? Sou seu pai, sua mãe, seu irmão, seu amor... Sou você, Kalim. Não deixe que o medo vença a guerra e te faça prisioneiro pelo resto da eternidade. Você, que carrega na mente o universo, que tem perfume de rosas, lida com o silêncio e sabe captar as palavras com o olhar. Kalim conheça-te a ti mesmo, meu filho. Não negue sua essência. Não abandone o que tens de mais precioso: sua própria alma".
Desde pequeno conversávamos muito. Um dia o questionei e então tudo mudou:
- Sinto-me solitário, mesmo com doze irmãos ao meu redor. Diga-me, estou sendo cruel, certo?
- Só serás cruel se assim se sentir, Kalim. Veja, todos nós precisamos de um momento de solidão.
- Até você?
- Sim, até mesmo eu.
- Nunca percebi.
- Já reparou na chuva?
- O que tem ela? Só atrapalha a brincadeira dos meus irmãos e me causa sono.
- Exato. Vocês simplesmente ficam reclusos, protegendo-se das minhas lamúrias.
- Sei...
- Por que esse olhar triste?
- Porque não posso falar com você sobre o que sinto.
- E por qual motivo, posso saber?
- Não encontro as palavras certas.
- Pois bem, vou ajudá-lo. Feche os olhos. Agora inspire. Certo. Solte o ar. Abra os olhos.
- Não vejo nada, mesmo com os olhos abertos! Estou cego!
- Calma, Kalim. Você está vendo sim, o que não consegue fazer é enxergar.
- Mas meus olhos estão abertos!
- Pois sua alma continua fechada.
- E o que eu faço? Como eu faço?
(silêncio)
- Vai me abandonar agora? Então é isso? Tirou de mim a capacidade de ver, apenas por capricho? Maldito seja! Acha que podes tudo apenas porque está dentro da minha mente. Mas veja, este mundo me parece velho e repetitivo. Não vejo sentido em viver aqui, muito menos em me relacionar com as demais pessoas. Elas são preguiçosas e mesquinhas. Eu não sou daqui, não quero ficar aqui.
(uma luz surge)
- Hum... Então era isso que você queria me dizer. Entendi.
- Estava aí o tempo todo? Covarde!
- Escute, Kalim. De fato, você está em outro nível. Este mundo já lhe é familiar há muito tempo. Sua essência, seu espírito e sua existência marcaram muitas vidas e no final do percurso você optou por voltar. Qual o sentido de viver num mundo cheio de sofrimento? Qual o sentido em se relacionar com pessoas cheias de defeitos e fraquezas? Para que levantar todos os dias e fazer tarefas que não preenchem o seu ser? Diga-me.
- Tudo isso, para viver. Presenciar o futuro que não me pertence e apostar no indefinido. Meu nome é Kalim, e eu não caibo dento de mim mesmo.
- Sim, Kalim, o menino que carrega em si o berço da luz. Nascido na lama, banhado pela vergonha de um mundo decadente, fez do seu sofrimento o caminho para a elevação. Ainda que esteja cansado, você, pequeno Kalim, trilhará na escuridão a estrada para que mais onze estrelas encontrem seu lugar no céu. Sei que não cabe dentro de si mesmo, pois no seu peito eu depositei o universo e suas constelações.
- Om.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
364
Nem sei por que abri a caixa de texto. Não tenho um motivo forte, assunto ou devaneio para registrar aqui. Amanhã é meu aniversário e... Também não tenho nada para falar sobre. Eu acho.
Expectativas? Evito sempre que possível. Por medo da frustração? Não. Na verdade, elas me causam frio no estômago e ansiedade, aí acabo deixando de comer e dormir, duas coisas que gosto muito. Não tenho aquela coisa de "penar em tudo o que já vivi". Minha memória é bem seletiva, sabe? Eu lembro das coisas que, para determinados momentos, são essenciais. Foge do meu controle. Tem horas que estou feliz e no mesmo segundo lembro de algo que azeda o humor.
A última coisa que me lembro foi do meu irmão dizendo que "a solidão causa loucura". De certa forma isso me marcou. Não por acreditar no que ele disse (ou deixar de acreditar), mas porque eu não senti nada. Nem medo, nem raiva. Absolutamente nada. É como se ele tivesse dito qualquer coisa sem importância. Marcou-me pelo fato de saber que no fundo isso tem muita importância.
Recentemente, tive aquelas decepções amorosas de "inverno". Tem que ter, não é mesmo? Então. O pior é que sempre descubro as coisas em horas muito inesperadas. Aí é aquela correria para transformar em poeira o sentimento que estava prestes a nascer. E para piorar, disseram-me que tenho "Vênus em virgem", ou seja, sou extremamente criterioso quando se trata de relacionamentos. No mundo de hoje é a mesma coisa que dizer "vai ficar sozinho e louco". Meu irmão sabe das coisas.
Profissionalmente falando - isso mais parece aquelas listas de coisas que abordam seu signo, tipo amor, trabalho, sorte, roupa a ser usada etc - acho que estou bem. Na verdade, só me resta achar isso. Gosto mesmo é de saber que trabalho com cultura e que direta ou indiretamente estou contribuindo para que mais pessoas tenham lazer sem gastar até a alma. De certa forma sinto que estou resistindo e contribuindo para a resistência alheia.
Trezentos e sessenta e quatro dias e eu ainda acho que não tenho nada para falar. Mas olha, até que falei/escrevi/pensei bastante, não é mesmo? Pois é, nunca sei o que virá pela frente. Duas linhas, seis parágrafos, um ponto.
Expectativas? Evito sempre que possível. Por medo da frustração? Não. Na verdade, elas me causam frio no estômago e ansiedade, aí acabo deixando de comer e dormir, duas coisas que gosto muito. Não tenho aquela coisa de "penar em tudo o que já vivi". Minha memória é bem seletiva, sabe? Eu lembro das coisas que, para determinados momentos, são essenciais. Foge do meu controle. Tem horas que estou feliz e no mesmo segundo lembro de algo que azeda o humor.
A última coisa que me lembro foi do meu irmão dizendo que "a solidão causa loucura". De certa forma isso me marcou. Não por acreditar no que ele disse (ou deixar de acreditar), mas porque eu não senti nada. Nem medo, nem raiva. Absolutamente nada. É como se ele tivesse dito qualquer coisa sem importância. Marcou-me pelo fato de saber que no fundo isso tem muita importância.
Recentemente, tive aquelas decepções amorosas de "inverno". Tem que ter, não é mesmo? Então. O pior é que sempre descubro as coisas em horas muito inesperadas. Aí é aquela correria para transformar em poeira o sentimento que estava prestes a nascer. E para piorar, disseram-me que tenho "Vênus em virgem", ou seja, sou extremamente criterioso quando se trata de relacionamentos. No mundo de hoje é a mesma coisa que dizer "vai ficar sozinho e louco". Meu irmão sabe das coisas.
Profissionalmente falando - isso mais parece aquelas listas de coisas que abordam seu signo, tipo amor, trabalho, sorte, roupa a ser usada etc - acho que estou bem. Na verdade, só me resta achar isso. Gosto mesmo é de saber que trabalho com cultura e que direta ou indiretamente estou contribuindo para que mais pessoas tenham lazer sem gastar até a alma. De certa forma sinto que estou resistindo e contribuindo para a resistência alheia.
Trezentos e sessenta e quatro dias e eu ainda acho que não tenho nada para falar. Mas olha, até que falei/escrevi/pensei bastante, não é mesmo? Pois é, nunca sei o que virá pela frente. Duas linhas, seis parágrafos, um ponto.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
O fio vermelho
No final da noite sou eu e uma dose. Nada mais.
Era uma mente inquieta e insatisfeita. Deslocada no tempo e no espaço. Aos sete anos, sentia um gosto amargo que não vinha da comida. Não tinha noção do tamanho do mundo e nem ao menos sabia que as pessoas iriam morrer. Achava que conhecia o amor e que ele se chamava "Fabiana".
Ainda que o corpo fosse novo, a alma era velha e cansada. Escrevia declarações em pedações de papel, sempre com letras invertidas ou pequenas. O primeiro "eu te amo" foi ilegível. Imperceptível também.
Aonde você está agora, garotinho? No fundo deste copo? Aquecido nesse coração gasto e desconfiado? Cadê você?
Porre nenhum é pior do que aquele frio na barriga que vem sempre que você vê o seu grande amor com outra pessoa. Frio nenhum fere mais a pele do que aquele que surge no instante em que você ouve o "adeus" definitivo. Nunca senti uma dor tão grande no peito, como daquela vez em que presenciei o beijo que não tocava os meus lábios.
Então que se foda você e suas convicções. Hoje, fiz questão de ser "demasiado eu mesmo".
Era uma mente inquieta e insatisfeita. Deslocada no tempo e no espaço. Aos sete anos, sentia um gosto amargo que não vinha da comida. Não tinha noção do tamanho do mundo e nem ao menos sabia que as pessoas iriam morrer. Achava que conhecia o amor e que ele se chamava "Fabiana".
Ainda que o corpo fosse novo, a alma era velha e cansada. Escrevia declarações em pedações de papel, sempre com letras invertidas ou pequenas. O primeiro "eu te amo" foi ilegível. Imperceptível também.
Aonde você está agora, garotinho? No fundo deste copo? Aquecido nesse coração gasto e desconfiado? Cadê você?
Porre nenhum é pior do que aquele frio na barriga que vem sempre que você vê o seu grande amor com outra pessoa. Frio nenhum fere mais a pele do que aquele que surge no instante em que você ouve o "adeus" definitivo. Nunca senti uma dor tão grande no peito, como daquela vez em que presenciei o beijo que não tocava os meus lábios.
Então que se foda você e suas convicções. Hoje, fiz questão de ser "demasiado eu mesmo".
O inverno e seus gravetos
Cortaram minhas asas, pois alegaram que não sabia aproveitar a liberdade que tinha. Tiraram as minhas penas. O motivo? Não era digna da beleza reluzente que elas traziam ao meu ser. Arrancaram meus pés e me condenaram a comer poeira pelo resto da eternidade. Contudo, ensinaram-me o que era vingança. Então, coloquei em prática tudo o que aprendi.
Eu passava os olhos por aquela pilha de livros sobre animais. Ainda não sabia ler, mas admirava com toda a força os traços e cores que a natureza havia utilizado no momento em que criou a fauna. Imaginava o que cada palavra dizia sobre as criaturas fantásticas que a terra gerava... Eu ainda os admiro, confesso.
Naquela noite, fui até os fundos de casa olhar os cavalos. Percebi que estavam inquietos e, sem pensar duas vezes, comecei a cantarolar alguma coisa. Esses animais eram como as asas que sempre quis ter. Com eles, eu era capaz de voar e sentir o vento e o mundo como nunca ninguém havia sentido antes. Eu os amava mais do que a mim mesmo. E um dia a ganância os tirou da minha vida. Ela alegou que eu mal sabia fazer uso do meu tempo livre e, ao invés de procurar conseguir mais bens materiais, eu gastava meu dia cavalgando sem rumo.
A tristeza veio, claro, mas não me rendi. Minha irmã nunca disse uma palavra. Recusou-se a falar desde o nascimento. Deixou os médicos perplexos quando saiu do ventre de minha mãe. Era uma garotinha de olhos vivos e espertos, mas com a boca cerrada. Só que nós conversávamos muito à noite. Ela não precisava de palavras, só tinha que ter seus lápis coloridos e uma folha em branco. Naquele dia, disse-me que eu podia voar mesmo sem cavalos, o que precisava fazer era fechar os olhos e sentir o vento como nunca havia sentido antes.
No jardim, sentei próximo à árvore que minha avó tinha plantado. Era uma tarde quente e de pouca brisa. Esfregava minha mão na terra como se tentasse sentir algo a mais. Sentir algum pulso de vida que viesse das entranhas do solo. As folhas da grande árvore pousaram-se sobre mim. Meu corpo estava coberta por uma outra pele. Eu sentia a tal pulsação. Uma respiração única que entrava em perfeita sintonia com as nuvens que caminham sem pressa pelo céu. A chuva era anunciada e de repente a mão de alguém me puxou. Tirou as folhas que me acolhiam e a voz de trovão disse que não devia me sujar daquele jeito. Que minhas roupas novas não eram dignas de tal imundice trazida por tais folhagens.
O inverno chegou. As casas desapareciam e as pessoas eram como fantasmas. Eu já me conformava com a solidão dos próximos meses e buscava na escrita algum conforto. Certa manhã, acordei e decidi que iria buscar gravetos para fazer uma fogueira e esperar pelo anoitecer. Queria ficar do lado de fora, queria respirar o ar gelado. No meio do caminho percebi que alguém me seguia. Ele tinha o meu tamanho e os meus gravetos nas mãos. Evitei seus olhos por alguns instantes, mas depois percebi que os mesmos tinham um tom de amarelo único. Ele me entregou a madeira e seguimos juntos para o coração do bosque. Lá, contei a ele como haviam arrancado minhas asas e por quais motivos tiraram as folhas que um dia cobriram meu corpo. Sem expressar espanto, contou-me sobre todas as coisas que era obrigado a fazer apenas por ser filho de quem era.
Um abraço e nada mais. O frio se afastou rapidamente. Permiti-me aproveitar tal momento como se fosse o último e de fato foi. Uma mão me puxou pelo braço e então cortou meus pés. Trancou-me em casa e disse que jamais sairia novamente. Falou sobre a vergonha de ser o que eu era e então me privou de congelar para sempre aquele instante. Desde então, optei pelo chão frio do quarto - revestido por uma madeira envelhecida - e a poeira que nasceu da saudade tornou-se minha companheira. O frio e o chão de madeira, o inverno e os gravetos que nos uniram. Seus olhos amarelos voltam durante o verão e eu, que tanto aprendi com a vingança, só lhe ofereci uma doce maçã.
Você me libertou e eu te trouxe o mundo e seus mistérios. Troca justa.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Seek me...
As paredes haviam desabado e não consegui me mover. Da janela do quarto, pude observar o desespero das pessoas e o sangue dos cavaleiros. A ironia surgia como a luz do sol nascente, banhando de ouro a desgraça instaurada. Nesse instante, procurei a paz na cegueira do infinito. Batizei meus olhos com o fogo solar e de rei não sobrou mais nada. Não fiz isso pelo sangue derramada, fui mais egoísta. Fui além da coroa. Fiz isso por você.
