quarta-feira, 5 de abril de 2023

Será que ainda?

Foram as poucas verdades que trocamos capazes de colocar sua presença como o teto das minhas ideias, para onde olho antes de dormir e tento imaginar a quantos anos luz estão os meus quereres dos seus. De longe, sinto sua falta, mas nego. Antes, queria saber se você sente a minha.

O silêncio que nos define, hoje, marca também uma insegurança compartilhada. Tento eu tratá-la como orgulho, como vingança, qualquer outro sentimento que não me coloque de joelhos, novamente, diante da vontade de te ver, conversar contigo, sentir seu cheiro quase indetectável, ouvir a voz suave e cansada de quem, no fundo, gostaria de ter vivido o pleno pico da sua energia vital.

Eu queria conversar e não consigo porque me limito à pequenez do que me resta de brio. Assim os meses se vão. No lugar, um branco absoluto que nada marca para a memória do amanhã. Nós dois estamos escrevendo o tempo perdido e dele só recordaremos, talvez, da vontade oculta de se encontrar mais uma vez.

Falo por mim e por você porque ainda te sinto. Não vir atrás de mim, ficar aí no seu canto, com sua vida, interagindo com outras pessoas como se tudo o que passamos não fosse nada além de uma época fadada a crescer e se tornar chata, entristece-me. É uma tristeza diferente, porque identifico nela a mim mesmo. 

Marca-me a pele do espírito como se desse a ele corpo. A tristeza diferente que dói, mas não indigna. Diferente porque é conhecida e atende pelo meu nome, mas estranha quando conto sobre o que machuca. Parece que nunca me viu e desaparece quando eu a vejo. Diferente porque é paradoxal, trata o mais do mesmo como nunca visto antes. Quando escrevo sobre ela, sou descrito.

Tentar definir o amor é fuga para não lidar com a falta de certeza que ele essencialmente carrega. Se ama, treme. Perde base, vive em risco. E eu não sei se amo como tratam por amor as letras das músicas que gosto de ouvir quando estou triste. Defino que é amor porque assim fica mais fácil sofrer. Fica mais comum, diferente da tristeza – aquela estranha.

Diga se ainda pensa em mim, mas não para mim. Diga a você mesmo. Façamos diferente desta última vez.