sábado, 29 de maio de 2010

Roubou meus lábios

Sem palavras, sem saber o que fazer daqui pra frente. Medo de ter acabado com algo tão valioso e feliz por ter sido sincero comigo mesmo e com a outra pessoa. O melhor beijo de todos, o melhor abraço, o melhor silêncio.

Já não me lembrava mais de como era bom ficar de mãos dadas.

É isso.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

160 balas de Desert Eagle não me renderiam um dente de ouro

Pós - chuva, pós - esperança, pós - pulmões doentes. Aquela dose perfeita de gasolina, aquela sensação de que meu corpo está em chamas. Resolvi andar mais rápido para chegar mais rápido. Guardava no bolso esquerdo sete crânios e um deles estava em forma de anel. Resolvi entregá-lo pessoalmente a um velho diabo que assim como eu, rabiscava as páginas do destino com o próprio sangue, vindo das mãos.

Eu idealizava alguns momentos, esperava que eles se concretizassem. Até ri por alguns segundos, feito idiota mesmo. Cheguei na cidade. Típico buraco no meio do deserto, imagem mais linda não poderia existir. Caminhei alguns passos buscando com olhos selvagens o primeiro bar que estivesse com as portas bem fechadas. Achei. Entrei. Olhei. Bebi. E perguntei se alguém conhecia o velho diabo destruidor de corações. Óbvio que conheciam, mas tudo tem um preço , inclusive me dizer aonde de fato ele está trancado.

Durante o caminho eu encontrei uma velha cigana, cega de um olho. Ela pediu dinheiro em troca de ler minha mão. Eu estava sem um puto. Mas disse a ela que pagaria pelo serviço. Pois bem, ela pegou minha mão e começou a tateá-la, em seguida, fez uma cara de que tinha lido a própria sentença nas linhas pagãs. Disse que meu nome pertencia a uma das 7 maldições do deserto, que eu carregava nas costas o caos. Ok, pra finalizar com chave de ouro a bruxa do oeste revela que ainda assim eu vou me salvar, pedir perdão ao mundo e alcançar um lugar na luz, ser alguém muito bom que ajudaria crianças e velhos.

Quando eu disse que não pagaria por ter ouvido aquelas merdas ela tirou um punhal e cortou meu pulso. Nada muito profundo, mas profundo o bastante para me deixar muito magoado. Acendi o cigarro que havia feito com palha do deserto, traguei aquela porcaria, olhei para a nobre desgraçada e tirei, delicadamente, o seu dente de ouro. Como? Bem, depois do corte ela tentou me morder, eu dei um passo para traz e na segunda investida da velha coloquei a âncora que carrego no pescoço bem entre seus velhos dentes. Pronto, sem sangue, com dor, e muita, mais muita classe. Afinal, estou lidando com ouro! Ouro esse, que serviu de pagamento pela informação que buscava. Agora eu sei onde o diabo velho se esconde.

Lá vou eu, encontrar a mim mesmo.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Hoje fez frio no deserto

Muitas semanas caminhando à beira da estrada. Sem haver uma trégua entre eu e o sol. Pensando muito sobre os últimos acontecimentos, sobre a falta de um lugar para ficar, a falta de ter algo bom para comer. Os cigarros acabaram, a bebida também e o corpo começa a voltar para a realidade, começa a chorar por alimento, a pedir as coisas. Não tinha mais toxinas para enganar as necessidades básicas. Bem vindo ao mundo real. Carros passando, pessoas me olhando ... A próxima cidade ainda está muito longe. Dormir no chão duro, apenas forrado por areia e admirar aquele céu estrelado, aquela lua amarelada. Nem tudo era só desgraça. Odeio admitir, mas meus olhos ficavam cada vez mais apaixonado por aquele deserto infinito que mais parecia um oceano de solidão e paz.

Acordei no outro dia sentindo algo que há muito tempo não sentia: Uma gota tocando meu rosto. O deserto estava chorando. aproveitei para tomar um "banho", lavar a carne praticamente seca. Sorri sozinho e fiquei encantado com o barulho das gotas explodindo no solo morto. Percebi que a vida voltava a aparecer, que as nuvens cinzas eram mais belas do que eu imaginava. Deixei as malas para trás, corri durante muitas horas, bebi a água dos céus. Mas nem por isso senti que os pecados haviam me deixado. Não era uma momento de redenção, e sim de libertação.