Minha vida é normal. Acordo todos os dias o mais cedo possível e tomo conta dos afazeres de casa. O restante da minha família dorme em paz. Não tenho do que reclamar. Minha rotina toma conta das chateações. Ela me sufoca de coisas para fazer e aí evito pensar no mundo e suas complicações. Gosto bastante de desenhar e jogar bola. Meus amigos sempre pedem algum desenho, geralmente, uma caricatura. Estou prestes a terminar o curso na igreja. Conheci Deus e sua história lá. Também ouvi falar do diabo, mas este a gente não precisa dar muita importância.
Nesta semana vamos ter que escolher nossos pares para a festa do "Dia dos Namorados". Os casais vão participar de um concurso de dança e quem ganhar vai poder passear no bosque da cidade com uma cesta de lanche completa. Eu não queria participar, mas sou obrigado. Existem algumas meninas interessantes, mas ainda assim, não sei, parece muito... Não sei, acho que ainda não aprendi a palavra a ser usada.
No dia de definir os casais inventei que estava doente. Mesmo assim não pude evitar o baile. Os que faltaram no dia, automaticamente, formariam pares. Selena era o nome dela. Sua pele parecia feita de neve e seus olhos eram escuros como duas castanhas. Não sorrimos. Faltamos pelo mesmo motivo. Ficamos juntos pelo mesmo motivo.
Pouco nos falamos até o dia do concurso. Ensaiamos alguns passos e só. Até tentei puxar assunto, mas parecia que meu corpo e mente estavam rejeitando algo. Olhava para Selena e só pensava em dizer "Vamos fugir e deixar tudo isso. Vamos ver o mar e dançar para as estrelas apenas". Nunca tinha pensado nessas coisas antes, nem ao menos cogitado desaparecer. Não tinha do que reclamar. Agora tenho.
Agora, minha rotina me matava. Selena estava um doce comigo, pois sua insatisfação inicial havia se tornado um bem querer imenso. Ela entendeu o que eu sentia. Faltamos pelo mesmo motivo, e agora somos amigos pelo mesmo motivo. Ela me contou sobre Julia.
"Passei os meus dias passando tinta branca naquela tela vazia. O contorno não existia pois meus olhos se fechavam para os limites daquele espaço ausente de tons fortes. Minhas mãos se perdiam como crianças que haviam esquecido o caminho de casa. Só ouvia os gritos dos meus pais dizendo que eu ia enlouquecer se continuasse com aquela tela morta. Eu já estava morta... Julia tinha sido separada de mim. Quando meus pais nos viram juntas naquela manhã de primavera, o sopro do inverno matou todas as flores. A última gota de néctar secou. Os lábios de Julia não tinham mais contorno e a cor vermelha havia sido roubada. Certo dia, abri a caixa de correio e vi um pacote com o meu nome. Era um conjunto de tintas. Muitas cores, todas nomeadas. E no lugar da cor do amor estava escrito "Julia". O vermelho só nosso. Nesse dia, resolvi faltar na escola e passar o dia pintando Julias e mais Julias no teto do meu quarto".
Selena conseguiu ultrapassar as barreiras do meu ser. Ela se viu no reflexo de uma vida patética que pertencia àquele garotinho introspectivo. Viu-me, como nunca ninguém viu. Eu lhe contei sobre Joshua.
"Estava prestes a terminar o curso na igreja... Foi quando conheci Joshua. Seus olhos tinham uma cor diferente. Pareciam amarelados como raio de sol. Queimaram os meus e apelei para a cegueira naquele instante. Eu o observava pela janela, enquanto outros garotos apenas se estapeavam e jogavam terra uns nos outros. Ele ficava em silêncio e percebi que aos poucos as paredes que protegiam o meu coração caiam sem parar. Minha vida é normal. Minha vida era normal. Era condicionada. Era anormal para o meu espírito. Resolvi estudar junto dele. Conheci Deus e sua história enquanto Joshua acariciava meus cabelos. E a família que sempre dormia em paz acordou e veio me falar sobre o diabo. Eles pareciam dar muita importância para ele. Disseram que Joshua era um falso desgraçado, que não merecia viver e que eu estava contaminado por uma doença terrível. E enquanto bebia as lágrimas salgadas que escorriam de seus olhos,encontrei a palavra que até então não havia aprendido: superficial. Tudo era superficial até encontrá-lo. Ele não precisava fazer muito, não me prometia o céu nem mesmo uma vida de luxo. Não me dizia que ia durar para sempre, pois era no presente que eu afogava o tempo e enchia os pulmões de vida. Resolvi faltar na escola para passar o dia olhando nos olhos de Joshua. Batizei meus olhos com o fogo solar e de rei não sobrou mais nada. Não fiz isso pela mágoa acumulada, fui correto. Fui além da hipocrisia. Fiz isso por nós."
sábado, 6 de agosto de 2011
Ponte
O asfalto nunca esteve tão perto do meu rosto. Agora, vejo a poeira deixada por milhares de pessoas que nem conheço. Percebe? É como ser solitário num planeta quase lotado. O vento passa e leva tudo.
A semana passou num ritmo próprio. Não fui à faculdade. Não tinha muito sentido e, quando decidi ir, passei o horário de aula bebendo com um velho amigo. A conversa tinha gosto de cigarro e conhaque. Tive certeza no momento de dizer "adeus". Talvez, "adeus" não, mas "cuide-se, caralho".
Resolvi queimar os últimos instantes de liberdade tentando dar espaço ao "amor". Maior burrada de todas. Por que eu não acerto? Sei lá, acho que no fundo gosto mais de mim e não consigo fazer outra coisa, senão aquilo que quero e acho que devo fazer. Comportamento intfantil ou de adolescente inconsequente. Mas o que posso fazer? Recuso-me a aceitar uma vida de covardia e babaquices. Sim, covarde e panaca aquele que vive em função da autoridade dissimulada dessa "sociedade do espetáculo".
Mande-me fazer algo que irá ouvir um "não". Peça, e aí sim poderemos conversar. Ninguém tem o direito de mandar, ordenar. É por isso que as pessoas são assim, relaxadas. Porque sabem que no fundo sempre haverá um frustrado para lhes dizer o que fazer. Experimente libertá-las. Talvez, elas mesmas sejam capazes de traçar seus limites. Caso não sejam, vão fazer questão de resolver logo a situação. Provavelmente, vão morrer. O que não deixa de ser natural também.
Foda-se.
A semana passou num ritmo próprio. Não fui à faculdade. Não tinha muito sentido e, quando decidi ir, passei o horário de aula bebendo com um velho amigo. A conversa tinha gosto de cigarro e conhaque. Tive certeza no momento de dizer "adeus". Talvez, "adeus" não, mas "cuide-se, caralho".
Resolvi queimar os últimos instantes de liberdade tentando dar espaço ao "amor". Maior burrada de todas. Por que eu não acerto? Sei lá, acho que no fundo gosto mais de mim e não consigo fazer outra coisa, senão aquilo que quero e acho que devo fazer. Comportamento intfantil ou de adolescente inconsequente. Mas o que posso fazer? Recuso-me a aceitar uma vida de covardia e babaquices. Sim, covarde e panaca aquele que vive em função da autoridade dissimulada dessa "sociedade do espetáculo".
Mande-me fazer algo que irá ouvir um "não". Peça, e aí sim poderemos conversar. Ninguém tem o direito de mandar, ordenar. É por isso que as pessoas são assim, relaxadas. Porque sabem que no fundo sempre haverá um frustrado para lhes dizer o que fazer. Experimente libertá-las. Talvez, elas mesmas sejam capazes de traçar seus limites. Caso não sejam, vão fazer questão de resolver logo a situação. Provavelmente, vão morrer. O que não deixa de ser natural também.
Foda-se.
terça-feira, 2 de agosto de 2011
Asas
Eu não quero acertar na mosca.
Não quero começar já pensando no fim.
Não quero escrever seu nome em uma aliança (eu quero, mas não exatamente assim)
Não quero te prender
Não quero te perder
Não quero não te ter
mas quero te ter
Não quero te prejudicar
mas quero te amar
logo, quero te provocar
pois quero te amar
Não quero te privar
mas quero me libertar
tudo o que eu quero é ter um beijo
para compensar as palavras desnecessárias
Tudo o que eu quis, eu tive.
E depois?
Não quero idealizar.
Sentir é mais do que raciocinar.
Aprendi, sem querer.
Não quero começar já pensando no fim.
Não quero escrever seu nome em uma aliança (eu quero, mas não exatamente assim)
Não quero te prender
Não quero te perder
Não quero não te ter
mas quero te ter
Não quero te prejudicar
mas quero te amar
logo, quero te provocar
pois quero te amar
Não quero te privar
mas quero me libertar
tudo o que eu quero é ter um beijo
para compensar as palavras desnecessárias
Tudo o que eu quis, eu tive.
E depois?
Não quero idealizar.
Sentir é mais do que raciocinar.
Aprendi, sem querer.
sábado, 23 de julho de 2011
Secaram
Mundo, pare por um instante e me ouça. Ou melhor, não quero que me ouça, quero que se esforce para me compreender de uma vez por todas.
Era uma vez...
Nasci. Em silêncio. Minha mãe esperava um choro. Compreensível. Ela queria um parto "normal". A medicina dizia que sim, eu não dizia nada. Esse era o problema. Já nasci em silêncio e meu coração desistia de lutar antes mesmo de ser banhado pela luz de um novo mundo. Nasci cansado de viver.
Enquanto crescia, mais silêncio. "Meus pais são meus melhores amigos". Não, eles eram apenas meus pais. E que esse título seja suficiente. Não toleraria cobranças. Havia amor, não nego e nem tenho motivos para negar. Mas era um amor invisível que se fazia nos detalhes. Não mudei muito, devo admitir.
(In)Felizes para sempre. Fim.
Pense num grande empresário que conseguiu criar seu legado com esforço e recebeu dúzias e mais dúzias de palmas calorosas... Agora pense nesse mesmo individuo vendo que suas crias têm vontade própria. O que ele (você) faria? De repente, pegaria uma caneta e então listaria todas as coisas que seus filhos deveriam deixar de fazer e, principalmente, daria ênfase para as punições caso algum anarquista tentassse se destacar. Pois bem, ou você apelaria para a Constituição ou para a Bíblia Sagrada. Dois elmentos que mudam de nome em outros países e culturas, mas nunca de essência e propósito.
De repente, esse filho(a) decide questionar o poder absoluto. E aí, os dias dourados desaparecem e as asas que antes anunciavam o amanhcecer, hoje batem durante a noite, como se a escuridão e o fim do dia fossem algo amaldiçoado. De repente, o sorriso bonito e o olhar sagaz se tornassem o maior dos pecados. O poder não deve ser questionado. E esse único inconformado trilhou sua própria ruína. Queria, a qualquer custo, aquilo que mais detestava: o poder absoluto. Buscou sua própria morte. Buscou seu fim. E quem deve julgá-lo?
Quando você sente aquela dor na boca do estômago que gela a alma e te faz franzir a testa, passa a entender que nem todos querem viver assim para sempre. Acorda e diz que não quer dar a volta por cima, que prefere parar e chorar. Admite que está ferido(a) e nada mais faz tanto sentido. Busca uma forma de evitar que os outros possam perceber seus braços machucados, não por vergonha, mas porque quer apenas evitar longos discursos de pessoas que são tão covardes ao ponto de dizer que " é errado se sentir assim".
Quantas vezes eu mesmo não acordei com vontade de jogar ao vento tudo o que conquistei? E quantas vezes me disseram que eu era errado e que isso ia passar? Tentavam tirar de mim o direito de errar, não por que se preocupavam de fato, mas porque temiam o momento em que minhas lágrimas escorressem na mesa de jantar ou naquela festa em que tudo deveria dar certo. Evitavam-me, enquanto demonstravam acolhimento. Mas nunca se perguntaram se eu realmente queria contar algo. Eu nunca fiz questão e quanto fiz, escrevi ao invés de telefonar.
Ótimo que muitas pessoas consigam superar suas frustrações amorosas. Parabéns para aqueles que têm o dom de não transparecer as fraquezas. Para o resto do mundo, vocês são exemplares. Quase como totens adorados. Mas para mim... Talvez eu veja além das talhas na madeira. Eu já fui assim. Uma muralha intransponível. Porém, certo dia percebi que um fio de água escorria pelas pedras rústicas. Esse fio me conduziu até o oceano onde meu coração dançava junto com as ondas. Subia e descia, sempre fiel à maré. Nem por isso me tornei um incapaz. Muito pelo contrário. A muralha passou a ser mais forte ainda. Contava, agora, com a água limpa para revigorar sua armadura cansada de tantas batalhas.
Você pode se drogar e chorar durante toda a noite. Ou pode rir da desgraça que assola sua mente. Pode se drogar e ligar para a pessoa amada - na pior hora - e dizer as melhores palavras. Também pode se drogar e evitar os amigos, ligar o som e escutar as velhas músicas. Pode chegar na beira do precipício e rezar (algo que nunca fez durante toda a vida) ou simplesmente acender um cigarro e curtir a paisagem. Pode correr pela rua às 6h da manhã, enquanto os outros dormem. E, no mieo do caminho, para e percebe o quão precioso é aquele momento. Pode amar seu melhor amigo e odiar sua namorada. Você pode, entende? O que te mata é a voz de alguém que nunca lhe abraçou a dizer: "pare, isso é errado, o que vão pensar de você?" O que você vai pensar de si mesmo se parar? Já pensou? Então.
Cante as canções mais bontas. Saberemos para quem é. Escreva suas poesias e molhe a ponta da caneta com lágrimas. Elas sim sabem sobre sua essência. Desenhe até seus pulsos gritarem, eles sim conhecem sua força. Escreva e dance conforme as frases.
Escrever...
“A razão foi abençoada com a fidelidade da língua e da boca. Toda vez em que ela precisa se pronunciar ela procura essas duas parceiras e então se faz entender. Mas e o coração? Preso na caixa torácica, enjaulado como fera perigosa e indomável. Selvagem e sem dizer uma palavra. O mais invejado de todos.
