terça-feira, 29 de junho de 2010

Disparos




As palavras que vierem à cabeça serão escritas. Portanto, não espero muito sentindo

Angustia
Respiração
Cinza
Música
Tempo
Saudades
Nostalgia
Paixão
Solidão
Medo
Força
Orgulho
Casa
Campo
Verde
Nuvens
Chuva
Abraço
Carinho
Lembrança
Lábios
Falta
Dor
Ausente
Vazio
Morrer
Horizonte
Amanhecer
Interrupção
Preso
Preço
Peso
Verdade
Silêncio
Raiva

Início

Invisível




O que pensar sobre minha própria existência? O que pensar sobre a resistência que tenho ao equilíbrio? Completamente invisível.

Acredito que não deve ser algo que só eu sinto. Uma profunda angustia, sem nome e sem rosto. Apenas sinto um vazio que consome qualquer coisa que tente me preencher. Só a música consegue modelar tal sensação, ainda que por poucos instantes.Uma falta de esperança crônica que me deixa esperando apenas pelo que o destino reservou. É difícil levantar todos os dias e ter que vestir um outro Vinicus, para atender às responsabilidades que só me causam desânimo. Me sinto morto, sem vigor, cansado, mas sem ter o corpo esgotado, é um cansaço que impregnou minha essência, um sono estranho que não me deixa dormir, só prende na cama e faz com que sinta um peso enorme que me impede de levantar. No fundo da cabeça, aquela voz suave sempre dizendo para colocar um fim nisso tudo. Eu ainda estou resistindo.

Finalmente estou vendo histórias com finais que realmente fazem algum sentido para mim. Não há mais tanta mentira, nem aquela idealização barata de mundo perfeito com infinitas possibilidades. Agora são apenas cigarros e xícaras de café, doses de uísque e jantares frustrados. São noites intermináveis em cidades desconhecidas, são mergulhos no mar durante a noite. São momentos únicos, como aquele em que o beijo quebrou todas as certezas que você tinha. E no final, não precisamos fazer muito além de esperar pela morte. Não adianta querer acelerar o processo, a menos que você garanta o sucesso no momento em que for acabar com a dor.

Mas o que estou sentindo neste momento é uma enorme tristeza. Por não acreditar mais em uma vida feliz, em um mundo em que nosso amor pudesse ser realmente compreendido, ou pelo menos deixado em paz. Não consigo mais ter fé nas pessoas, não vejo nelas algum sentimento de união. Na verdade, eu não me sinto uma pessoa, não sinto que faço parte deste mundo, desta época. Sinto apenas que faço parte destes filmes. E por isso, torna-se cada vez mais profunda a minha descrença.

No final, eles só ficam juntos quando decidem abandonar este mundo. Antes eu acreditava que alguém pudesse aparecer. Hoje, não mais. Não quero o mesmo que vocês. Conformem-se ou morram de uma vez.

domingo, 27 de junho de 2010

Meu "Adeus" fantasiou-se de "Te Amo"

Deitado, dentro do seu apartamento. Cheiro de cigarro e talheres jogados embaixo do criado mudo. É uma cidade tão distante da sua. Estamos falando de um lugar do outro lado do oceano. Tudo aquilo que você conhece ficou para trás, mas isso não parece te incomodar.

O novo diante dos seus olhos. Prende a atenção e desvia o caminho da saudade. Parece que as diversas possibilidades resolveram buscar você, no meio de tantas pessoas. Ruas lotadas, carros e suas buzinas, luzes que enfeitam a cidade. Realmente, este é um novo lugar. E você continua o mesmo.

Uma conversa na mesa do bar, uma saída apenas. Houve um tempo em que você suportava todo aquele barulho e todas aquelas vozes apenas para fazer parte de um grande grupo. Cansado de interpretar tão bem o papel de pessoa comum, você decidiu respirar do lado de fora. Alguém que tinha mesma necessidade que você apareceu, chegou perto, puxou um assunto qualquer e quando você percebeu já estava amando novamente.

Não é como nos filmes, que colocam câmeras nos momentos de solidão do personagem. No seu apartamento o silêncio impera, a menos que você o quebre com aquela bela música da uma trilha sonora qualquer. O telefone não toca como deveria tocar, nem mesmo as cartas que escorregam por debaixo da porta trazem as palavras belas que um dia enfeitiçaram seus ouvidos e olhos. Ainda assim você consegue se sentir bem, em paz.