Lembrei de um dia em que estava junto de um grande amigo e ele reproduziu o barulho da chuva com uma espécie de chocalho. Foi incrível, fechei os olhos e praticamente senti a tempestade e sua força. Agora que o céu voltou a ficar azul e o cretino do sol já me secou, vou atrás desse meu amigo. Preciso que ele me faça lembrar do canto da chuva mais vezes.

Get your guns, boy! I'm coming.

sábado, 22 de maio de 2010

Mais forte que o sangue

Eu já havia esquecido das horas, pensei que seria mais um dia perdido. Mais um dia comum. Então, o vento me trouxe suas palavras que, como um elixir, reviveram meu coração e com isso lembrei que já não estava mais tão livre assim. As chaves brilhavam como jóias e a vontade de abrir logo as portas para ti secava meus lábios. Eu sabia, que em alguns minutos estaria novamente completo.

É difícil falar de um sentimento que todos dizem conhecer. Falar de felicidade muitas vezes é fugir dos padrões estabelecidos e assumir para si mesmo e para o mundo que o que te faz bem provavelmente dura tempo o bastante para que só você entenda o que está vivendo. Foi como se o mundo todo se calasse, tentando ouvir o que dizíamos um para o outro. Não havia mensagem que desviasse meu olhar do seu, nem mesmo a presença de terceiros. Um magnetismo muito forte envolto por uma música que me lembra o "fim". Voltei aqueles dias em que quis e mesmo colocar fim no sofrimento, estava sem esperança alguma, achando que jamais voltaria a ter algo tão importante: Você. Foi então que uma voz incomum entrou nos meus ouvidos e me fez perceber que esse "fim" nada mais é do que o começo do novo, o sentimento de felicidade que como uma Fênix, renasceu das cinzas e veio me aquecer. Me senti tão vivo que até dor senti, tão feliz que pensei por alguns segundos em desaparecer.

terça-feira, 18 de maio de 2010

A única exceção ...

Veio sem explicação mesmo. Assim, de repente. Sorrindo como se a felicidade não fosse algo tão raro hoje em dia. Sabe quando você tem todas as certezas postas a sua frente, e alguém aparece justamente para fizer que as formas estão erradas e os lugares não pertencem mais a própria realidade? Então, a única exceção foi deixá-la se aproximar.

Eu escuto aquela música, deixo que corra por debaixo da minha pele, viajo, mas nunca sozinho. Fico idealizando a vida ao lado de outra pessoa. No começo sei que tudo é mais nítido, tem um perfume muito mais sedutor, e as palavras sempre soam como poesia. Mas não consigo imaginar nada depois disto, ou além disto. Fico preso à sensação maravilhosa de que a outra pessoa vai caminhar sem medo pelo longo labirinto que se fez na minha mente. E as novas formas de amar não me chamam tanta atenção assim, as novas regras de relacionamento, a liberdade que, no final, prende mais ainda os corações em pequenas jaulas. Não estou aqui para isso, pelo menos não durante essa música.

As noites se silenciam, as luzes se apagam, os cigarros já não estão mais no seu bolso. Para onde ir? Já conseguiu toda a liberdade que tanto pediu, já se entregou para outros corpos afirmando assim aquelas necessidades que você diz serem tão essenciais. E agora? No fundo do seu peito bate um coração e nele está o CEP do nosso mundo, da nossa casa, é para lá que você volta, com suas asas cansadas, esperando que meus braços te salvem. Neste momento eu tenho certeza que essa liberdade que você buscou só te firma mais ao meu lado, enquanto eu não preciso ir muito longe para me sentir vivo, para me reconhecer no espelho. Não preciso de mais pessoas para me explicar por que eu me deixei pertencer a alguém que não sabe o que quer de fato. E não precisa saber, apenas reconhecer.

A natureza das pessoas é algo incrível, tão incrível que pode ser justamente a causa de sua ruína. Eu nunca falo sobre minha natureza, porque não penso sobre ela ou tento conceituá-la. Não é falta de paciência, de tempo ou disposição, eu acredito mesmo que se eu descobrir minha natureza ela não será mais tão verdadeira assim, não será aquilo que nasceu para ser ... Natural! Meio complicado? Sim, então eu deixo ela lá, dizendo quando vou sentir frio na barriga ao ver aquela pessoa, ou quando vou sentir um calor extremo quando suas mãos tocarem meu rosto.