Pois bem. No seu silêncio ele encontrou dois outros 'mudos': os olhos e as mãos. O coração pulsa mais forte quanto o olhar tímido capta aquela figura perfeita que foi roubada do cotidiano. Ele bate mais rápido, enquanto as mãos pedem licença para descrever as curvas irregulares do corpo, modelado com a melhor argila. Ele chora quando os olhos já não mais conseguem enxergar o sorriso do outro lado. Ele sofre quando aquelas mãos dizem 'adeus' lentamente. O coração e seus amigos, mudos e tão expressivos. Ele diz tanto. E para não se esquecer de todas as vivências, faz o último pedido: ‘Mãos, por favor, escrevam enquanto eu bater’. Obrigado. Mas por livre e espontânea vontade.
Aprender
Hoje, vejo claramente que todas as certezas devem ser bombardeadas por questionamentos. Devem ser desafiadas até que consigam provar sua legitimidade. E quando issi for provado, que o mundo possa parir outro espírito inquieto para desafiá-las. Mas desse modo, não teríamos algo para nos apoiarmos. Exatamente.
Seus amigos podem lhe dizer as melhores frases e fazerem os melhores convites que ainda assim, a chateação só vai partir quando VOCÊ decidir expulsá-la. A reabilitação só faz sentido quando é VOCÊ quem procura por ajuda. A garrafa só se torna algo ruim e destrutivo quando VOCÊ percebe que as lágrimas estão mais densas. Enquanto não chegar a tais conclusões, o que lhe disserem irá soar como piedade. E isso, meu amigo(a) é algo que TODOS repudiam. Isso sim é uma certeza. E quem vai questioná-la? VOCÊ?
É o amor. Ele é o culpado. Ele que nos faz humanos demais. O amor é algo exclusivo da nossa espécie. Não por que raciocinamos e somos capazes de pensar e criar novos pensamentos. Mas porque é ele quem nos faz viver todos os dias. Se há ódio é porque antes houve amor. Se você está triste é porque o amor passou pela sua vida e ficou pouco tempo. Se está feliz, é porque ele precisa de um novo lar. Mas como tudo passa, aproveite todas as noites em claro e o abrace bem forte. É o amor. Entendeu, mundo?
Hoje, uma das minhas lágrimas secou por conta própria.
Era uma vez...
Nasci. Em silêncio. Minha mãe esperava um choro. Compreensível. Ela queria um parto "normal". A medicina dizia que sim, eu não dizia nada. Esse era o problema. Já nasci em silêncio e meu coração desistia de lutar antes mesmo de ser banhado pela luz de um novo mundo. Nasci cansado de viver.
Enquanto crescia, mais silêncio. "Meus pais são meus melhores amigos". Não, eles eram apenas meus pais. E que esse título seja suficiente. Não toleraria cobranças. Havia amor, não nego e nem tenho motivos para negar. Mas era um amor invisível que se fazia nos detalhes. Não mudei muito, devo admitir.
(In)Felizes para sempre. Fim.
Pense num grande empresário que conseguiu criar seu legado com esforço e recebeu dúzias e mais dúzias de palmas calorosas... Agora pense nesse mesmo individuo vendo que suas crias têm vontade própria. O que ele (você) faria? De repente, pegaria uma caneta e então listaria todas as coisas que seus filhos deveriam deixar de fazer e, principalmente, daria ênfase para as punições caso algum anarquista tentassse se destacar. Pois bem, ou você apelaria para a Constituição ou para a Bíblia Sagrada. Dois elmentos que mudam de nome em outros países e culturas, mas nunca de essência e propósito.
De repente, esse filho(a) decide questionar o poder absoluto. E aí, os dias dourados desaparecem e as asas que antes anunciavam o amanhcecer, hoje batem durante a noite, como se a escuridão e o fim do dia fossem algo amaldiçoado. De repente, o sorriso bonito e o olhar sagaz se tornassem o maior dos pecados. O poder não deve ser questionado. E esse único inconformado trilhou sua própria ruína. Queria, a qualquer custo, aquilo que mais detestava: o poder absoluto. Buscou sua própria morte. Buscou seu fim. E quem deve julgá-lo?
Quando você sente aquela dor na boca do estômago que gela a alma e te faz franzir a testa, passa a entender que nem todos querem viver assim para sempre. Acorda e diz que não quer dar a volta por cima, que prefere parar e chorar. Admite que está ferido(a) e nada mais faz tanto sentido. Busca uma forma de evitar que os outros possam perceber seus braços machucados, não por vergonha, mas porque quer apenas evitar longos discursos de pessoas que são tão covardes ao ponto de dizer que " é errado se sentir assim".
Quantas vezes eu mesmo não acordei com vontade de jogar ao vento tudo o que conquistei? E quantas vezes me disseram que eu era errado e que isso ia passar? Tentavam tirar de mim o direito de errar, não por que se preocupavam de fato, mas porque temiam o momento em que minhas lágrimas escorressem na mesa de jantar ou naquela festa em que tudo deveria dar certo. Evitavam-me, enquanto demonstravam acolhimento. Mas nunca se perguntaram se eu realmente queria contar algo. Eu nunca fiz questão e quanto fiz, escrevi ao invés de telefonar.
Ótimo que muitas pessoas consigam superar suas frustrações amorosas. Parabéns para aqueles que têm o dom de não transparecer as fraquezas. Para o resto do mundo, vocês são exemplares. Quase como totens adorados. Mas para mim... Talvez eu veja além das talhas na madeira. Eu já fui assim. Uma muralha intransponível. Porém, certo dia percebi que um fio de água escorria pelas pedras rústicas. Esse fio me conduziu até o oceano onde meu coração dançava junto com as ondas. Subia e descia, sempre fiel à maré. Nem por isso me tornei um incapaz. Muito pelo contrário. A muralha passou a ser mais forte ainda. Contava, agora, com a água limpa para revigorar sua armadura cansada de tantas batalhas.
Você pode se drogar e chorar durante toda a noite. Ou pode rir da desgraça que assola sua mente. Pode se drogar e ligar para a pessoa amada - na pior hora - e dizer as melhores palavras. Também pode se drogar e evitar os amigos, ligar o som e escutar as velhas músicas. Pode chegar na beira do precipício e rezar (algo que nunca fez durante toda a vida) ou simplesmente acender um cigarro e curtir a paisagem. Pode correr pela rua às 6h da manhã, enquanto os outros dormem. E, no mieo do caminho, para e percebe o quão precioso é aquele momento. Pode amar seu melhor amigo e odiar sua namorada. Você pode, entende? O que te mata é a voz de alguém que nunca lhe abraçou a dizer: "pare, isso é errado, o que vão pensar de você?" O que você vai pensar de si mesmo se parar? Já pensou? Então.
Cante as canções mais bontas. Saberemos para quem é. Escreva suas poesias e molhe a ponta da caneta com lágrimas. Elas sim sabem sobre sua essência. Desenhe até seus pulsos gritarem, eles sim conhecem sua força. Escreva e dance conforme as frases.
Escrever...
“A razão foi abençoada com a fidelidade da língua e da boca. Toda vez em que ela precisa se pronunciar ela procura essas duas parceiras e então se faz entender. Mas e o coração? Preso na caixa torácica, enjaulado como fera perigosa e indomável. Selvagem e sem dizer uma palavra. O mais invejado de todos.
Pois bem. No seu silêncio ele encontrou dois outros 'mudos': os olhos e as mãos. O coração pulsa mais forte quanto o olhar tímido capta aquela figura perfeita que foi roubada do cotidiano. Ele bate mais rápido, enquanto as mãos pedem licença para descrever as curvas irregulares do corpo, modelado com a melhor argila. Ele chora quando os olhos já não mais conseguem enxergar o sorriso do outro lado. Ele sofre quando aquelas mãos dizem 'adeus' lentamente. O coração e seus amigos, mudos e tão expressivos. Ele diz tanto. E para não se esquecer de todas as vivências, faz o último pedido: ‘Mãos, por favor, escrevam enquanto eu bater’. Obrigado. Mas por livre e espontânea vontade.
Aprender
Hoje, vejo claramente que todas as certezas devem ser bombardeadas por questionamentos. Devem ser desafiadas até que consigam provar sua legitimidade. E quando issi for provado, que o mundo possa parir outro espírito inquieto para desafiá-las. Mas desse modo, não teríamos algo para nos apoiarmos. Exatamente.
Seus amigos podem lhe dizer as melhores frases e fazerem os melhores convites que ainda assim, a chateação só vai partir quando VOCÊ decidir expulsá-la. A reabilitação só faz sentido quando é VOCÊ quem procura por ajuda. A garrafa só se torna algo ruim e destrutivo quando VOCÊ percebe que as lágrimas estão mais densas. Enquanto não chegar a tais conclusões, o que lhe disserem irá soar como piedade. E isso, meu amigo(a) é algo que TODOS repudiam. Isso sim é uma certeza. E quem vai questioná-la? VOCÊ?
É o amor. Ele é o culpado. Ele que nos faz humanos demais. O amor é algo exclusivo da nossa espécie. Não por que raciocinamos e somos capazes de pensar e criar novos pensamentos. Mas porque é ele quem nos faz viver todos os dias. Se há ódio é porque antes houve amor. Se você está triste é porque o amor passou pela sua vida e ficou pouco tempo. Se está feliz, é porque ele precisa de um novo lar. Mas como tudo passa, aproveite todas as noites em claro e o abrace bem forte. É o amor. Entendeu, mundo?
Hoje, uma das minhas lágrimas secou por conta própria.
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Esta é a hora em que...
Eu abandono a mim mesmo e faço questão de redesenhar o mundo sem os traços de Deus. É quando reclamo meu direito de herdeiro do paraíso e guardo um lugar para nós. O momento exato em que consigo enxergar o que há de semelhante entre o céu e o inferno.
Faço um mar só para nós, onde as conchas cantam todas as canções que fazem nossos corações selvagens pulsarem... Nele, busco a profundidade do "sentir",então sem nome, faço o coração adoecer e o ensino a respeitar a paciência. No instante em que o infinito foi finito e no canto das extremidades não regulares foi regular, encontrei seu sorriso solitário e o fiz companhia. Eram dois sorrisos buscando um terceiro rosto para cortar. Eu sempre apostei na nossa falta de linearidade. Quase como um corte na face da modelo perfeita.
Empatia te faz entender. Se parece tudo muito confuso, use-a. Ponha-se no meu lugar e então faça questão de compreender. É como rebobinar uma fita dez vezes para decorar todas as falas... Sabe?
O corpo mal educado dança conforme a sua própria música. Canta a letra que lhe convém e então seduz outros corpos incapazes de trilhar o que lhes foi prescrito. Confortável mesmo é deitar na cama do outro, desarrumá-la e então acordar como se nada tivesse acontecido. Confortável é negar o beijo como se ele não tivesse acontecido. Mas veja, minhas palavras não entregam aquele momento único que vivemos. Quem o abriga é a vaga memória do dia no qual o corpo e a mente finalmente encontraram uma trégua. O que importa mesmo é saber que você estava lá. E que nossas almas se conectaram.
Quantas vezes tomei a guerra como filha única e matei qualquer pretendente que tentasse mudar a história? Ou melhor, a nossa história. Como pai, fui cego e manipulado. Preferi honrar algo invisível do que manter em vigor o que me era tangível. Todas as religiões me perdoaram, afinal sou pai. Mereço o sol. Mereço o direito de errar e não pedir desculpas. Meus filhos nunca ouviram isso e me orgulho de tê-los educado assim. Só a lua conhece a verdade.
Enquanto o dia encanta as ações, somente à noite é que encontramos espaço para exercer o lado "humano". Se os dedos dançam através das frases postadas em um Facebook, o coração chora insatisfeito. Se as risadas são esteticamente bem digitadas, o sorriso desaparece em instantes. Mas viver nessa frustração crônica não é como declarar a própria pena de morte. Através de códigos binários, todos somos iguais pelo zero e um, mas diferentes pelo uso exagerado da repetição. Se Apolo deu certo como deus do sol, Éris não precisa abandonar seu pomar dourado no intuito de ser convidada para a festa de Páris e sua amada. Concorda?
Vivemos hoje o que foi negado e abominado no passado. Vivemos hoje o que tínhamos que ter vivido ontem. Veja, não adianta, a história precisa ser escrita. Os leitores de hoje são os censurados de ontem. Os escritores de hoje nada mais são do que os inconformados de ontem.
O álcool escorre pela mesa assim como o sangue escorre pelo braço. Se a fuga não está nos amigos e família e nem mesmo nas toxinas, então que se faça útil o tempo em que estive isolado, escutando aos mesmos discos, milhares de vezes. Que eu mesmo não seja tão fraco ao ponto de eliminar todas as chances de fugir. O que procuramos todos os dias são as saídas. São os momentos em que alguém se responsabiliza pelos nossos erros. E se não houver ninguém, que pelo menos nos levem a sério. Pois se hoje somos os drogados e bêbados derrotados, amanhã seremos os conselheiros que ensinam o caminho para fora da escuridão. Por mais perdido que eu pareça ser, no fundo, sou reflexo daquilo que você sonha todos os dias em ser. Livre, para errar e acertar. Nem tudo se resume no "vencer".
ERROS DE PORTUGUÊS EXISTEM.
Faço um mar só para nós, onde as conchas cantam todas as canções que fazem nossos corações selvagens pulsarem... Nele, busco a profundidade do "sentir",então sem nome, faço o coração adoecer e o ensino a respeitar a paciência. No instante em que o infinito foi finito e no canto das extremidades não regulares foi regular, encontrei seu sorriso solitário e o fiz companhia. Eram dois sorrisos buscando um terceiro rosto para cortar. Eu sempre apostei na nossa falta de linearidade. Quase como um corte na face da modelo perfeita.
Empatia te faz entender. Se parece tudo muito confuso, use-a. Ponha-se no meu lugar e então faça questão de compreender. É como rebobinar uma fita dez vezes para decorar todas as falas... Sabe?
O corpo mal educado dança conforme a sua própria música. Canta a letra que lhe convém e então seduz outros corpos incapazes de trilhar o que lhes foi prescrito. Confortável mesmo é deitar na cama do outro, desarrumá-la e então acordar como se nada tivesse acontecido. Confortável é negar o beijo como se ele não tivesse acontecido. Mas veja, minhas palavras não entregam aquele momento único que vivemos. Quem o abriga é a vaga memória do dia no qual o corpo e a mente finalmente encontraram uma trégua. O que importa mesmo é saber que você estava lá. E que nossas almas se conectaram.