Porque em alguns casos a felicidade está no momento em que se diz "Adeus".

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Um dia ele acordou e estava na Califórnia.




Senti o sol queimando meu rosto. Estava deitado em um gramado qualquer, com a mesma roupa de ontem. De qualquer forma, eu nem lembrava de como tinha sido ontem. Era cedo, e a brisa fresca cortava meus braços. Resolvi caminhar sem destino, como tenho feito ultimamente.

Pessoas correndo, outras sem pressa alguma. Peles desenhadas, roupas simples, carros antigos transitando no meio de carros luxuosos. Um tom amarelado. Acho que era meio dia e eu não tinha mais perspectiva. Deixei tudo para trás, complicações, trampo, estudos e teorias falidas de pessoas frustradas. Dessa vez eu fui buscar o astro rei.

Não tinha mais sobrenome nem endereço. Sentia fome, frio, calor, medo como qualquer outra pessoa, mas diferente delas eu não tentava evitar nenhuma sensação. Eu ia em frente, com a cara e a coragem de um covarde que sempre temeu enfrentar a vida. Comecei a perceber que estava dando meus primeiros passos. Olhando para o céu, me senti tão pequeno, e pensei: "Meus problemas são menores ainda".

Fui sentar e observar aqueles caras voando com seus carrinhos. Dançavam no ar e se divertiam na terra, iam mais rápido do que o ritmo da minha respiração. Lembrei de um velho amigo, senti saudades dos dias em que ficávamos a mercê do inesperado. Street Art, planos e música, eu só precisava disso. E ainda preciso, para falar a verdade. Acho que tudo seria perfeito se o amor também me acompanhasse por essa estrada sem nome. Só que não sou mais escravo desta busca. Como ouvi em uma música, "Deixar estar, que o que for para ser vigora". Eu tô vigorando você em mim, e nem ligo se você tá fazendo o mesmo ou não. Meus olhos acharam a visão mais bela. O sol alaranjado banhava as ruas, o horizonte me lembrava da chama que motivou meu coração a sair e buscar muito mais além do que o planejado por meus pais, ou pelo meu país.

Jamais vou esquecer daquele dia, ouvindo Garage Fuzz, olhando o fim de tarde e imaginando que naquele momento também chegava ao fim todos os sonhos quebrados, as brigas, as incertezas, os medos, as promessas não cumpridas, as traições, tudo, absolutamente tudo ficou nas costas de quem nunca acreditou nas minhas palavras. Eu estava livre. Livre de mim e do passado que já não servia mais. Sabe quando sua mente fica realmente limpa? É apenas contemplação.

Mesmo assim, eu ainda guardo no meu peito o nome de todos os meus fellas, o rosto de todos os corações que parti, o jeito de todos os corações que conquistei e o gosto amargo de todas as vezes que não consegui aqueles corações que tanto quis. Eu sei quem sou, como estou e o que vou ser daqui pra frente não pertence mais a mim. Entreguei ao horizonte, e ele não se importou em levar para si o que restava de um garoto que nunca desistiu de ser verdadeiro consigo mesmo.

Assim eu amei, odiei, tive raiva, te busquei, me encontrei e caminho, mais uma vez, durante esta manhã californiana. Sei que sempre estaremos juntos, porque fomos abençoados pelo mar e pelo sol, pela terra e pela chuva. A gente é que sabe viver, fella.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Sai de si, vem curar teu mal...

A noite estava fria, eu já não guardava nenhuma expectativa. Apenas que a tosse diminuísse e eu pudesse respirar melhor. Não sei por que, mas lembrei daquela garota que parece uma flor de maracujá. De repente, ela surge e me presenteia com uma canção linda. E agora eu escrevo, envolvido pela voz macia e a melodia que aperta o coração e o deixa do tamanho de uma pérola. Ainda assim, ele é jóia rara.

