Durante minha adolescência não tive muito contato com
livros. Passava a maior parte do tempo na rua, com meus colegas. Lá, conheci
histórias de todos os tipos e, indiretamente, absorvi cada uma delas como
páginas e páginas de livros fantásticos. Tão fantásticos que só existiam na
minha mente.
Em contrapartida, eu gostava muito de escrever – e isso não
é novidade, afinal, dediquei vários dos meus textos à admiração que tenho pela
literatura. Engraçado pensar que hoje eu leio muito e sinto como se já tivesse
imaginado, nem que por alguns segundos, os conteúdos a mim apresentados.
O prazer que tenho ao adentrar numa nova história se deve à
curiosidade. No caso, ela se transforma não no sentimento de “lidar com o
desconhecido”, mas de encontrar no desconhecido o que eu – em algum momento
daquelas horas gastas nas ruas e calçadas – conheci. Não me sinto escritor,
porém acredito que todos nós temos a chance de escrever com gosto. Creio nisso
porque não tenho fé nas inspirações divinas ou nos dons. É uma questão de
percepção. E vontade.
Voltando à leitura,
desconsidero qualquer indicação que seja definida por terceiros como “obrigatória”.
Se não há prazer no ato de alisar frases com a ponta dos cílios então não
estamos falando de leitura e sim do ato de ler. Se não existe a oportunidade de
escolher uma publicação e também ser escolhido por ela, pouco importa o
desenrolar dos fatos ou a diagramação das páginas. Faz-se indispensável alguma intimidade
– ou perda de vergonha – ao se trancar no quarto com uma obra sedutora e interessante.
Seja pelo perfume com odor de mistério ou textura de capa que remete à pele
sedosa, não se pode negar o fato de que terminar um livro é, grosso modo, gozar
do prazer de ter entregado ao autor seu corpo e alma – em outros termos, seus olhos
e sua sensibilidade.
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