De repente, um texto só pra falar da minha falta de poética.
Falta de fidelidade com o que chamam de literatura. Falta de gosto na leitura
de textos já consagrados. Eu, o letrado desgarrado que entre os analfabetos
possuo uma terceira e desconhecida anemia textual: o analfabetismo emocional.
Escrevo sobre o amor como se fosse toxina, sina daqueles que
mal conseguem se compreender. Escrevo sobre o coração como se fosse objeto
preso dentro de um espólio. Escrevo sobre a morte como se por ela não sentisse
temor algum. Escrevo sobre a vida como se dela só me restasse preguiça. E faço
pouco caso da fé, dos dogmas, das fórmulas, das regras, das previsões. No
fundo, sou mais um chato. E de chato mantenho as reclamações sempre em dia.
Um desgosto absurdo que de tão negativo faz subtrair a
sensibilidade e o que antes era menos agora se torna nada. A indiferença que
brota do carinho superado, do ódio absorvido. Indiferença. A fossilização da
alma.
Heresia, preguiça, falta de esperança. Falta não, aversão.
Sai de mim raiz ruim que se finge de jardim, mas quando se dá vira daninha.
Parte de mim todo o retrocesso na capacidade de sensibilização com causas
alheias. Poucos amigos, pouquíssimos romances, e muito apego. Tudo o que não
tenho – do jeito que quero ter – transforma-se em negação, repulsa, descaso,
briga, bronca, sono fora de hora, bebida em excesso e cigarros amassados no
bolso esquerdo da calça cor de vinho.
Mas ora menino, como viver untado em tanto dissabor? Bem,
vivo, mal vivendo.
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