Quantas vezes tomei a guerra como filha única e matei qualquer pretendente que tentasse mudar a história? Ou melhor, a nossa história. Como pai, fui cego e manipulado. Preferi honrar algo invisível do que manter em vigor o que me era tangível. Todas as religiões me perdoaram, afinal sou pai. Mereço o sol. Mereço o direito de errar e não pedir desculpas. Meus filhos nunca ouviram isso e me orgulho de tê-los educado assim. Só a lua conhece a verdade.
Enquanto o dia encanta as ações, somente à noite é que encontramos espaço para exercer o lado "humano". Se os dedos dançam através das frases postadas em um Facebook, o coração chora insatisfeito. Se as risadas são esteticamente bem digitadas, o sorriso desaparece em instantes. Mas viver nessa frustração crônica não é como declarar a própria pena de morte. Através de códigos binários, todos somos iguais pelo zero e um, mas diferentes pelo uso exagerado da repetição. Se Apolo deu certo como deus do sol, Éris não precisa abandonar seu pomar dourado no intuito de ser convidada para a festa de Páris e sua amada. Concorda?
Vivemos hoje o que foi negado e abominado no passado. Vivemos hoje o que tínhamos que ter vivido ontem. Veja, não adianta, a história precisa ser escrita. Os leitores de hoje são os censurados de ontem. Os escritores de hoje nada mais são do que os inconformados de ontem.
O álcool escorre pela mesa assim como o sangue escorre pelo braço. Se a fuga não está nos amigos e família e nem mesmo nas toxinas, então que se faça útil o tempo em que estive isolado, escutando aos mesmos discos, milhares de vezes. Que eu mesmo não seja tão fraco ao ponto de eliminar todas as chances de fugir. O que procuramos todos os dias são as saídas. São os momentos em que alguém se responsabiliza pelos nossos erros. E se não houver ninguém, que pelo menos nos levem a sério. Pois se hoje somos os drogados e bêbados derrotados, amanhã seremos os conselheiros que ensinam o caminho para fora da escuridão. Por mais perdido que eu pareça ser, no fundo, sou reflexo daquilo que você sonha todos os dias em ser. Livre, para errar e acertar. Nem tudo se resume no "vencer".
ERROS DE PORTUGUÊS EXISTEM.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Além da cegueira
Controlar a raiva... Segurar o choro... Forçar um sorriso... Apertar a mão com pouca força... E quando só nos resta sentir? Nem sempre conseguimos censurar o que há de pior/melhor em nossa essência.
Sempre tive fortes ondas de raiva que destruíam os castelos de areia feitos pela razão. Não me importava com a complexidade das paredes ou os detalhes na escadaria. Era areia e devia ser derrubada. Devia voltar a sua forma homogênea e sem definição. Sem razão, sem pontas, sem forma. É isso, a raiva quer isso de mim. Quer que eu não me reconheça e apenas dissolva o que sobrou. Poeira. Fragmentos. Restos de restos.
Mas de repente, as ondas recuaram e então pude enxergar além do óbvio. Pude perceber que a raiva, tão poderosa, se traiu. Ao invés de me cegar e não permitir que visse a simplicidade das coisas, me ajudou a encontrar um ponto de canalização. E qual foi este ponto? O fato de olhar para mim mesmo e perceber que não sou eu o perdido. Não sou eu quem conta grãos no litoral, como se buscasse a si mesmo. Tão pequeno.
Basta saber lidar com o mar e saber que ele está cheio de possibilidades. Um dia a maré sobe, no outro...
Sempre tive fortes ondas de raiva que destruíam os castelos de areia feitos pela razão. Não me importava com a complexidade das paredes ou os detalhes na escadaria. Era areia e devia ser derrubada. Devia voltar a sua forma homogênea e sem definição. Sem razão, sem pontas, sem forma. É isso, a raiva quer isso de mim. Quer que eu não me reconheça e apenas dissolva o que sobrou. Poeira. Fragmentos. Restos de restos.
Mas de repente, as ondas recuaram e então pude enxergar além do óbvio. Pude perceber que a raiva, tão poderosa, se traiu. Ao invés de me cegar e não permitir que visse a simplicidade das coisas, me ajudou a encontrar um ponto de canalização. E qual foi este ponto? O fato de olhar para mim mesmo e perceber que não sou eu o perdido. Não sou eu quem conta grãos no litoral, como se buscasse a si mesmo. Tão pequeno.
Basta saber lidar com o mar e saber que ele está cheio de possibilidades. Um dia a maré sobe, no outro...
quarta-feira, 15 de junho de 2011
No peito, o universo
As palavras estão acabando. E o entendimento nunca chega. Sem compreensão sobre minha própria existência, passo a ter dificuldade em aceitar o fato de que me considero apenas um fragmento perdido no espelho estilhaçado. Me recuso, e essa é a minha doença crônica. Recusar.
Esse universo que tomou lugar do apertado coração é grande demais. Não é vazio, pois sempre captura algo perdido com sua gravidade peculiar. Há sempre uma estrela que traz esperança e a mata segundos depois. Sua luz já está morta. Estrelas brilham mesmo depois de mortas. E ainda assim, me encanto com elas. Em outros instantes, tenho vontade de fazer parte de algum mundo particular. Ser presença exclusiva em terras que me recebam com os braços abertos e suas veias expostas. Como rios, me vejo envolvido pelas águas seguras de um amor simples e natural. Mas o meu peito é o universo, não posso fazer parte de algo em especial, pois dou o todo em que todos depositam os problemas de seus "universos particulares". Eu captalizo as vibrações e tenho a missão de levá-las para bem longe desses planetas que, mesmo pequenos e turbulentos, dão cor à imensidão escura que sustenta meu ser.
Tais palavras não refletem uma tristeza profunda e fúnebre. Abandonei os estereótipos em torno de termos como "escuridão", "vazio", "silêncio". Ao lidar com estes elementos, percebi que é possível se adaptar e, principalmente, ouvir-se, ver-se e completar-se. Meu peito e seu universo em constante expansão cobram muito da mente. Cobram do corpo, cobram de tudo. Sugam. E eu vivo apenas para alimetá-los.
Um universo... gosto assim. Um coração é pouco para tudo o que sinto.
Esse universo que tomou lugar do apertado coração é grande demais. Não é vazio, pois sempre captura algo perdido com sua gravidade peculiar. Há sempre uma estrela que traz esperança e a mata segundos depois. Sua luz já está morta. Estrelas brilham mesmo depois de mortas. E ainda assim, me encanto com elas. Em outros instantes, tenho vontade de fazer parte de algum mundo particular. Ser presença exclusiva em terras que me recebam com os braços abertos e suas veias expostas. Como rios, me vejo envolvido pelas águas seguras de um amor simples e natural. Mas o meu peito é o universo, não posso fazer parte de algo em especial, pois dou o todo em que todos depositam os problemas de seus "universos particulares". Eu captalizo as vibrações e tenho a missão de levá-las para bem longe desses planetas que, mesmo pequenos e turbulentos, dão cor à imensidão escura que sustenta meu ser.
Tais palavras não refletem uma tristeza profunda e fúnebre. Abandonei os estereótipos em torno de termos como "escuridão", "vazio", "silêncio". Ao lidar com estes elementos, percebi que é possível se adaptar e, principalmente, ouvir-se, ver-se e completar-se. Meu peito e seu universo em constante expansão cobram muito da mente. Cobram do corpo, cobram de tudo. Sugam. E eu vivo apenas para alimetá-los.
Um universo... gosto assim. Um coração é pouco para tudo o que sinto.
terça-feira, 7 de junho de 2011
Origens
"No começo eu não percebia. Elas ficavam rindo de longe. Depois de alguns meses, descobri que era por causa do meu peso. Evitava as aulas de educação física. Evitava usar blusas que mostrassem meus braços. Eu evitava a mim mesma, todos os dias.
Não era sozinha por completo. Tinha minhas amigas e amigos. Com eles, meu coração se enchia de alegria. Eu podia ser o que sou, rir e chorar como qualquer outra pessoa. Nunca me senti mal de verdade por ser assim. Para mim, é normal. E o que é anormal? Me pergunto todos os dias. Talvez, quando encontrar a resposta, pare de me importar com o que os outros dizem. Porque eles falam sem ter levantado tal questão a respeito si mesmos.
Me apaixonei muitas vezes. Tudo em silêncio. Só quem ouvia meus pensamentos era o coração."
___
"Ela tinha os olhos mais lindos. Eram verdes. Minha cor favorita. Fiz questão de aprender a "língua" dela, para poder elogiar aquele par de esmeraldas. Mas ela nunca quis aprender a ler meus sinais... Gostei muito dela. Tudo em silêncio".
_____
"A voz dele acalmava meu espírito. Nunca vi um rosto. Nunca vi o mundo. Nasci no escuro e minha conexão com o mundo exterior se fazia pelo silêncio. Tudo em silêncio. Todos os dias nos encontrávamos e a conversa fluía como um rio selvagem. Não tinha um caminho certo. Era possível falar de tudo, sem que os olhos julgassem o que era certo ou errado.
Ao tocar minhas mãos, ele me fez sentir as batidas fortes do coração. Ao me beijar, provou que a respiração pode se tornar algo mais forte do que qualquer frase. Nessa hora, percebi que sentir é bem melhor do que ver. Tudo em silêncio."
____
"Nós duas caminhávamos pelo parque quando avistamos aquele pequeno cão. Estava faminto e com as costelas tentando fugir do corpo. Por alguns segundos olhamos seus olhos e depois nos olhamos. Tudo em silêncio. Se o mundo nos privava do direito de ter um filho, a mãe natureza nos dava a chance de formar uma família. A nossa família.
Ali nascia Joshua, nosso primeiro filho. O amor é assim".
_____
"Fomos ao cinema e por alguns segundos tive o que tanto quis. A sensação de pertencer. Nos pequenos gestos senti que podia descansar meu corpo e ser envolvido por braços que me protegessem. Eu que tanto lutei sozinho, percebi que batalha nenhuma tem valor se ao vencer não houver um amor à espera. Tudo em silêncio. Observei quando você se foi, esperando por reticências..."
_____
Não era sozinha por completo. Tinha minhas amigas e amigos. Com eles, meu coração se enchia de alegria. Eu podia ser o que sou, rir e chorar como qualquer outra pessoa. Nunca me senti mal de verdade por ser assim. Para mim, é normal. E o que é anormal? Me pergunto todos os dias. Talvez, quando encontrar a resposta, pare de me importar com o que os outros dizem. Porque eles falam sem ter levantado tal questão a respeito si mesmos.
Me apaixonei muitas vezes. Tudo em silêncio. Só quem ouvia meus pensamentos era o coração."
___
"Ela tinha os olhos mais lindos. Eram verdes. Minha cor favorita. Fiz questão de aprender a "língua" dela, para poder elogiar aquele par de esmeraldas. Mas ela nunca quis aprender a ler meus sinais... Gostei muito dela. Tudo em silêncio".
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"A voz dele acalmava meu espírito. Nunca vi um rosto. Nunca vi o mundo. Nasci no escuro e minha conexão com o mundo exterior se fazia pelo silêncio. Tudo em silêncio. Todos os dias nos encontrávamos e a conversa fluía como um rio selvagem. Não tinha um caminho certo. Era possível falar de tudo, sem que os olhos julgassem o que era certo ou errado.
Ao tocar minhas mãos, ele me fez sentir as batidas fortes do coração. Ao me beijar, provou que a respiração pode se tornar algo mais forte do que qualquer frase. Nessa hora, percebi que sentir é bem melhor do que ver. Tudo em silêncio."
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"Nós duas caminhávamos pelo parque quando avistamos aquele pequeno cão. Estava faminto e com as costelas tentando fugir do corpo. Por alguns segundos olhamos seus olhos e depois nos olhamos. Tudo em silêncio. Se o mundo nos privava do direito de ter um filho, a mãe natureza nos dava a chance de formar uma família. A nossa família.
Ali nascia Joshua, nosso primeiro filho. O amor é assim".
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"Fomos ao cinema e por alguns segundos tive o que tanto quis. A sensação de pertencer. Nos pequenos gestos senti que podia descansar meu corpo e ser envolvido por braços que me protegessem. Eu que tanto lutei sozinho, percebi que batalha nenhuma tem valor se ao vencer não houver um amor à espera. Tudo em silêncio. Observei quando você se foi, esperando por reticências..."
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domingo, 5 de junho de 2011
O que é
Alguns recuperam parte de si em uma música. Outros encontram nos filmes e novelas. Caminhos alternativos que são capazes de reagrupar fragmentos de si mesmo. Olhe para os olhos azuis e sentirá o perfume daquela manhã. Os olhos, sim.
Da cor da terra
Não são todas as histórias de amor que se baseiam na troca equalitária de sentimento. Livres das correntes do "gostar" pré-frabricado, alguns casos são contados apenas por uma das partes. Pois bem, eu conto.
O medo nunca será vencido. É uma doença crônica que se carrega durante toda a vida. Mas é possível ser feliz e viver com ele. O tratamento? Cada um sabe do seu. Assim que consegui fazer com que os meus temores não me impedissem de sorrir, encontrei seu olhar, ali. Da cor da terra. Minha base, meu chão.
Bastaram poucos dias para que o universo se transformasse em dois pedaços do céu. As palavras saiam mudas. O encanto estava em observar você me observar. Era como ler mais sobre mim mesmo, interpretado por outro alguém. Eu me tornava poesia naqueles olhos castanhos.
Agora não me importa se esse sentimento vai ou não virar algo para ser lembrado. Eu já lembro. Todos os dias. Me sinto vivo.
Assim, vejo as cores nos dias mais comuns. E nada mais é tão dissaturado assim.
O que é? O que somos? O que sou? Invisível. Invisíveis. Completamente invisível.
Da cor da terra
Não são todas as histórias de amor que se baseiam na troca equalitária de sentimento. Livres das correntes do "gostar" pré-frabricado, alguns casos são contados apenas por uma das partes. Pois bem, eu conto.