Estar assim como eu estou pode ser sublime e desastroso ao mesmo tempo. Uma mistura de sensações e a falta de prática quando o assunto é esperar que o outro se encontre e descubra que seu lugar é ao meu lado. Ou que eu descubra que ao meu lado já não cabe mais ninguém. Sei que não consigo nomear com certeza o que estou sentindo. Acho melhor que fique assim, nas entrelinhas que amarram meu peito, onde existem algumas frases flutuando, sem sentido, mas sentindo. Resolvi deixar esse momento fazer moradia na minha vida, independente da tristeza/felicidade que causa. É desse modo que eu me divido em dois e sinto falta da outra metade. Permito que nas minhas veias corram todos os sonhos que já não são mais escravos da mente. Cansei do meu cérebro e toda a sua razão, como também cansei do meu coração e toda a sua ilusão. Percebi que estou vazio. Não por causa da sua ausência e sim por causa da ausência de mim em mim. Só que é mais forte. Apenas mais forte. É mais forte do que qualquer outra coisa. No meu caso, lidar com tanta felicidade acaba criando uma vontade auto destrutiva de evitar a abstinência.

Não são palavras que buscam compreensão. Nem mesmo são versos tentando encontrar a essência de outras pessoas. São relatos de acontecimentos inexistentes. Momentos que não vivi e por isso anseio todos os dias pela chance de ter um instante só com você. Momento esse em que nos tornamos um só. Porém, não sou eu quem carrega a cura para a sua insegurança. Nem mesmo sou eu que libera o seu coração dos medos que o impedem de bater livremente. Esta distância é o que nos faz vivos, eu aprendo a dosar as toxinas que tiram meus pés do chão, e você faz dos seus diversos amores um caleidoscópio de memórias. São tardes em que contamos nossas vivências, nossos casos, mas eu sempre procurando encontrar um conto que fale de nós apenas.

As ruas da cidade que mais parece um jornal molhado tentam me conduzir para qualquer outro lugar, que não seja familiar a nós. Penso que se fosse questionado quanto o que quero de verdade, não saberia responder com certeza. No máximo, ia explicar como eu queria, independente do que seja. Sou péssimo para nomear as coisas, e sou apaixonado por aquele tipo de amor que não precisa se pronunciar. Ele é tão simples, tão puro. Ele vive apenas de bons momentos, e quando alguma dificuldade surge, tira forças de nós para manter-se aceso. É como chama que aquece e nos chama para perto do que é verdadeiro. Não aparece em muitos filmes, não é prêmio em programas de televisão. Esse amor sem nome é tão raro quanto as pessoas que o tem e sabem deixar o egoísmo de lado. Sabem dividir e construir algo que vai além das poesias conhecidas.

Me deixar tão livre assim foi a maneira mais bonita que alguém já escolheu para dizer que não me ama.

"Encontro".

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O que você faria se não tivesse medo?

Esta pergunta não sai da minha cabeça. Hoje, ela serve como motivação para ser ainda mais sincero com minhas vontades, e correr atrás de realizar o que de fato me faz bem. O que me faz sentir vivo. Ao tentar pensar sobre o que me causa medo, percebi que não tenho uma definição direta disto. Não é como dizer "eu tenho medo de ficar sozinho", eu não tenho esse medo, passo grande parte do meu tempo sozinho, ou melhor, apenas comigo mesmo. Ou falar "eu tenho medo de morrer", "tenho medo de perder meus familiares", vejo ambas as situações como acontecimentos naturais, e todos os dias eu me lembro da mortalidade, do pouco tempo que temos aqui e de que devo aproveitar da melhor forma possível o que me foi dado hoje. Então, ao pensar com mais profundidade percebi que até tenho um medo. O de perder o interesse por tudo o que me faz bem atualmente.

Percebi que o tempo e a distância me fazem plantar uma semente que, futuramente, irá me trazer apenas um fruto: a indiferença. É como se eu simplesmente deixasse o sentimento guardado, e no dia em que fosse buscá-lo, já não teria tanto sentido para a minha vida. Vejo que hoje muitas pessoas não me causam mais nenhuma sensação, e muitas vezes elas cobram de mim algo que já não existe mais. É difícil pensar que quem eu amo hoje, amanhã não servirá nem de lembrança.

O fato de não ter a pessoa perto de mim abre espaço para o vácuo. Para o interlúdio entre lembrar do seu nome e ainda sentir frio no estômago, e esquecer do seu rosto ao revirar velhas fotos.

