quarta-feira, 15 de maio de 2013

E se...



...você tivesse dito “sim”? Bem, pela primeira vez eu teria como acreditar que alguém ou alguma coisa havia conseguido entender que meus pedidos eram verdadeiros. Seria o início de tudo o que idealizei. Algo parecido com o “sonho se tornando realidade”. 

Por que eu bebo? 

Todas as vezes que eu bebo, sinto como se uma única voz ecoasse dentro da minha mente. É uma voz imponente, que fala sempre no imperativo. Ela se sobressai. Veta os medos e inseguranças como se já lidasse com ambos há anos. A tristeza persiste, mas o “tom” é diferente. Eu me sinto angustiado e tenho vontade de ficar deitado, apenas. Contudo, mais parece que eu sinto prazer nesse estado. Recuo e aguardo por nada e por ninguém. É como se estivesse esperando que algo me levasse. A bebida mistura todos os sentimentos de uma só vez. Da ponta da língua à ponta do estômago. 

Confesso que gosto de tal sensação. Confesso ainda que meu corpo ama tais sensações. Mesmo com os efeitos colaterais, nós três, eu, o corpo e a alma, gostamos desse veneno. E por que se destruir assim? Por que não encarar a vida como as outras pessoas fazem? Por que não lutar sem ter que recorrer a substâncias nocivas? Porque nem tudo se resume em vencer ou ser um vencedor. E o que vocês chamam de “fracasso” eu considero “verdade”. Aquela verdade que poucos conseguem admitir. A verdade que diz o quanto você tem de medo, de fraqueza e de incapacidade. Então é por isso que eu bebo. É por isso que eu me afogo. Porque sinto que há pouco a ser perdido. Mesmo que no fundo haja muita coisa – inclusive mais um gole.  

Por que pareço tão pessimista?

Talvez porque eu seja mesmo. Quantas vezes vi alegrias tornarem-se lamúrias? E quantas vezes você viu angustias se tornando felicidade? O inverso também é válido. Mas sei bem que a felicidade só dura tempo o bastante para que viciemos nela e, em seguida, tudo desaba. Sinto-me como um rato correndo dentro de uma roda, com a remota esperança de alcançar o que busco. E todo aquele papo de que “importante mesmo é o caminho feito” morre ao perceber que o animal não sai do lugar, mesmo se esforçando. Já morreu, o que se move é o corpo, não a alma. É isso, muitas vezes você acha que está em movimento, acha que está mesmo correndo atrás de seus sonhos, quando na verdade não passe de um ponto no universo. Incapaz de ir e vir. A meu ver, esperança é apenas mais um placebo no armário do banheiro. E nós ficamos putos quando o frasco escorrega pelas mãos e as pílulas pelo ralo.

Então, por que eu vivo? 

Não fico pensando no porquê. Primeiro: resposta alguma irá surtir efeito no presente. Segundo: todas as explicações irão cair em contradição - serão anuladas no mesmo instante em que forem concebidas. E outra, não sou obrigado a obter uma justificativa para minha existência. Seja lá o que haja “do outro lado”, tive minha memória apagada, não sei nada sobre a origem das coisas, logo, não posso ser cobrado por ninguém. Desculpe, mas... Pouco me importa o que de fato as pessoas pensam. E quando eu me importo, não me suporto. Aí decido mudar (de foco ou de postura, nunca de essência).

Quando tudo piora a gente dá um remédio bem forte ou manda para o psicólogo. Não é assim que se faz? 

E se você tivesse dito "sim"? 

Eu não estaria aqui escrevendo.

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