O medo nunca será vencido. É uma doença crônica que se carrega durante toda a vida. Mas é possível ser feliz e viver com ele. O tratamento? Cada um sabe do seu. Assim que consegui fazer com que os meus temores não me impedissem de sorrir, encontrei seu olhar, ali. Da cor da terra. Minha base, meu chão.
Bastaram poucos dias para que o universo se transformasse em dois pedaços do céu. As palavras saiam mudas. O encanto estava em observar você me observar. Era como ler mais sobre mim mesmo, interpretado por outro alguém. Eu me tornava poesia naqueles olhos castanhos.
Agora não me importa se esse sentimento vai ou não virar algo para ser lembrado. Eu já lembro. Todos os dias. Me sinto vivo.
Assim, vejo as cores nos dias mais comuns. E nada mais é tão dissaturado assim.
O que é? O que somos? O que sou? Invisível. Invisíveis. Completamente invisível.
domingo, 29 de maio de 2011
The lights to find h...
Ficou tudo nos discos. Cada faixa revive um pedaço do que fui e ainda insisto em ser. A música substituiu o sangue. O álcool substitui a razão. Você substitui a si mesmo. Anula-se diante de mim.
Trinta vocalistas, 60 guitarras, 30 bateristas, poucos baixistas. Escravos dos meus devaneios e nostalgia. Rezam todos os dias para que eu os escolha. São apaixonados pelos meus ouvidos. Poucos atingem o coração. Normal, hoje em dia é assim em quase todos os (des)casos.
Idioma é detalhe. Letras pouco importam. Sempre me apropriei das melodias. São elas que dialogam comigo. O que o compositor tem a dizer pouco me importa. Egocentrismo pede licença. Egocentrismo pouco se importa com direitos autorais. Copy my sins, you have the rights.
Agora eu sei por que Deus não destrói logo toda essa porra. Em cada humano ele vê a sua própria droga. A sua catarse. A sua chance de errar sem ser julgado. A sua chance de sorrir mesmo com tantos problemas. Deus é viciado nos humanos. Sim, nós somos a droga mais potente. Matamos Deus lentamente.
Trinta vocalistas, 60 guitarras, 30 bateristas, poucos baixistas. Escravos dos meus devaneios e nostalgia. Rezam todos os dias para que eu os escolha. São apaixonados pelos meus ouvidos. Poucos atingem o coração. Normal, hoje em dia é assim em quase todos os (des)casos.
Idioma é detalhe. Letras pouco importam. Sempre me apropriei das melodias. São elas que dialogam comigo. O que o compositor tem a dizer pouco me importa. Egocentrismo pede licença. Egocentrismo pouco se importa com direitos autorais. Copy my sins, you have the rights.
Agora eu sei por que Deus não destrói logo toda essa porra. Em cada humano ele vê a sua própria droga. A sua catarse. A sua chance de errar sem ser julgado. A sua chance de sorrir mesmo com tantos problemas. Deus é viciado nos humanos. Sim, nós somos a droga mais potente. Matamos Deus lentamente.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
This time, no love is what I need
No love. That's what I need. That's what I asked for the first God I saw. Can you imagine yourself waking up every fucking day and praying not to fall in love? No, You can't. The World celebrates your relationship while it spits on my face for being such an odd guy. This time no love is what I need, you see?
Turning up the sound is a good way to suffocate the heart beats. Silence the beats and try just do listen your own thoughts. It sounds perfect, right? Then wait until your whole family sleep to open that bottle. Another way to suffocate the junk of the heart. This time no love is what I need.
But I want you to want mine.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
O jornalismo que ninguém lê
Sempre que começava um novo semestre, algum professor arriscava a mesma pergunta: “Por que escolheu o jornalismo?”. Respostas clichês à parte, o que faltava nas explicações era aquela sinceridade ousada e espontânea. De aluno em aluno, o professor se desinteressava pelo o que era dito, talvez por também não saber responder a tal pergunta. Talvez, por arrependimento.
Ao longo dos anos, o fantasma que perseguia esta questão assombrou meus pensamentos, meus textos e minhas entrevistas. Minha mãe costumava dizer que eu era uma criança muito quieta e pensativa. Alguns familiares arriscavam autismo. Meu pai nunca dizia nada. Meu irmão me achava estranho. Ainda assim, o amor permaneceu. Nos momentos que passei abraçado à minha essência, tecia histórias e construía possibilidades. O mundo não era desinteressante e eu não odiava as pessoas. Apenas gostava de criar meus próprios roteiros, ainda que não soubesse o que significava essa palavra. Escrevia sem saber escrever.
Anos e anos acumulando folhas e o jornalismo não surgiu como único caminho. Pensei em fazer biologia, psicologia e pediatria – para poder me vingar dos filhos dos médicos que me receitavam injeções. Entrei no curso sem ter uma resposta ensaiada. Eu gostava de escrever. Hoje percebo que isso não tem muito a ver com minha graduação. O meu “escrever” ainda desconhece muitas palavras e regras seguidas pelos grandes jornalistas. É um “escrever” analfabeto e feliz. Mas toda felicidade dura pouco.
Aprender é um processo lento e delicado. Uma relação complexa onde os sentimentos se rompem com uma simples vírgula. Formatar minha escrita, padronizar minha introdução e diminuir minhas frases foi como domar um cavalo. Tirar um peixe dourado do mar e colocá-lo no aquário da sala. Dar um jantar para os amigos jornalistas e exibir o troféu roubado de Poseidon. Resisti ao máximo e consegui seguir a lógica coorporativa. O verbo “conseguir” não veio seguido do sabor da vitória. Consegui me trair. Entreguei meus cavalos a fazendeiros frustrados e meus peixes dourados viraram notas no boletim. Números quebrados. Nada mais característico.
No último dia 16 de maio foi o “Dia do Gari”. Algum jornal ou site deve ter dado uma nota sobre. Pegam a forma básica de algo publicado no ano passado - ou no século passado - e enaltecem, com muita falsidade, a profissão sem respeitar o profissional. Muito mais do que o “Dia do Gari”, a data também deveria permitir que o João falasse dos seus sonhos, que a Rita dissesse o que pensa sobre as ruas, que o José, tão conhecido por todos, falasse um pouco sobre música, futebol ou qualquer coisa que compensasse a dura jornada de trabalho. Mas esse é o jornalismo que ninguém lê, ainda que muitos escrevam.
Não posso terminar esse texto sem citar o livro que me fez devolver ao mar os peixes roubados do meu oceano de ideias. “A vida que ninguém vê”, da jornalista Eliane Brum, explora as áreas mais temidas do jornalismo. Com simplicidade e interesse verdadeiro – não aquele que quer saber apenas de prestígio e elogio por parte dos colegas de trabalho – ela tece uma colcha de histórias onde as diferenças sociais são detalhes. A vida que não se vê é justamente aquela que, por um dia, mês ou ano, vivemos ou viveremos. São fragmentos do desconhecido que amedrontam nossas casas e escritórios. Desconhecer o que vem depois ou o que pode acontecer com nossos destinos. Palavras de efeito defeituoso ou ambíguo. Que não percam seu valor, mas ao menos se permitam cair em contradição. Conte ao povo algo sobre o povo, alguma coisa desse tipo.
O jornalismo que ninguém lê é justamente o que me encanta. É o que carrego nas mãos que ainda estranham muitas palavras. É um jornalismo que nasce da essência tímida e inquieta. Ele quer ouvir. Quer saber. Conhecer. E não ser egoísta. Quer contar. Quer ser compreendido e não apenas lido. Minha avó não sabia ler com maestria. Mas escreveu com traços invisíveis a única palavra que lhe deu força durante toda a vida: amor.
Ao longo dos anos, o fantasma que perseguia esta questão assombrou meus pensamentos, meus textos e minhas entrevistas. Minha mãe costumava dizer que eu era uma criança muito quieta e pensativa. Alguns familiares arriscavam autismo. Meu pai nunca dizia nada. Meu irmão me achava estranho. Ainda assim, o amor permaneceu. Nos momentos que passei abraçado à minha essência, tecia histórias e construía possibilidades. O mundo não era desinteressante e eu não odiava as pessoas. Apenas gostava de criar meus próprios roteiros, ainda que não soubesse o que significava essa palavra. Escrevia sem saber escrever.
Anos e anos acumulando folhas e o jornalismo não surgiu como único caminho. Pensei em fazer biologia, psicologia e pediatria – para poder me vingar dos filhos dos médicos que me receitavam injeções. Entrei no curso sem ter uma resposta ensaiada. Eu gostava de escrever. Hoje percebo que isso não tem muito a ver com minha graduação. O meu “escrever” ainda desconhece muitas palavras e regras seguidas pelos grandes jornalistas. É um “escrever” analfabeto e feliz. Mas toda felicidade dura pouco.
Aprender é um processo lento e delicado. Uma relação complexa onde os sentimentos se rompem com uma simples vírgula. Formatar minha escrita, padronizar minha introdução e diminuir minhas frases foi como domar um cavalo. Tirar um peixe dourado do mar e colocá-lo no aquário da sala. Dar um jantar para os amigos jornalistas e exibir o troféu roubado de Poseidon. Resisti ao máximo e consegui seguir a lógica coorporativa. O verbo “conseguir” não veio seguido do sabor da vitória. Consegui me trair. Entreguei meus cavalos a fazendeiros frustrados e meus peixes dourados viraram notas no boletim. Números quebrados. Nada mais característico.
No último dia 16 de maio foi o “Dia do Gari”. Algum jornal ou site deve ter dado uma nota sobre. Pegam a forma básica de algo publicado no ano passado - ou no século passado - e enaltecem, com muita falsidade, a profissão sem respeitar o profissional. Muito mais do que o “Dia do Gari”, a data também deveria permitir que o João falasse dos seus sonhos, que a Rita dissesse o que pensa sobre as ruas, que o José, tão conhecido por todos, falasse um pouco sobre música, futebol ou qualquer coisa que compensasse a dura jornada de trabalho. Mas esse é o jornalismo que ninguém lê, ainda que muitos escrevam.
Não posso terminar esse texto sem citar o livro que me fez devolver ao mar os peixes roubados do meu oceano de ideias. “A vida que ninguém vê”, da jornalista Eliane Brum, explora as áreas mais temidas do jornalismo. Com simplicidade e interesse verdadeiro – não aquele que quer saber apenas de prestígio e elogio por parte dos colegas de trabalho – ela tece uma colcha de histórias onde as diferenças sociais são detalhes. A vida que não se vê é justamente aquela que, por um dia, mês ou ano, vivemos ou viveremos. São fragmentos do desconhecido que amedrontam nossas casas e escritórios. Desconhecer o que vem depois ou o que pode acontecer com nossos destinos. Palavras de efeito defeituoso ou ambíguo. Que não percam seu valor, mas ao menos se permitam cair em contradição. Conte ao povo algo sobre o povo, alguma coisa desse tipo.
O jornalismo que ninguém lê é justamente o que me encanta. É o que carrego nas mãos que ainda estranham muitas palavras. É um jornalismo que nasce da essência tímida e inquieta. Ele quer ouvir. Quer saber. Conhecer. E não ser egoísta. Quer contar. Quer ser compreendido e não apenas lido. Minha avó não sabia ler com maestria. Mas escreveu com traços invisíveis a única palavra que lhe deu força durante toda a vida: amor.
domingo, 15 de maio de 2011
Ser
"A casa precisava mesmo de uma reforma. Os quadros com desenhos sem sentido não cobriam mais os buracos e manchas das paredes. Também foi uma forma que encontramos de fazer algo juntos. O tempo anda curto e nossos humores também. Dois segundos e eles se vão. Colocar roupas velhas, prender o cabelo, escolher o melhor pincel e perceber que ele não vai te servir de nada. Ser um casal, simples assim.
Observei seu traço leve. A trilha que fez com as mãos e que, com toda a graça de alguém que não nasceu para as artes, ousou ao atravessar de um canto para outro. Foi muito parecido com o sorriso que meu deu, quando nos conhecemos. Ousadia que me conquistou, vale admitir nesse momento. Não fiquei para trás. Persegui seus movimentos e penetrei na essência da sua leveza. Como você me disse uma vez, "Foi assim que me conquistou, como um cego, conseguiu me ver como de fato sou". Ao trabalho. Completamos a primeira parede em silêncio, mas com pequenas gotas de tinta espirrando no braço um do outro. Tocávamos-nos assim. Ser discreto sem esqueCER como se diz "estou aqui, viu?".
Durante horas, me lembrei de como tudo deu tão certo, a ponto de ter se tornado insuportável. Você decifrou meu silêncio desde o começo, uma vez que era o olhar quem ditava as regras. Não se importava com os dias em que eu optava por dizer poucas palavras, desde que no meio delas estivesse alguma que expressasse o amor que sentia. Interpretava meu corpo e dançava com suas necessidades. De fato, você tem o dom. Enquanto metade de uma nova parede era preenchida com cor, eu sorria internamente e até arriscaria uma lágrima, se não fosse tão "eu". Dessa vez era você quem me observava. Ser eu mesmo, só com você. Ser nós.
Fui buscar mais tinta e percebi que você voltava da cozinha com algo escondido dentro de uma sacola. Acreditei que fosse algo para comer, não me importei. No caminho para o quarto, vi nossas fotos pelo corredor. Eram como flores num jardim. As memórias perfumadas seduziam minha mente e a boca salivava com o néctar dos frutos que nosso amor colheu. Lembrei dos longos invernos, onde tudo parecia morrer e secar. Toda vez que o fim se aproximava, nós buscávamos o último graveto no quintal e com ele fazíamos uma pequena fogueira. Aquecíamos nossos corações. Com mais uma galão de tinta, retornei para a sala.
Você segurava um pincel diferente, molhado com tinta vermelha. Caminhou na minha direção e sem dizer uma palavra molhou minha mão com o pigmento da paixão. Como se caminhássemos rumo ao altar, você segurou nossas mãos juntas e estampou ambas as palmas naquele espaço infinito. Casamos ali. Ser um só, no momento em que eu mais precisava. O vermelho dali era mais forte que o sangue.
Se for para ser, tem que ser mais forte do que o sangue.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Eu te sinto todos os dias mesmo sem te conhecer. É assim, não controlo.