Se eu não tivesse medo, "congelaria nós dois no tempo, e acharia uma maneira nova de ter seus olhos colados aos meus".

Por enquanto, penso assim.

sábado, 19 de junho de 2010

Sem maiores definições a se dar, sem maiores sentimentos a nos tomar...me vejo novamente onde devia estar, me vejo novamente onde de onde nunca devia ter saido...Mais uma vez enganado pelo meu proprio sentimento, acreditando em algo em que nunca se tornou real. escuto musicas, escuto frases, leio frases, vejo imagens, desenho imagens...Nada disso se torna tão positivo ou negativo, quanto o sentimento gritante dentro de mim.
De que adianta, nada que grita dentro de mim, pode ser tão ensurdecedor que você possa escutar, nada que se torne tão real dentro de mim pode se tornar tão visivel a ponto que você entenda...Não adianta, eu me fecho, esperando alguem que vá chegar e abrir essa caixa de pandora, para revelar quem realmente sou, quem realmente quer se mostrar...Sem mascaras, sem predefinições, sem pensar em quem tenho que ser para agradar a quem, foda-se, nunca pensei de tal maneira, nunca tentei ser tão eu quanto agora, quanto os olhos que no espelho novamente me deparo e diz: "é meu caro, este é você".
O susurro da voz, a música que não entendo, mais acho um entendimento apenas pra mim, não me prendo apenas a letra, mais sim ao ritmo, ao encantamento da melodia, não é a letra e sim o que defino o que a melodia me diz, tanto faz, nem penso mais, não detesto, apenas espero, até um dia em que tudo vai estar definido, não pra mim, nem pra você, mais pra que tudo se encaixe em seu devido lugar e que assim como a música que acabo de escutar, tenha uma melodia que se encaixe no final com a melodia, sem letras para atrapalhar, pois a letra so me diz o que já sei, mais não quero saber o que sei, mais sim sentir o que nunca senti.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um cesto de serpentes perfumadas

Desarmado, cansado, confuso. Aqueles olhos amarelados pareciam estar em chamas. Olhavam fixamente para mim, e o pior: Não demonstravam nem raiva, nem medo, nem alegria, nada. Definitivamente, eu não estava diante de um diabo do deserto.

A inquietação tomou conta de mim e então resolvi ir até ele, conversar (juro). Perguntei se ele podia me dizer aonde ficava o bar mais próximo. Ele não respondeu. Insisti, e disse que não ficaria na cidade por muito tempo, mas precisava comer e beber alguma coisa. Então, ele me disse para segui-lo. Eu tinha outra opção? Sim, mas a curiosidade também havia tomado conta da minha pessoa.

Era a casa dele. Tinha um forte cheiro de cemitério. As coisas bem arrumadas, móveis bonitos. Nem parecia que estava rodeada por uma cidade a beira do colapso. Fomos até a cozinha, ele me ofereceu algo para beber, sem álcool, achei estranho, mas também não reclamei. Perguntei seu nome e foi então que as coisas mudaram. Joshua. Aquele nome bateu nos meus tímpanos e em seguida uma forte sensação de que eu já o conhecia há milênios surgiu. Ele me perguntou o que eu fazia na cidade. Disse que precisava encontrar um velho amigo meu e que isso era um motivo para eu continuar buscando algo que eu não sei o que é. Ele se mostrou indiferente.

Não demorei muito lá, resolvi sair. Quando cheguei na porta ele me chamou por outro nome. Não me lembro bem, mas sei que também me soou familiar. Quando olhei para ver o que ele queria tomei um tiro de bala de sal bem no meio do peito. Cai feito um cadáver, mas ainda estava vivo. Quase sem ar, olhei para a cara de Joshua. Ele continuava sem expressar um sentimento se quer e me arrastou para os fundos de seu "templo". Lá, me deixou amarrado, dizendo que eu deveria secar ao brilho da estrela D'Alva, deveria queimar durante o amanhecer. Eu não entendi porra nenhuma, só queria achar uma brecha para me desamarrar e arrancar o fígado dele com as mãos. Porém, não era tão simples assim, o usou de nó cego para garantir o meu conforto.