Eu os vejo... ela de um lado, linda, tão suave ... parece uma brisa de primavera. Ele, intenso, queimando feito chama de vela, chamando atenção de todos a sua volta, com seu brilho próprio. Ambos são como pinturas em minha parede, eu os observo, sinto suas necessidades, ouço suas melodias e quando os toco percebo que não estou tão livre assim. Passei a dar outros significados aos elementos do meu cotidiano, escadas já não são simples escadas, mesas já não são apenas mesas... O que fazer quando seu mundo se divide em dois? Mas seu coração ainda é um só? Se eu tenho resposta pra isso? Posso até ter, mas esta é só mais uma exceção.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

You can be my sugar, be my Cherry Cola

Sinto sede em quase todas as situações. Frio, calor, chuva, sol, raios, fogos de artifício. A mala estava pesada, além do maldito cheiro de álcool que eu exalava. Achei aquele bar na beira da estrada. A paisagem me era familiar: Deserto, um tom amarelo que dizia "Atenção, melhor mudar de rumo". Entrei no boteco.

Quase como num ritual todos os cavalheiros e damas presentes olharam para a minha cara, esperado que eu sacasse uma arma e matasse a todos. Eles queriam ser parte de um filme qualquer, e eu achando que estava lendo suas mentes. Pedi uma dose de gim puro pro dono do inferninho, ele encheu o copo e depois enxugou o rosto gordo e avermelhado num avental tão imundo quanto o resto do balcão. O Jukebox tocava Eagles of Death Metal, e as dançarinas se divertiam. Aquelas mulheres eram fantásticas, seios enormes, loiras, sem nenhuma bunda, pernas finíssimas, cicatrizes por todo o corpo e o olhar mais vazio do que minhas promessas. Dançavam não para os gordos e falidos do local, dançavam para o diabo, para si mesmas. Era uma visão bem singular, era uma beleza que tinha gosto de "Cherry Cola". Quanto aos homens? Porcos, nenhuma novidade. Alguns esperando um motivo simples para brigar, outros apenas parados ali porque sabem que o som da voz de suas esposas escrotas não chegaria até seus ouvidos se ficassem bem quietinhos no canto do bar. E eu ? Magro, feio, mal alimentado, ateu, cretino, sarcástico, enfim, tudo isso foi o que uma das dançarinas me disse quando eu perguntei sobre uma de suas "tatuagens" (cicatrizes).

Ficar ali me encantava unica e exclusivamente pela possibilidade de observar as pessoas, suas manias e vícios, seus gestos amaldiçoados. Não tentava achar poesia neste momento, o que eu queria mesmo era me sentir menos perdido no meio dos condenados. Era uma fuga, olhar para um cara gordo e todo cagado e pensar "Minhas roupas de baixo ainda estão limpas, mesmo sem tomar banho há dois dias". Ok, peguei pesado, mas vocês não tem idéia de como era nojento aquele monte de carne com barba e boné trucker. Acabou a bebida, eu resolvi levantar e dançar ao som de "Solid Gold". Em poucos minutos um cara levantou e jogou uma garrafa na minha direção , acertando bem em cheio meu peito. Olhei para minha corrente de âncora e percebi que ela havia quebrado, não o pingente, mas a corrente que o segurava. Limpei a obra de arte, olhei para o artista e fui pedir um autógrafo. Ele, todo pronto para me contemplar com mais atos irreverentes pegou a cadeira em que estava sentado e jogou na minha direção. Errou. Infelizmente, errou em um momento que precisava muito acertar. Pedi para o dono do bar me descer mais uma dose de gim, peguei o canalha pelo pescoço, quando ele tentou reagir eu apaguei o resto de cigarro que tinha nos dedos bem em seu olho esquerdo. Claro, ele gritou feito uma puta grávida. Peguei meu copo de gim, arrastei meu amigo artista para fora do bar, dei um gole bem carinhoso, dividi o resto com o peito dele, peguei meu isqueiro e também fiz uma pintura na sua carne. Deixei o infeliz queimando, torrando e tudo isso com a benção do sol do deserto. Voltei, paguei 1 dose apenas, ganhei um beijo da loira e sai.

O dia já estava homenageado, além do mais, não é todo mundo que comparece a tal exposição de arte e ainda tem o privilégio de interagir com o artista.

Próxima parada: Hellville.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Me batizaram de Veny, Veny D Devil

Já acordei indisposto. Maldito sol dos infernos queimando meu rosto, a boca colando e o braço dormente. Aquele velho cretino começou a bater na porta, freneticamente. O desgraçado sabia que eu estava lá, mesmo com tudo completamente mergulhado no silêncio. Calcei minhas botas, peguei um cigarro, dei um bom gole no café de anteontem e fui para o quartinho dos fundos. Ele começou a gritar meu nome pelo corredor dizendo que ia me chutar dali, esfolar minha fuça, essas coisas que só cuzões falam quando querem matar alguém. Ele podia continuar batendo na porta, mas se tem uma coisa que eu odeio são pessoas que falam alto, pior ainda quando elas decidem gritar. Abri a caixa que ficava debaixo da cama e tirei um pacote. Fui andando até a porta, respirei fundo , olhei para Deus e disse "Estou fazendo as malas, old man". Abri a porta.