Talvez esta seja a motivação para levantar e enfrentar a rotina. Lidar com o desconhecido e imprevisível é flertar com a possibilidade de te encontrar. Às vezes, olho para certas pessoas e quase sinto você. Logo depois o sentimento se vai e então percebo que estava errado.
Como é possível viver assim? Eu tenho um forte sentimento que condicionado meu humor, minhas atividades e até mesmo as relações que estão ao meu alcance. Ainda assim, opto por você, espero por alguém que nem sei se existe de fato. Gosto de imaginar nós dois e desenho na minha mente seu sorriso.
O sentimento sem nome me envolve a cada filme, o que me faz colher de cada personagem um pouco de você e muito de nós. Só o mar poderia nos separar, nem o tempo, nem o espaço. Só o mar.
Quantas cartas já te escrevi? Quantas vezes sonhei com seu abraço? E acordei numa realidade penosa e desinteressante, onde as pessoas são coadjuvantes na nossa história. Eles nunca vão entender. Eu sinto e respeito isso. Sempre senti tanta coisa, em silêncio, e respeitei cada fase.
Você está nas músicas.
Você está nas letras.
Você está nos meus textos.
Você está nos meus sonhos.
Você está no cheiro da chuva.
Você está em mim,
Mas eu ainda não te encontrei. Não estou em você.
E eu já não aguento mais esperar, mas espero. "Por você, eu faria mil vezes".
(...)
Me olhava profundamente, como se analisasse minha essência, na busca por uma explicação. As ondas batiam em nossos pés e uma brisa leve e morna acariciava meu pescoço. O castanho dos teus olhos refletia o alaranjado do pôr-do-sol e eu me perdia naquele horizonte. Você é meu horizonte. Dois passos mais perto de você são também dois passos de distância entre nós. Isso nos faz viver e sempre buscar o outro. Somos intocáveis e dançamos abraçados sem nos importarmos com isso. O toque invisível de aquece a alma e o corpo.
Pegou na minha mão e colocou-a em seu coração. A areia parecia nos aconchegar e assim ficamos. Não havia filme melhor do que o exibido pelas nuvens. O céu começava a escurecer e as primeiras estrelas apareciam. Eu já não sabia mais se queria voltar e você era o motivo da indecisão.
Dormi protegido pelo seu amor. Acariciava meus cabelos e não deixava que minha alma se desprendesse daquele momento. Eu me saciava nos seus lábios e sentia no abraço a segurança da eternidade. Pra que voltar?
Estas palavras parecem exprimir uma felicidade perfeita, mas não é bem assim. Nossos defeitos garantiam a manutenção do entendimento, da compaixão e da capacidade de ceder. Éramos cúmplices nos momentos negativos e sabíamos que dor maior do que a da mentira não existia. Se eu ouvisse um "não" ao invés do "sim", me recolhia por algumas horas, refletia e depois voltava para encontrar aquele olhar que guiava meu coração. Quando você esperava de mim o amor maior e tinha em troca apenas minha presença - em silêncio - compreendia que eu estava num momento de individualidade e logo voltaria. Deitava sua cabeça sobre o meu peito e ouvia do meu coração as mais belas declarações.
Amor.
(...)
Talvez esta seja a motivação para levantar e enfrentar a rotina. Lidar com o desconhecido e imprevisível é flertar com a possibilidade de te encontrar. Às vezes, olho para certas pessoas e quase sinto você. Logo depois o sentimento se vai e então percebo que estava errado.
Como é possível viver assim? Eu tenho um forte sentimento que condicionado meu humor, minhas atividades e até mesmo as relações que estão ao meu alcance. Ainda assim, opto por você, espero por alguém que nem sei se existe de fato. Gosto de imaginar nós dois e desenho na minha mente seu sorriso.
O sentimento sem nome me envolve a cada filme, o que me faz colher de cada personagem um pouco de você e muito de nós. Só o mar poderia nos separar, nem o tempo, nem o espaço. Só o mar.
Quantas cartas já te escrevi? Quantas vezes sonhei com seu abraço? E acordei numa realidade penosa e desinteressante, onde as pessoas são coadjuvantes na nossa história. Eles nunca vão entender. Eu sinto e respeito isso. Sempre senti tanta coisa, em silêncio, e respeitei cada fase.
Você está nas músicas.
Você está nas letras.
Você está nos meus textos.
Você está nos meus sonhos.
Você está no cheiro da chuva.
Você está em mim,
Mas eu ainda não te encontrei. Não estou em você.
E eu já não aguento mais esperar, mas espero. "Por você, eu faria mil vezes".
(...)
Me olhava profundamente, como se analisasse minha essência, na busca por uma explicação. As ondas batiam em nossos pés e uma brisa leve e morna acariciava meu pescoço. O castanho dos teus olhos refletia o alaranjado do pôr-do-sol e eu me perdia naquele horizonte. Você é meu horizonte. Dois passos mais perto de você são também dois passos de distância entre nós. Isso nos faz viver e sempre buscar o outro. Somos intocáveis e dançamos abraçados sem nos importarmos com isso. O toque invisível de aquece a alma e o corpo.
Pegou na minha mão e colocou-a em seu coração. A areia parecia nos aconchegar e assim ficamos. Não havia filme melhor do que o exibido pelas nuvens. O céu começava a escurecer e as primeiras estrelas apareciam. Eu já não sabia mais se queria voltar e você era o motivo da indecisão.
Dormi protegido pelo seu amor. Acariciava meus cabelos e não deixava que minha alma se desprendesse daquele momento. Eu me saciava nos seus lábios e sentia no abraço a segurança da eternidade. Pra que voltar?
Estas palavras parecem exprimir uma felicidade perfeita, mas não é bem assim. Nossos defeitos garantiam a manutenção do entendimento, da compaixão e da capacidade de ceder. Éramos cúmplices nos momentos negativos e sabíamos que dor maior do que a da mentira não existia. Se eu ouvisse um "não" ao invés do "sim", me recolhia por algumas horas, refletia e depois voltava para encontrar aquele olhar que guiava meu coração. Quando você esperava de mim o amor maior e tinha em troca apenas minha presença - em silêncio - compreendia que eu estava num momento de individualidade e logo voltaria. Deitava sua cabeça sobre o meu peito e ouvia do meu coração as mais belas declarações.
Amor.
(...)
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Aqui, ninguém vai pro céu
Foram muitas páginas de um romance trágico e cheio de amor. Um amor que resistiu à balas e explosões, mas que foi sufocado com as cinzas de uma família destruída pelo ódio alheio. Durante tal jornada literária, pude sentir a cicatriz de David queimando no meu rosto. Ela fazia lembrar de todos os sonhos roubados e, principalmente, da crueldade dos seres humanos. As oliveiras ainda estão lá, se recusam a cair. As pedras são como abutres no aguardo do abraço delicado, presente do deserto que ali se forma. Cada palestino morto apagava do céu uma estrela.
Reconstruí as casas e os cheiros, as cores e os rostos dos personagens. Seu jeito de falar e a maneira de agradecer ao seu Deus eram representados na minha mente. Mesmo com tantos detalhes que deveriam me distanciar daquelas pessoas me senti igual. Semelhante, familiar, pois partilhei do elo mais forte: partilhei da sua tristeza. Chorei em silêncio, assim como choravam as mães marcadas pelo terror e sem emitir som - não queriam chamar a atenção dos algozes. O amor me tomou por alguns segundos quando a esperança renascia com uma nova criança na família. Mas a realidade não gosta de passar despercebida. Batia à porta dos alegres e depositava em seus copos uma dose pura de dor. Os sorrisos eram como flores, tinham tempo curto de vida e plenitude.
E o Deus estava surdo e cego. Era tão prisioneiro quanto os refugiados. Deus foi sequestrado há muito tempo e quem está em seu lugar é o irmão gêmeo, o Diabo. No lugar aonde o deixaram o som não entra. Os apelos não são ouvidos e os rostos dos falecidos se apresentam como sonhos, ou melhor, pesadelos. Deus está vencido, pois toda a complexidade que nós humanos aplicamos à sua existência fez dele algo distante e inalcançável, algo superior e egocêntrico. Essas características pertencem ao demônio. O humano erra e paga por isso. Ele está em tudo, menos em nós.
A areia que invade as casas resgatam as perdas. Areia de ossos, de resto de pessoas que um dia deram à terra força e vitalidade. A eterna briga por espaço esconde o fato de que todos já ocupam algum lugar. Linhas e demarcações são obsoletas se comparadas à imensidão do coração do pai que, sem opção, não pode enterrar o filho. O deserto que ali se forma, já tem pedras o bastante.
--------------------------------------------
"O dinheiro atrapalha o amor"
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Quantos foram os dias de felicidade na sua vida? Consegue se lembrar deles? Ótimo. E hoje você é feliz? Interessante, e por quais motivos se mantém assim? Ok, certo, se te faz feliz, vá em frente!
Você é contra tantas coisas, mas é incapaz de ser contra sua própria intolerância.
Sabe o significado de muitas palavras, mas se faz de analfabeto quando precisa interpretar algo fora do seu vocabulário viciado.
Dá soco, chute, cospe, berra, ameaça. Vai dormir, perde o controle da consciência e sonha que chora como uma criança faminta. Acorda e desconta as inseguranças em quem não tem mais nada a perder.
Marcaram encontro no debate sobre a Palestina e Israel. Apresentaram suas teorias e demonstraram muito conhecimento sobre o assunto. Enquanto isso, duas crianças que atiravam pedras nos escudos dos soldados levaram tiros que atravessaram bocas e narizes.
Estudar a periferia, estudar o pobre, estudar o motoboy. Fazer matéria sobre o boteco com batata em conserva, buscar conversar com pichadores e mães solteiras. É legal usar as cobaias para manter a pose e a social.
Lide perfeito, frases sem erros gramaticais, parágrafos com tamanho ideal. Não me diz nada. Não há diálogo. Não há texto.
Muitas risadas. Piadas bem elaboradas. Sim, engraçadas. Falam alto, pegam no meu braço. Promessas surgem como bolhas que sobem para a superfície do oceano. Não sorri uma vez.
Já disseram que meu sobrenome é de pobre. Minha casa é pobre e meu bairro também. Não acredito em classe média. Proletário, burguês, rico e pobre. Reconheci essas duas realidades ao longo de 23 anos. O resto é pura vaidade. Quem vive no meio não pertence nem a si mesmo.
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"Use sua raiva para construir (sua rebeldia é premeditada)".
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Enquanto eu sentir, vou ser infeliz.
Reconstruí as casas e os cheiros, as cores e os rostos dos personagens. Seu jeito de falar e a maneira de agradecer ao seu Deus eram representados na minha mente. Mesmo com tantos detalhes que deveriam me distanciar daquelas pessoas me senti igual. Semelhante, familiar, pois partilhei do elo mais forte: partilhei da sua tristeza. Chorei em silêncio, assim como choravam as mães marcadas pelo terror e sem emitir som - não queriam chamar a atenção dos algozes. O amor me tomou por alguns segundos quando a esperança renascia com uma nova criança na família. Mas a realidade não gosta de passar despercebida. Batia à porta dos alegres e depositava em seus copos uma dose pura de dor. Os sorrisos eram como flores, tinham tempo curto de vida e plenitude.
E o Deus estava surdo e cego. Era tão prisioneiro quanto os refugiados. Deus foi sequestrado há muito tempo e quem está em seu lugar é o irmão gêmeo, o Diabo. No lugar aonde o deixaram o som não entra. Os apelos não são ouvidos e os rostos dos falecidos se apresentam como sonhos, ou melhor, pesadelos. Deus está vencido, pois toda a complexidade que nós humanos aplicamos à sua existência fez dele algo distante e inalcançável, algo superior e egocêntrico. Essas características pertencem ao demônio. O humano erra e paga por isso. Ele está em tudo, menos em nós.
A areia que invade as casas resgatam as perdas. Areia de ossos, de resto de pessoas que um dia deram à terra força e vitalidade. A eterna briga por espaço esconde o fato de que todos já ocupam algum lugar. Linhas e demarcações são obsoletas se comparadas à imensidão do coração do pai que, sem opção, não pode enterrar o filho. O deserto que ali se forma, já tem pedras o bastante.
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"O dinheiro atrapalha o amor"
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Quantos foram os dias de felicidade na sua vida? Consegue se lembrar deles? Ótimo. E hoje você é feliz? Interessante, e por quais motivos se mantém assim? Ok, certo, se te faz feliz, vá em frente!
Você é contra tantas coisas, mas é incapaz de ser contra sua própria intolerância.
Sabe o significado de muitas palavras, mas se faz de analfabeto quando precisa interpretar algo fora do seu vocabulário viciado.
Dá soco, chute, cospe, berra, ameaça. Vai dormir, perde o controle da consciência e sonha que chora como uma criança faminta. Acorda e desconta as inseguranças em quem não tem mais nada a perder.
Marcaram encontro no debate sobre a Palestina e Israel. Apresentaram suas teorias e demonstraram muito conhecimento sobre o assunto. Enquanto isso, duas crianças que atiravam pedras nos escudos dos soldados levaram tiros que atravessaram bocas e narizes.
Estudar a periferia, estudar o pobre, estudar o motoboy. Fazer matéria sobre o boteco com batata em conserva, buscar conversar com pichadores e mães solteiras. É legal usar as cobaias para manter a pose e a social.
Lide perfeito, frases sem erros gramaticais, parágrafos com tamanho ideal. Não me diz nada. Não há diálogo. Não há texto.
Muitas risadas. Piadas bem elaboradas. Sim, engraçadas. Falam alto, pegam no meu braço. Promessas surgem como bolhas que sobem para a superfície do oceano. Não sorri uma vez.
Já disseram que meu sobrenome é de pobre. Minha casa é pobre e meu bairro também. Não acredito em classe média. Proletário, burguês, rico e pobre. Reconheci essas duas realidades ao longo de 23 anos. O resto é pura vaidade. Quem vive no meio não pertence nem a si mesmo.
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"Use sua raiva para construir (sua rebeldia é premeditada)".
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Enquanto eu sentir, vou ser infeliz.
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Love will tear us apart
Gosto dos meus sonhos. Eles sempre te trazem até mim.
Feriado prolongado e todos decidem ver o mar. Eu escolho isso todos os dias, mas ainda assim não consigo vê-lo. Ouço seu chamado, mas ignoro e meto a cara numa tela de computador. Não é fuga nem nada, é apenas a realidade como de fato ela é.
