...você tivesse dito “sim”? Bem, pela primeira vez eu teria como acreditar que
alguém ou alguma coisa havia conseguido entender que meus pedidos eram
verdadeiros. Seria o início de tudo o que idealizei. Algo parecido com o “sonho
se tornando realidade”.
Por que eu bebo?
Todas as vezes que eu bebo, sinto como se uma única voz
ecoasse dentro da minha mente. É uma voz imponente, que fala sempre no
imperativo. Ela se sobressai. Veta os medos e inseguranças como se já lidasse
com ambos há anos. A tristeza persiste, mas o “tom” é diferente. Eu me sinto
angustiado e tenho vontade de ficar deitado, apenas. Contudo, mais parece que
eu sinto prazer nesse estado. Recuo e aguardo por nada e por ninguém. É como se
estivesse esperando que algo me levasse. A bebida mistura todos os sentimentos
de uma só vez. Da ponta da língua à ponta do estômago.
Confesso que gosto de tal sensação. Confesso ainda que meu
corpo ama tais sensações. Mesmo com os efeitos colaterais, nós três, eu, o corpo e
a alma, gostamos desse veneno. E por que se destruir assim? Por que não encarar a
vida como as outras pessoas fazem? Por que não lutar sem ter que recorrer a
substâncias nocivas? Porque nem tudo se resume em vencer ou ser um vencedor. E
o que vocês chamam de “fracasso” eu considero “verdade”. Aquela verdade que
poucos conseguem admitir. A verdade que diz o quanto você tem de medo, de
fraqueza e de incapacidade. Então é por isso que eu bebo. É por isso que eu me
afogo. Porque sinto que há pouco a ser perdido. Mesmo que no fundo haja muita
coisa – inclusive mais um gole.
Por que pareço tão pessimista?
Talvez porque eu seja mesmo. Quantas vezes vi alegrias
tornarem-se lamúrias? E quantas vezes você viu angustias se tornando
felicidade? O inverso também é válido. Mas sei bem que a felicidade só dura
tempo o bastante para que viciemos nela e, em seguida, tudo desaba. Sinto-me
como um rato correndo dentro de uma roda, com a remota esperança de alcançar o
que busco. E todo aquele papo de que “importante mesmo é o caminho feito” morre
ao perceber que o animal não sai do lugar, mesmo se esforçando. Já morreu, o
que se move é o corpo, não a alma. É isso, muitas vezes você acha que está em
movimento, acha que está mesmo correndo atrás de seus sonhos, quando na verdade
não passe de um ponto no universo. Incapaz de ir e vir. A meu ver, esperança é
apenas mais um placebo no armário do banheiro. E nós ficamos putos quando o
frasco escorrega pelas mãos e as pílulas pelo ralo.
Então, por que eu vivo?
Não fico pensando no porquê. Primeiro: resposta alguma irá
surtir efeito no presente. Segundo: todas as explicações irão cair em
contradição - serão anuladas no mesmo instante em que forem concebidas. E
outra, não sou obrigado a obter uma justificativa para minha existência. Seja
lá o que haja “do outro lado”, tive minha memória apagada, não sei nada sobre a
origem das coisas, logo, não posso ser cobrado por ninguém. Desculpe, mas...
Pouco me importa o que de fato as pessoas pensam. E quando eu me importo, não
me suporto. Aí decido mudar (de foco ou de postura, nunca de essência).
Quando tudo piora a gente dá um remédio bem forte ou manda
para o psicólogo. Não é assim que se faz?
E se você tivesse
dito "sim"?
Eu não estaria aqui escrevendo.
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