Senti aquele líquido quente escorrendo por entre meus dedos, ainda com o cigarro nos lábios eu senti meu peito sair do ritmo duas vezes. De repente as mãos ficaram dormentes, percebi que haviam dentes cravados nos meus dedos. O soco inglês desfigurou o velho maldito e ele começou a berrar mais ainda. Arrastei aquele corpo imundo para dentro do meu lar e então enfiei em sua boca 3 cebolas. Foda-se, foi a primeira coisa que veio na minha cabeça, e também só tinha isso dentro da geladeira.

Bom, em seguida amarrei ao brinco de argola que ele usava na orelha o gatilho de uma velha Calibre 38 de tinha deixado como parte do pagamento pela hospedagem. Quando saí daquele lixo dei mais três passos, percebi que o sol estava mais laranja do que o de costume e então entendi o que estava acontecendo ali: Era meu batismo de fogo. Mais três passos e o som de tiro cortou o ar. Em seguida uma explosão. Explosão? Porra, mais uma vez esqueci a merda da chave do gás ligada. Enfim, de um lado alguém me chamou "Veny!", do outro as velhas decrépitas gritaram , "The Devil!". Eu disse "Amém", e assim recebi meu novo nome.

O deserto era minha próxima parada. Só ele pode me entender.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Não os vejo

Tornaram-se invisíveis, intocáveis. Parece que abandonaram a língua local e falam um dialeto incompreensível. Estão espalhados como vultos pelas ruas das cidades, caídos, falidos, destroçados. Recebem de nós, os limpos, alguma ajuda e toda a indiferença. As pequenas estrelas de níquel servem como uma espécie de bala, entrando por suas testas, fazendo com que se afastem de nossas propriedades, de nossas carruagens. Carregam consigo o abandono do mundo e ainda são acusados de acomodados, de fracos ou até mesmo de cretinos. Se arrastam de canto em canto lutando pela sobrevivência. Sobrevivência esta que garantirá apenas mais uma dia de vida na miséria. A existência cheira a desgraça e os valores da nossa sociedade limpa não estão mais voltados para suas ações.

Eu me sinto um verme. Me sinto abandonado pelos meus pensamentos quanto tento imaginar uma alternativa para esta droga de realidade que tira dos humanos o direito de "ser humano".

terça-feira, 4 de maio de 2010

Nos permitimos pertencer

Ainda não encontrei nada melhor do que aquelas conversas de segunda-feira, arbitrárias e pagãs. Conversamos através das entrelinhas. É cansativo ter que buscar meios e formas de explicar os sentimentos, então para que não caia na rotina tentamos nos entender apenas através de "meias-palavras". Isso deve parecer horrível para aqueles que nascem com a objetividade correndo nas veias ou correndo em um ritmo acelerado e frenético. Bom, para nós é algo fundamental, esquecer do tempo e deixar ele correr livre, assim esquece de nós, esquece de nos apagar.

É diferente, é como conversar através do silêncio. Os olhares às vezes fogem, mas na grande maioria preferem ficar colados. Eu não te construí para que se sustentasse com as minhas pernas, e você procurou outras para se apoiar. Agora os passos voltam a ser dados, lentamente, respeitando as suas dificuldades. E eu estou ali, te observando, admirando o caminho que você está fazendo e que te levará a mim. Pode soar pretensioso, mas não é.

Sempre falo a dois, sempre te incluo nos meus diálogos, sempre ouço sua voz sussurrando no meu ouvido as frases que diria se estivesse de fato aqui. Respeito a sua ausência. Economizo nas palavras, eu sei, mas abuso dos atos.

Tudo o que precisamos é isso, esta atmosfera sem nome, esse relacionamento sem nome, sem explicação, que liga às 4 da manhã só para saber se o outro está ali. Que pede pra fugir sem precisar dizer o motivo, que desenha os caminhos com toda a incerteza de quem nunca viveu o que está vivendo. Eu só preciso de você, e você de mim. O mundo pode continuar existindo, mas de nós ele só terá as pegadas.

Liberdade é poder escolher a quem pertencer, sem medo de se tornar preso.