"No começo eu não percebia. Elas ficavam rindo de longe. Depois de alguns meses, descobri que era por causa do meu peso. Evitava as aulas de educação física. Evitava usar blusas que mostrassem meus braços. Eu evitava a mim mesma, todos os dias.
Não era sozinha por completo. Tinha minhas amigas e amigos. Com eles, meu coração se enchia de alegria. Eu podia ser o que sou, rir e chorar como qualquer outra pessoa. Nunca me senti mal de verdade por ser assim. Para mim, é normal. E o que é anormal? Me pergunto todos os dias. Talvez, quando encontrar a resposta, pare de me importar com o que os outros dizem. Porque eles falam sem ter levantado tal questão a respeito si mesmos.
Me apaixonei muitas vezes. Tudo em silêncio. Só quem ouvia meus pensamentos era o coração."
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"Ela tinha os olhos mais lindos. Eram verdes. Minha cor favorita. Fiz questão de aprender a "língua" dela, para poder elogiar aquele par de esmeraldas. Mas ela nunca quis aprender a ler meus sinais... Gostei muito dela. Tudo em silêncio".
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"A voz dele acalmava meu espírito. Nunca vi um rosto. Nunca vi o mundo. Nasci no escuro e minha conexão com o mundo exterior se fazia pelo silêncio. Tudo em silêncio. Todos os dias nos encontrávamos e a conversa fluía como um rio selvagem. Não tinha um caminho certo. Era possível falar de tudo, sem que os olhos julgassem o que era certo ou errado.
Ao tocar minhas mãos, ele me fez sentir as batidas fortes do coração. Ao me beijar, provou que a respiração pode se tornar algo mais forte do que qualquer frase. Nessa hora, percebi que sentir é bem melhor do que ver. Tudo em silêncio."
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"Nós duas caminhávamos pelo parque quando avistamos aquele pequeno cão. Estava faminto e com as costelas tentando fugir do corpo. Por alguns segundos olhamos seus olhos e depois nos olhamos. Tudo em silêncio. Se o mundo nos privava do direito de ter um filho, a mãe natureza nos dava a chance de formar uma família. A nossa família.
Ali nascia Joshua, nosso primeiro filho. O amor é assim".
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"Fomos ao cinema e por alguns segundos tive o que tanto quis. A sensação de pertencer. Nos pequenos gestos senti que podia descansar meu corpo e ser envolvido por braços que me protegessem. Eu que tanto lutei sozinho, percebi que batalha nenhuma tem valor se ao vencer não houver um amor à espera. Tudo em silêncio. Observei quando você se foi, esperando por reticências..."
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