sexta-feira, 14 de junho de 2013

Dancei porque estava triste



Tranquei a porta do quarto e separei os discos que iria ouvir. Meus pais estavam velhos demais para checar o que eu fazia no andar de cima e meu irmão havia viajado. Senti-me dono do espaço. 

Peguei a garrafa que há meses se escondia no fundo falso de uma gaveta da cômoda e enchi o copo. Tirei o tênis, liguei o som, aumentei-o o máximo que pude e então dancei. Dancei pela tristeza. Por não estar em par – só ímpar. 

Pisava em toda angústia acumulada ao longo dos anos, esquecia-me da sua silhueta a cada giro solitário em torno do meu próprio corpo. Balancei as ideias enquanto a cabeça se banhava de álcool e assim fui realizando minha própria valsa. Meu batismo. Celebrei então a tristeza que, discretamente, revelou-se uma ótima professora de bailado. 

Dancei sem traçar sorriso nos lábios. De olhos abertos, vidrados no nada que me pertencia desde o seu “adeus”. Dancei por mim, mas por você também. Contorci os músculos da barriga, das costas, do tórax assim como você havia feito com os do meu coração. E bati, bati forte os calcanhares em perfeita sincronia com os bumbos de bateria e investidas de contrabaixo responsáveis pelo peso da música – e o meu. 

Cada gole, cada gota de suor, cada parede distorcida e palavra intrusa que eu inseria nas letras das canções me libertavam do mundo e de suas regras idiotas. Pouco a pouco, consegui apagar as lembranças e recordei-me apenas de que ainda não tinha dado “play” na música.

Dancei porque estava triste. E a tristeza se basta.

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