Ao menos meu coração continua orgânico. Eu prometo.
E por que ele irá nos separar?
(...)
Não escolho gostar de quem eu gosto. eu simplesmente gosto e sei que isso não vai mudar mesmo que eu tente com todas as minhas forças. A única maneira de não cair nessa ilusão é evitar o contato. Privar-me das longas conversas e dos encontros sem compromisso. Eu queria esse compromisso, no fundo gostaria de dizer que sou seu. Teria que ignorar qualquer chance de escrever minha história do jeito que tanto sonhei.
Sobre meus amores
O primeiro amor marca também a primeira decepção. Intrigava-me, pois era como o fogo. Bastava aparecer e todos prestavam atenção em você. Longos cabelos castanhos e os olhos mais bonitos que já vi. Tinha cheiro de liberdade. Me fez ter frio no estômago e perder os sentidos no primeiro beijo. Me fez sofrer demais e, graças a isso, aprender sobre a indiferença.
O segundo amor me provocava. Sabia me irritar e nunca terminava aquilo que tinha começado. Falava muito e queria me domar de todas as maneiras. Juntos éramos a melhor dupla, separados garantíamos as melhores brigas. Escolheu outra pessoa próxima de mim, mentiu por medo e me perdeu.
O terceiro amor era metade de mim. Estatura baixa, voz de sempre teve tudo o que quis e o melhor perfume de todos. Era uma mistura de vinho com todo o tipo de rebeldia. Tinha os melhores discos, conhecia os melhores sons. O melhor corpo para se abraçar. Nos perdemos no caminho. Queríamos a mesma coisa: conhecer outras pessoas.
O primeiro amor sem nome. Ganhou-me pela coragem. Veio até mim sem medo das coisa terríveis que eu poderia dizer. Disse e arriscou. Sem que soubesse, tinha ganhado meu coração naquele instante. Me fez esperar todos os dias na calçada, para ver seu rosto cansado. Fiquei louco de tristeza quando partiu, mas ganhei vida ao atender o telefone e ouvir sua voz. Era algo incerto, que não se pronunciava. Não me perdeu , porque nunca me teve. Foi o primeiro amor sem nome e sem som.
O segundo amor sem nome veio como flecha. De primeira, teve meu desprezo e sentimento de rivalidade. Ganhou espaço ao tentar apenas ser alguém próximo de mim. Tinha um sorriso leve, mas com o olhar penetrante. Sabia ouvir e queria conhecer. Sabia conhecer depois de ter ouvido. Me tirava a razão e por isso conseguia fazer meu coração pulsar. Nossos caminhos eram desconhecidos e por este motivo é que partíamos todos os dias. Perdeu-me quando se perdeu e não sabia mais quem era diante do espelho.
O terceiro amor sem nome está vivo. Vai além das linhas e além de tudo o que já vi. Não sabe, não vê e se vê prefere a cegueira. É platônico e dói muito, como ferida aberta coberta por sal. Vive num mundo próprio e me convida, sempre que possível, a conhecer seu espaço. Faz-me ficar aqui, escrevendo como um tolo, sobre os amores passados, só para eternizá-lo junto dessas palavras. Ainda não me perdeu, mas vou escrever sobre tal tema quando acontecer.
Mas se acontecer, vou escrever, pela primeira vez, a história que levo comigo todas as noites antes de dormir. Não sei se é sonho, só sei que me faz bem porque me faz pulsar.
Ainda vivo.
Feriado prolongado e todos decidem ver o mar. Eu escolho isso todos os dias, mas ainda assim não consigo vê-lo. Ouço seu chamado, mas ignoro e meto a cara numa tela de computador. Não é fuga nem nada, é apenas a realidade como de fato ela é.
Ao menos meu coração continua orgânico. Eu prometo.
E por que ele irá nos separar?
(...)
Não escolho gostar de quem eu gosto. eu simplesmente gosto e sei que isso não vai mudar mesmo que eu tente com todas as minhas forças. A única maneira de não cair nessa ilusão é evitar o contato. Privar-me das longas conversas e dos encontros sem compromisso. Eu queria esse compromisso, no fundo gostaria de dizer que sou seu. Teria que ignorar qualquer chance de escrever minha história do jeito que tanto sonhei.
Sobre meus amores
O primeiro amor marca também a primeira decepção. Intrigava-me, pois era como o fogo. Bastava aparecer e todos prestavam atenção em você. Longos cabelos castanhos e os olhos mais bonitos que já vi. Tinha cheiro de liberdade. Me fez ter frio no estômago e perder os sentidos no primeiro beijo. Me fez sofrer demais e, graças a isso, aprender sobre a indiferença.
O segundo amor me provocava. Sabia me irritar e nunca terminava aquilo que tinha começado. Falava muito e queria me domar de todas as maneiras. Juntos éramos a melhor dupla, separados garantíamos as melhores brigas. Escolheu outra pessoa próxima de mim, mentiu por medo e me perdeu.
O terceiro amor era metade de mim. Estatura baixa, voz de sempre teve tudo o que quis e o melhor perfume de todos. Era uma mistura de vinho com todo o tipo de rebeldia. Tinha os melhores discos, conhecia os melhores sons. O melhor corpo para se abraçar. Nos perdemos no caminho. Queríamos a mesma coisa: conhecer outras pessoas.
O primeiro amor sem nome. Ganhou-me pela coragem. Veio até mim sem medo das coisa terríveis que eu poderia dizer. Disse e arriscou. Sem que soubesse, tinha ganhado meu coração naquele instante. Me fez esperar todos os dias na calçada, para ver seu rosto cansado. Fiquei louco de tristeza quando partiu, mas ganhei vida ao atender o telefone e ouvir sua voz. Era algo incerto, que não se pronunciava. Não me perdeu , porque nunca me teve. Foi o primeiro amor sem nome e sem som.
O segundo amor sem nome veio como flecha. De primeira, teve meu desprezo e sentimento de rivalidade. Ganhou espaço ao tentar apenas ser alguém próximo de mim. Tinha um sorriso leve, mas com o olhar penetrante. Sabia ouvir e queria conhecer. Sabia conhecer depois de ter ouvido. Me tirava a razão e por isso conseguia fazer meu coração pulsar. Nossos caminhos eram desconhecidos e por este motivo é que partíamos todos os dias. Perdeu-me quando se perdeu e não sabia mais quem era diante do espelho.
O terceiro amor sem nome está vivo. Vai além das linhas e além de tudo o que já vi. Não sabe, não vê e se vê prefere a cegueira. É platônico e dói muito, como ferida aberta coberta por sal. Vive num mundo próprio e me convida, sempre que possível, a conhecer seu espaço. Faz-me ficar aqui, escrevendo como um tolo, sobre os amores passados, só para eternizá-lo junto dessas palavras. Ainda não me perdeu, mas vou escrever sobre tal tema quando acontecer.
Mas se acontecer, vou escrever, pela primeira vez, a história que levo comigo todas as noites antes de dormir. Não sei se é sonho, só sei que me faz bem porque me faz pulsar.
Ainda vivo.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Escrever...
Não conseguia manter a periodicidade da escrita. Era incapaz de preencher um diário. Tudo porque escrever se tornara uma forma de catarse. Eu não queria me libertar todos os dias. Precisava me prender e ficar em silêncio para sentir o abraço invisível dos meus próprios braços.
Meus cadernos guardavam as melhores frases e pensamentos, sempre nas últimas folhas. Antes, era preciso alimentá-los com conhecimento barato e sem fundamento empírico. Falava-se de guerras e povos dentro das salas de aula, repletas de crianças que não conheciam nem mesmo a língua de seus ancestrais. Falava-se de vida quando, na verdade, se evitava explicar da onde surgiam os bebês. Exigiam dos pequenos os maiores cálculos e, mesmo que sem sentido algum, diziam que tais fórmulas eram essenciais. Foi durante os anos na escola que perdi minha essência e fiquei alheio a tudo.
Meu vocabulário sempre se limitou ao que queria dizer, apenas. Simples, fraco, incompleto, seja lá o que for, eu sabia dizer o que queria dizer e isso era suficiente. A gramática não era problema. Hoje, gera neurose. Um erro e parece que o texto inteiro perdeu seu valor.
Agora, quanto ao valor...
Que letra errada poderia tirar o brilho das palavras cheias de sentimento? Qual vírgula iria se atrever a cortar o pensamento livre que galopa nos campos imaginários? Qual crase irá fazer referência aos corpos e rostos que cito nos meus escritos? Das regras que definem o gênero do sujeito, qual vai ter coragem de dizer quem deve ser o quê? Se neste espaço em branco me foi dada a chance escrever, então que eu aproveite ao máximo. E ser tão completo em linhas a serem escritas é simplesmente deixar o rio correr, que das águas cristalinas tirarei o reflexo desses olhos apaixonados que leem devaneios.
A preocupação excessiva com uma escrita livre de erros sufoca a despreocupação que nos traz estórias interessantes. Eu não sei escrever, então. Prefiro não saber. Assim, reforço a ideia de que aqueles que não sabem são justamente os que têm tempo para aprender cada vez mais. Eles só não sabem como parar o pensamento ou formatá-lo. São sábios, não inteligentes. Inteligência é outra coisa. Máquinas são inteligentes, mesmo que artificialmente. Mas qual o problema nisso? Nós somos solidários mesmo que artificialmente.
Durante muitas tardes de 2006, passei a maior parte do tempo escrevendo no meu quarto. Me perdia em meio à páginas e, quando relia o que tinha escrito, não reconhecia o autor. Mágoas, acertos, felicidades e o coração que insistia em tomar a caneta e silenciar a razão. O coração é de leão, não posso evitar. Até hoje passeio por esses contos e textos que não se decidiam entre a realidade e o sonho. Eu não era jornalista, mas escrevia com amor e vontade. Hoje, estou prestes a me tornar um comunicador e percebo que perdi o dom da conversa comigo mesmo. Já não sei mais falar abertamente com o Vinicius, porque me prendi aos malditos termos e restrições técnicas que um bom redator deve seguir. Então, dispenso o título.
Escrever é como soltar um pássaro que há tempos esteve preso e não sabe mais qual a cor do céu. Ele voa para o alto, por instinto, e quando vê o imenso azul se recorda das tantas viagens que fez. Para não deixar que tais momentos desapareçam no ar, ele canta. Eu escrevo. Acho ali um universo onde a ordem não faz sentido e as frases vão se organizando como bem entendem. Encontro ali os pulmões da criatividade, cheios de ideias e planos. Estas linhas tímidas me convidam a dissertar sobre música e toda a harmonia que puder encontrar. Marcam o momento de uma maneira única, tão única quanto as minhas várias formas de ver cada coisa. Uma rede de ações internas que mudam o batimento cardíaco e fazem a respiração ser parecida com a de uma criança ofegante. Ela corre pelas vielas do bairro atrás de uma pipa. Não quer o brinquedo, quer apenas correr. Faz o que tem que ser feito só porque quer ir além. Quando diz que ama é porque quer o beijo. Quando diz que odeia é porque quer fazer as pazes. Quando me diz que não entende é porque entendeu e não consegue aceitar. Quando fica é porque já pensou muitas vezes em partir. Quando lê é porque sabe que ainda estou aqui, nas linhas que amarram nossos espíritos.
Escrever é não revisar os pensamentos e sim confiar neles.
Meus cadernos guardavam as melhores frases e pensamentos, sempre nas últimas folhas. Antes, era preciso alimentá-los com conhecimento barato e sem fundamento empírico. Falava-se de guerras e povos dentro das salas de aula, repletas de crianças que não conheciam nem mesmo a língua de seus ancestrais. Falava-se de vida quando, na verdade, se evitava explicar da onde surgiam os bebês. Exigiam dos pequenos os maiores cálculos e, mesmo que sem sentido algum, diziam que tais fórmulas eram essenciais. Foi durante os anos na escola que perdi minha essência e fiquei alheio a tudo.
Meu vocabulário sempre se limitou ao que queria dizer, apenas. Simples, fraco, incompleto, seja lá o que for, eu sabia dizer o que queria dizer e isso era suficiente. A gramática não era problema. Hoje, gera neurose. Um erro e parece que o texto inteiro perdeu seu valor.
Agora, quanto ao valor...
Que letra errada poderia tirar o brilho das palavras cheias de sentimento? Qual vírgula iria se atrever a cortar o pensamento livre que galopa nos campos imaginários? Qual crase irá fazer referência aos corpos e rostos que cito nos meus escritos? Das regras que definem o gênero do sujeito, qual vai ter coragem de dizer quem deve ser o quê? Se neste espaço em branco me foi dada a chance escrever, então que eu aproveite ao máximo. E ser tão completo em linhas a serem escritas é simplesmente deixar o rio correr, que das águas cristalinas tirarei o reflexo desses olhos apaixonados que leem devaneios.
A preocupação excessiva com uma escrita livre de erros sufoca a despreocupação que nos traz estórias interessantes. Eu não sei escrever, então. Prefiro não saber. Assim, reforço a ideia de que aqueles que não sabem são justamente os que têm tempo para aprender cada vez mais. Eles só não sabem como parar o pensamento ou formatá-lo. São sábios, não inteligentes. Inteligência é outra coisa. Máquinas são inteligentes, mesmo que artificialmente. Mas qual o problema nisso? Nós somos solidários mesmo que artificialmente.
Durante muitas tardes de 2006, passei a maior parte do tempo escrevendo no meu quarto. Me perdia em meio à páginas e, quando relia o que tinha escrito, não reconhecia o autor. Mágoas, acertos, felicidades e o coração que insistia em tomar a caneta e silenciar a razão. O coração é de leão, não posso evitar. Até hoje passeio por esses contos e textos que não se decidiam entre a realidade e o sonho. Eu não era jornalista, mas escrevia com amor e vontade. Hoje, estou prestes a me tornar um comunicador e percebo que perdi o dom da conversa comigo mesmo. Já não sei mais falar abertamente com o Vinicius, porque me prendi aos malditos termos e restrições técnicas que um bom redator deve seguir. Então, dispenso o título.
