Acabou. Quem diria
que um dia
eu diria a mim mesmo
“acabou”?
E acabou?
Você busca alguma coisa capaz de reviver o sentimento há
tempos cultivado com carinho e não consegue encontrar nada. Vazio. Seria
perfeito se não tivesse levado consigo toda a consideração e relevância que
antes me fazia esperar por uma mensagem, um convite e um abraço.
Só que é assim. Depois dos picos de depressão sobra apenas a
raiva por ter perdido tanto tempo. E o espelho olha pra você um dia e diz: que
merda é essa? Vai ficar assim mesmo? Não, sai dessa logo.
Caminhei por aí com cadarço desamarrado, com cigarro nos
lábios, sem muita grana na carteira, mas com uns trocados no coração e gana na cabeça. Com vontade de
beber, vontade de não te ver, de nem ter te conhecido, de ter vivido numa outra
rua, estudado em outra escola e ter aceitado outro convite para o cinema. Tantas
vontades, pra falar a verdade. Desejo de ter vivido outra vida, pra falar
mentira.
Caminhei
Por aí com cadarço
Desamarrado
Com cigarro
Nos lábios
Sem muita
Grana
Sem muita
Gana
Caminhei
Por aqui com vontade
De beber
Com a meta
De não te ver
Nem ter te conhecido
Nem sorrido
Nem partido
Andei pra ver se o pensamento se alinhava, sabe? ?Olhava
para os outros que nem me percebiam. Todos com algum foco, alguma meta, algum
compromisso ou promessa a ser cumprida. E eu ali, alheio ao mundo.
Puxa o maço, tira mais um cigarro. Um pulmão reclama, o
outro clama. O coração redobra o esforço e a boca amarga nem se abala mais.
Bota bala de canela nela, a língua, que já tá mais do que enrolada de tanta
palavra jogada fora na tentativa de te explicar que certas coisas foram feitas
pra sentir, não pensar, pra degustar, não fumar – no máximo escrever. No mínimo
experimentar.
Esfria e fica nublado demais. Neblina, rotina, ônibus,
metrô, bilhete sempre no osso, isqueiro sempre no bolso.
Vai
chega,
entra,
senta,
levanta,
sai da estação e se perde
na próxima imaginação.
Tem CEP só que não tem endereço, tem casa só que falta uma
chave pra trancar a porta do quarto e poder amar sem que ninguém veja ou ouça.
Falta tanta coisa, só não falta vontade.
E vai assim, no flow do inesperado, fingindo pra si mesmo
que a morte é algo programado e que o “fim” depende só de mim, que sou ele –
esse que você está lendo e sobre quem estou escrevendo. E nesse texto a gente
se encontra, sem cinema, sem cobrança, mas com a boa e velha confusão. Deixa
fundir as mentes antes de foder com a relação. Deixa fluir, sabe? Sabe sim,
porém deu uma de desentendido, então, meu caro, nem adianta pagar de amigo.
Acabou.