domingo, 16 de junho de 2013

O preço do maço

Fodi com tudo. Eu sei, tô ligado. Mas mesmo assim vocês ainda fazem questão de me jogar na cara tudo o que joguei nas suas. Eu jurava que seria tão efetivo quanto um tiro de calibre 38. Infelizmente não foi.

Foda-se, decidi que o emprego me custava muito caro. Diariamente, pequenos atos iam descontando valores altíssimos da minha saúde mental. O "bom dia" me custava um dente do sorriso; o aperto de mão era pago em nada suaves parcelas de estalos ósseos que camuflavam o ranger furioso dos dentes; o "sim" não podia ser pago a prazo - a resposta afirmativa exigia ação instantânea; no final do expediente, assim como no final do mês, só me restava dívidas a pagar. No final das contas, o prejuízo era meu.

Sem emprego e com a mente ainda inquieta e faminta. Ignorei o som do estômago roncando para dar de comer à imaginação. Na traseira da minha cabeça eu achava que estava escondido um baú do tesouro cheio de joias literárias. Pensei ser o Hayreddin Barbarossa em carne e fosso. Que babaca. Jamais seria um bom escritor a ponto de sustentar os maços de cigarro com palavras viciosas. Pouco fluía. A criatividade não se submete à vontade do homem, pior ainda se for um qualquer enroscado na barba ruiva da incerteza. Genuinamente perdedor.

Não dei a volta por cima. Continuei assim até que a vitalidade decidiu se aposentar. Ossos à mostra, garganta enferrujada, pálpebras incapazes de repelir a luz e o ábaco de costelas que contava cada grama a menos adquirida ao longo dos anos. Eu era a réplica da miséria, sem compromisso algum com os olhos dos outros. Típica pintura inacabada que causara no artista a prematura sensação de sucesso. Promessa vaga. É isso, eu sempre fui uma promessa vaga. Genuinamente falso.

Solitário e, se rodeado, sufocado o bastante para desejar um galão de gasolina e o cigarro aceso - ambos prontos para chamuscar toda a porra de festa/reunião/happy fucking hour na qual insistem em invocar minha presença. Certa vez, sonhei que entrava numa dessas celebrações sem conhecer as pessoas presentes. Passei pela multidão deixando um fino rastro de nicotina, apenas uma mostra do perfume que se passa por dentro do corpo. Todos riam, tocavam-se, bebiam feito leitões ao meio dia e eu fingia não me importar com nada. Discretamente, peguei meu isqueiro e acendi mais um cigarro - não para mim, mas para a cortina. Fumou a todos numa tragada só.

Amigos se foram. Família foi abortada. Os amores? Todos contribuíram para o câncer no coração que hoje me faz acordar de madrugada e beber um coquetel de remédios batizado com vodka. Eles não têm culpa. Nenhum deles. Eu quis assim, sem açúcar, sem gelo, sem filtro, sem analgésico. Eu quis e posso reclamar o quanto quiser. Desejei minha própria queda para não dar aos ratos o gosto de se autoproclamarem morcegos - jamais olhariam para mim do alto.

Genuinamente vilão.

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