quinta-feira, 28 de abril de 2011

Aqui, ninguém vai pro céu

Foram muitas páginas de um romance trágico e cheio de amor. Um amor que resistiu à balas e explosões, mas que foi sufocado com as cinzas de uma família destruída pelo ódio alheio. Durante tal jornada literária, pude sentir a cicatriz de David queimando no meu rosto. Ela fazia lembrar de todos os sonhos roubados e, principalmente, da crueldade dos seres humanos. As oliveiras ainda estão lá, se recusam a cair. As pedras são como abutres no aguardo do abraço delicado, presente do deserto que ali se forma. Cada palestino morto apagava do céu uma estrela.

Reconstruí as casas e os cheiros, as cores e os rostos dos personagens. Seu jeito de falar e a maneira de agradecer ao seu Deus eram representados na minha mente. Mesmo com tantos detalhes que deveriam me distanciar daquelas pessoas me senti igual. Semelhante, familiar, pois partilhei do elo mais forte: partilhei da sua tristeza. Chorei em silêncio, assim como choravam as mães marcadas pelo terror e sem emitir som - não queriam chamar a atenção dos algozes. O amor me tomou por alguns segundos quando a esperança renascia com uma nova criança na família. Mas a realidade não gosta de passar despercebida. Batia à porta dos alegres e depositava em seus copos uma dose pura de dor. Os sorrisos eram como flores, tinham tempo curto de vida e plenitude.

E o Deus estava surdo e cego. Era tão prisioneiro quanto os refugiados. Deus foi sequestrado há muito tempo e quem está em seu lugar é o irmão gêmeo, o Diabo. No lugar aonde o deixaram o som não entra. Os apelos não são ouvidos e os rostos dos falecidos se apresentam como sonhos, ou melhor, pesadelos. Deus está vencido, pois toda a complexidade que nós humanos aplicamos à sua existência fez dele algo distante e inalcançável, algo superior e egocêntrico. Essas características pertencem ao demônio. O humano erra e paga por isso. Ele está em tudo, menos em nós.

A areia que invade as casas resgatam as perdas. Areia de ossos, de resto de pessoas que um dia deram à terra força e vitalidade. A eterna briga por espaço esconde o fato de que todos já ocupam algum lugar. Linhas e demarcações são obsoletas se comparadas à imensidão do coração do pai que, sem opção, não pode enterrar o filho. O deserto que ali se forma, já tem pedras o bastante.

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"O dinheiro atrapalha o amor"

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Quantos foram os dias de felicidade na sua vida? Consegue se lembrar deles? Ótimo. E hoje você é feliz? Interessante, e por quais motivos se mantém assim? Ok, certo, se te faz feliz, vá em frente!

Você é contra tantas coisas, mas é incapaz de ser contra sua própria intolerância.

Sabe o significado de muitas palavras, mas se faz de analfabeto quando precisa interpretar algo fora do seu vocabulário viciado.

Dá soco, chute, cospe, berra, ameaça. Vai dormir, perde o controle da consciência e sonha que chora como uma criança faminta. Acorda e desconta as inseguranças em quem não tem mais nada a perder.

Marcaram encontro no debate sobre a Palestina e Israel. Apresentaram suas teorias e demonstraram muito conhecimento sobre o assunto. Enquanto isso, duas crianças que atiravam pedras nos escudos dos soldados levaram tiros que atravessaram bocas e narizes.

Estudar a periferia, estudar o pobre, estudar o motoboy. Fazer matéria sobre o boteco com batata em conserva, buscar conversar com pichadores e mães solteiras. É legal usar as cobaias para manter a pose e a social.

Lide perfeito, frases sem erros gramaticais, parágrafos com tamanho ideal. Não me diz nada. Não há diálogo. Não há texto.

Muitas risadas. Piadas bem elaboradas. Sim, engraçadas. Falam alto, pegam no meu braço. Promessas surgem como bolhas que sobem para a superfície do oceano. Não sorri uma vez.

Já disseram que meu sobrenome é de pobre. Minha casa é pobre e meu bairro também. Não acredito em classe média. Proletário, burguês, rico e pobre. Reconheci essas duas realidades ao longo de 23 anos. O resto é pura vaidade. Quem vive no meio não pertence nem a si mesmo.

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"Use sua raiva para construir (sua rebeldia é premeditada)".

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Enquanto eu sentir, vou ser infeliz.

Um comentário:

jaqueline disse...

Tão doce, mas tão amargo...