Escrever é como soltar um pássaro que há tempos esteve preso e não sabe mais qual a cor do céu. Ele voa para o alto, por instinto, e quando vê o imenso azul se recorda das tantas viagens que fez. Para não deixar que tais momentos desapareçam no ar, ele canta. Eu escrevo. Acho ali um universo onde a ordem não faz sentido e as frases vão se organizando como bem entendem. Encontro ali os pulmões da criatividade, cheios de ideias e planos. Estas linhas tímidas me convidam a dissertar sobre música e toda a harmonia que puder encontrar. Marcam o momento de uma maneira única, tão única quanto as minhas várias formas de ver cada coisa. Uma rede de ações internas que mudam o batimento cardíaco e fazem a respiração ser parecida com a de uma criança ofegante. Ela corre pelas vielas do bairro atrás de uma pipa. Não quer o brinquedo, quer apenas correr. Faz o que tem que ser feito só porque quer ir além. Quando diz que ama é porque quer o beijo. Quando diz que odeia é porque quer fazer as pazes. Quando me diz que não entende é porque entendeu e não consegue aceitar. Quando fica é porque já pensou muitas vezes em partir. Quando lê é porque sabe que ainda estou aqui, nas linhas que amarram nossos espíritos.
Escrever é não revisar os pensamentos e sim confiar neles.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Desenvolver
São muitas as vielas que cruzei e vou cruzar
Se São Paulo me recusa, risco um muro e vou andar sem
dizer que fui ou aonde fui, o dia passa na batida
antes mesmo de eu despertar
Falei que luto a cada dia, evito o luto mas sei aceitar
sem egoísmo, o tempo passa e pra mim ele também vai passar e
deixa a saudade de quem soube representar a amizade, o amor materno bases que vão me sustentar
Não fui bom rapaz todos os dias eu sei! Cada erro acumulado era um amor a mais de lado
jogado, largado, no silêncio da exclusão
Reclamei da solidão mas fiz o mesmo com o coração
deixei ele no frio, sozinho e machucado, coloquei trampo na frente de tudo
e perdi o dom e o compasso
Essas vielas me conhecem, sabem que eu vi ela, sorri sem saber o porquê
agora é tarde eu to na dela, mas se um dia for na dele não erra, não é errado
sentir sem buscar os nomes é amar sem ser controlado
Foi na rua que aprendi o peso que o mundo tem
chama os chegado pro futiba na rua até às 6
Vê irmão brigar com irmão, vê a namorada mudar, vê os colegas trair a
confiança que eu dei, mas se Jah voltasse e me desse a chance de rebubinar
essa fita ia ser a mesma, fortalecer pra recordar.
Se São Paulo me recusa, risco um muro e vou andar sem
dizer que fui ou aonde fui, o dia passa na batida
antes mesmo de eu despertar
Falei que luto a cada dia, evito o luto mas sei aceitar
sem egoísmo, o tempo passa e pra mim ele também vai passar e
deixa a saudade de quem soube representar a amizade, o amor materno bases que vão me sustentar
Não fui bom rapaz todos os dias eu sei! Cada erro acumulado era um amor a mais de lado
jogado, largado, no silêncio da exclusão
Reclamei da solidão mas fiz o mesmo com o coração
deixei ele no frio, sozinho e machucado, coloquei trampo na frente de tudo
e perdi o dom e o compasso
Essas vielas me conhecem, sabem que eu vi ela, sorri sem saber o porquê
agora é tarde eu to na dela, mas se um dia for na dele não erra, não é errado
sentir sem buscar os nomes é amar sem ser controlado
Foi na rua que aprendi o peso que o mundo tem
chama os chegado pro futiba na rua até às 6
Vê irmão brigar com irmão, vê a namorada mudar, vê os colegas trair a
confiança que eu dei, mas se Jah voltasse e me desse a chance de rebubinar
essa fita ia ser a mesma, fortalecer pra recordar.
segunda-feira, 21 de março de 2011
O fim não tem fim
Não havia mais nada a ser feito. Este era o último dia de vida na Terra e o céu estava em chamas. As pedras começaram a cair. Fazia sentido. Apedrejar os pecadores, coisa de gente que se considera perfeita. Coisa de Deus.
Não queria ficar perto da minha família. Vê-los morrer, não, melhor procurar outro local para o fim. No peito, aquela sensação ruim de que estava partindo cedo e que todas as maravilhas da vida estavam explodindo junto com as rochas gigantes que riscavam o céu. Uma mistura de medo e frustração, de total niilismo e indignação. Por que nós? Somos as criaturas mais incríveis, criamos muitas coisas, superamos muitas doenças. Mas, quando prestei atenção no horizonte e vi que o sol ainda continuava belo no final da tarde entendi o porquê de estar ali, parado, em pleno fim dos tempos.
(...)
O universo. Corpo infinito, repleto de partes, partículas, órgãos, vida e ausência. A constante expansão era como o som que se propaga no ar, mesmo que este não fizesse parte da sua composição. Silêncio e ruído. Cada pedaço daquele infinito parecia se conter dentro das linhas de poeira cósmica e energia sem origem definida.
Um grão de areia estava fora do lugar.
(...)
Eu vivia em um mundo onde a causa de todos os desastres era justamente a existência da minha espécie. Seja qual for a explicação que os religiosos têm sobre os motivos da destruição, uma coisa é fato: o ser humano sempre estará lá como protagonista. A raça incrível, que podia e fazia acontecer, vivia como parasita apenas consumindo e, por motivos óbvios, reconstruia para poder destruir. Comida só remete à fome. Água à sede. Os animais irracionais dão exemplo de vida em harmonia, seguindo apenas as regras da natureza e nós, os evoluídos, somos prisioneiros das dúvidas que criamos e que insistimos em sanar, mesmo depois de descobrir que muitas delas têm respostas irrelevantes.
Nós, os abençoados por diferentes entidades, conseguimos ouvir apenas a uma delas, a que diz: "mate". Não há nascimento que compense a morte dos sofridos, nem mesmo lei que consiga punir ao ponto de retirar do coração a superfície dura do rancor. Uma nação amamentada pelo medo e suas neuroses, escrava da razão que não busca sabedoria, apenas acumula e manipula o conhecimento. Das mãos negras que recolhem ossos e diamantes. Das mãos caucasianas que engatilham a arma. Das mãos negras e caucasianas que julgam mãos que são do mesmo sexo e estão dadas. Mãos que possuem o polegar opositor.
Nesse momento, não tive mais medo. Entendi a beleza e essência daquela cena e percebi que o fim não tem fim. É apenas o recomeço que se manifesta diante dos meus olhos.
Não queria ficar perto da minha família. Vê-los morrer, não, melhor procurar outro local para o fim. No peito, aquela sensação ruim de que estava partindo cedo e que todas as maravilhas da vida estavam explodindo junto com as rochas gigantes que riscavam o céu. Uma mistura de medo e frustração, de total niilismo e indignação. Por que nós? Somos as criaturas mais incríveis, criamos muitas coisas, superamos muitas doenças. Mas, quando prestei atenção no horizonte e vi que o sol ainda continuava belo no final da tarde entendi o porquê de estar ali, parado, em pleno fim dos tempos.
(...)
O universo. Corpo infinito, repleto de partes, partículas, órgãos, vida e ausência. A constante expansão era como o som que se propaga no ar, mesmo que este não fizesse parte da sua composição. Silêncio e ruído. Cada pedaço daquele infinito parecia se conter dentro das linhas de poeira cósmica e energia sem origem definida.
Um grão de areia estava fora do lugar.
(...)
Eu vivia em um mundo onde a causa de todos os desastres era justamente a existência da minha espécie. Seja qual for a explicação que os religiosos têm sobre os motivos da destruição, uma coisa é fato: o ser humano sempre estará lá como protagonista. A raça incrível, que podia e fazia acontecer, vivia como parasita apenas consumindo e, por motivos óbvios, reconstruia para poder destruir. Comida só remete à fome. Água à sede. Os animais irracionais dão exemplo de vida em harmonia, seguindo apenas as regras da natureza e nós, os evoluídos, somos prisioneiros das dúvidas que criamos e que insistimos em sanar, mesmo depois de descobrir que muitas delas têm respostas irrelevantes.
Nós, os abençoados por diferentes entidades, conseguimos ouvir apenas a uma delas, a que diz: "mate". Não há nascimento que compense a morte dos sofridos, nem mesmo lei que consiga punir ao ponto de retirar do coração a superfície dura do rancor. Uma nação amamentada pelo medo e suas neuroses, escrava da razão que não busca sabedoria, apenas acumula e manipula o conhecimento. Das mãos negras que recolhem ossos e diamantes. Das mãos caucasianas que engatilham a arma. Das mãos negras e caucasianas que julgam mãos que são do mesmo sexo e estão dadas. Mãos que possuem o polegar opositor.
Nesse momento, não tive mais medo. Entendi a beleza e essência daquela cena e percebi que o fim não tem fim. É apenas o recomeço que se manifesta diante dos meus olhos.
Should I take a bullet from a gun?
Pegue todos os seus relatos e confissões, organize-os em textos bem escritos, publique tudo e seja infeliz.
Acordei de acordo com o dia e sua cara desanimadora. Não tomei café para amargar a boca, nem molhei os lábios. Seco.
Saí de casa com uma bola de ferro no calcanhar esquerdo e os ouvidos conspirando contra mim. Qualquer ruído era motivo para tirar uma bala da arma.
O Metrô, expressão máxima do "coletivo individual", que consegue acabar com a mágica (se é que existe mágica) da constante arte de (sobre)viver.
O que posso fazer? Não ouço a voz dos santos nem mesmo a de deus. Esqueci como se reza e de tanto cansaço deito e simplesmente durmo. Não sinto culpa pelas porcarias que fiz durante o dia. Sim, o inferno é isso, viver e não se arrepender das merdas que fez. No fundo, você sabe tanto quanto eu que só é culpado aquele que se considera assim. Gaste seu tempo e suas teorias tentando julgar alguém, para no final perceber que a culpa e algo subjetivo e a sentença para os meus pecados só eu posso dar. O conceito de "bem e mal" é tão flexível.
Coloquei "roupa de frio" e o sol faz questão de nascer. A vontade de querer andar e andar e andar... Sem rumo, horários, pessoas me esperando do outro lado da estação. Sabe aquele dia em que meus pensamentos já são o suficiente? Esqueci de esquecer o celular.
O mundo vive , tudo prossegue normal até onde eu sei. Escrever é a chance de burlar tal normalidade. Normatização, mecanização, inibição, reação , revolução, destruição, reconstrução. Se eu fosse deus, escreveria dessa maneira, bem simples e direta.
Saber de tudo, ter lido tudo, ter visto tudo. A língua se torna uma enciclopédia de arrogância e insegurança. A prepotência foi temperada com sal ao invés de pimenta. Tira o sabor verdadeiro do conhecimento e não queima a língua quando esta deve ser queimada.
Ser triste é diferente de ser depressivo e está muito distante de ser humano. Ser feliz é diferente de ser alegre e está a quilômetros de distância de ser apenas humano. Às vezes eu acho felicidade no simples olhar da minha gata, a Vicky. Também encontro alegria na aula que não acontece ou na conversa rápida, na saída da biblioteca. Tristeza e depressão? As entrelinhas tomam conta dessas duas.
A solidão... Como esquecer? Não quero esquecer. Ela está aí para ser vivida também. Na verdade, nem tento explicar, nem sei por que falei dela ou dele, ou deles(as)...Enfim.
Preciso achar um caminho alternativo. Preciso achar uma preocupação maior. Uma preocupação que seja só minha e não do mundo. Não quero mais resolver os problemas dele. A menos que consiga resolver os meus antes, o resto do peso não cairá mais sobre minhas costas.
O que aconteceria se eu esquecesse o caminho de casa?
Acordei de acordo com o dia e sua cara desanimadora. Não tomei café para amargar a boca, nem molhei os lábios. Seco.
Saí de casa com uma bola de ferro no calcanhar esquerdo e os ouvidos conspirando contra mim. Qualquer ruído era motivo para tirar uma bala da arma.
O Metrô, expressão máxima do "coletivo individual", que consegue acabar com a mágica (se é que existe mágica) da constante arte de (sobre)viver.
O que posso fazer? Não ouço a voz dos santos nem mesmo a de deus. Esqueci como se reza e de tanto cansaço deito e simplesmente durmo. Não sinto culpa pelas porcarias que fiz durante o dia. Sim, o inferno é isso, viver e não se arrepender das merdas que fez. No fundo, você sabe tanto quanto eu que só é culpado aquele que se considera assim. Gaste seu tempo e suas teorias tentando julgar alguém, para no final perceber que a culpa e algo subjetivo e a sentença para os meus pecados só eu posso dar. O conceito de "bem e mal" é tão flexível.
Coloquei "roupa de frio" e o sol faz questão de nascer. A vontade de querer andar e andar e andar... Sem rumo, horários, pessoas me esperando do outro lado da estação. Sabe aquele dia em que meus pensamentos já são o suficiente? Esqueci de esquecer o celular.
O mundo vive , tudo prossegue normal até onde eu sei. Escrever é a chance de burlar tal normalidade. Normatização, mecanização, inibição, reação , revolução, destruição, reconstrução. Se eu fosse deus, escreveria dessa maneira, bem simples e direta.
Saber de tudo, ter lido tudo, ter visto tudo. A língua se torna uma enciclopédia de arrogância e insegurança. A prepotência foi temperada com sal ao invés de pimenta. Tira o sabor verdadeiro do conhecimento e não queima a língua quando esta deve ser queimada.
Ser triste é diferente de ser depressivo e está muito distante de ser humano. Ser feliz é diferente de ser alegre e está a quilômetros de distância de ser apenas humano. Às vezes eu acho felicidade no simples olhar da minha gata, a Vicky. Também encontro alegria na aula que não acontece ou na conversa rápida, na saída da biblioteca. Tristeza e depressão? As entrelinhas tomam conta dessas duas.
A solidão... Como esquecer? Não quero esquecer. Ela está aí para ser vivida também. Na verdade, nem tento explicar, nem sei por que falei dela ou dele, ou deles(as)...Enfim.
Preciso achar um caminho alternativo. Preciso achar uma preocupação maior. Uma preocupação que seja só minha e não do mundo. Não quero mais resolver os problemas dele. A menos que consiga resolver os meus antes, o resto do peso não cairá mais sobre minhas costas.
O que aconteceria se eu esquecesse o caminho de casa?
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