Durante a noite passei muito mal. Fome, frio, sede, ódio, tudo isso misturado com um cheiro maldito de velas. Percebi que alguma coisa se movia na minha direção, e logo pensei que fosse virar comida de coiotes ou chacais. Quando a luz da lua iluminou o vulto, pude ver um cara bem apessoado, com os mesmos olhos de Johua, mas este estava sorrindo de leve. Chegou perto do meu rosto e disse: "Qual é o peso das asas nas suas costas? Deve ser um fardo muito grande.". Ok, eu já estava todo fodido mesmo, investi contra ele, no pouco espaço que me restava tentei arrancar um pedaço do seu rosto com uma mordida colérica. Errei e consegui quebrar mais um pedaço do meu dente. O rapaz recuou um pouco, mas sem mudar a expressão no rosto disse: "Eu entendo, queremos o seu fim ao mesmo tempo que sabemos ser essencial a sua existência". Não entendi muita coisa, mas senti que concordava com ele. Perguntei seu nome. Ele ficou sério e respondeu, Iessus, e desapareceu. Olhei para minhas mãos e elas estavam desamarradas. Quando entrei na casa de Joshua não havia ninguém, só um forte cheiro de lavanda.

Parti sem saber o que havia acontecido de fato. Mas sabia que o destino me traria todas as respostas. Independente de terem ou não sentido.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

I got no horizon

(interlúdio)

Me observo com mais frequência agora. Mas isso não significa que de fato eu me veja. Ou que saiba para onde estou indo. Sinto aquela necessidade de ouvir mais minhas vontades, ainda que censure grande parte delas em função de não perder a simples presença do "outro", que me faz tão bem/mal. É ambíguo para dizer a verdade, pois tenho ao meu lado aquilo que tanto quero, sem nem ao menos poder tocar.

Antes eu achava que sabia de tudo o que queria, que estava seguro dentro das certezas que havia construído a partir das decepções, dificuldades,enfim. Agora percebo que o que eu aprendi mesmo foi a definir o que eu não quero. Isso está bem óbvio, porém o que eu quero não é tão evidente assim. Entro numa busca eterna por algo que nem ao menos sei o que é. Mas para muitos viver é isso, uma eterna busca por aquilo que você tem certeza que não terá. Parece algo tão triste, né? Tão vazio de esperança, robótico, cheio de conformismo. Porém, não é bem assim.

Quando eu acreditava ter tudo o que precisava e ser seguro das minhas escolhas, automaticamente projetava os resultados e as consequências. Me preparava para o pior e para o melhor. Era um esquema bem montado, cognitivo, que parecia não conter falhas, a não ser por um detalhe: Por saber de todas as possibilidades e me preparar para elas, eu desanimava com uma velocidade incrível. Tudo ficava previsível demais, banal, manipulável. Não havia espaço para o "surpreendente". No fundo, eu só sabia mesmo do que eu gostaria de evitar. Eu queria evitar a padronização na hora de sentir, queria evitar a mesmice, as frases feitas, os finais conhecidos. E para isso precisei aprender uma coisa bem simples: Viver à deriva.

Ainda sinto dor, ainda fico triste, ainda tenho acessos de raiva incontroláveis, só que cada momento faz-se suficiente por si só. Não preciso mais de prolongações ou planos perfeitos para evitar a natureza dos meus sentimentos. Não evito mais dizer que gosto, pois sei que isso só aumentará meu desejo. Também não ressalto o meu desgosto como se dele tirasse orgulho, ainda que me sirva de filtro para as emoções de engano. Tento pensar no que eu quero, mas entendo que só consigo imaginar "como eu quero", independente do que seja.

Posso evitar o mundo e suas expectativas. Posso evitar o tempo e suas separações, posso evitar o som e suas melodias bucólicas, posso evitar as pessoas e suas tentativas de me compreender, posso evitar os compromissos e a sensação de superficialidade. Só não posso evitar o horizonte, onde vejo que "não ter fim" faz mais sentido do que o período em que lutamos para construir algo.

O que te faz eterno é justamente não saber como vai ser, onde vai dar. O que te faz eterno não vai trazer tudo o que sonhou ter, mas vai garantir que você sonhe para sempre.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Eu não quero um doce romance, eu quero uma máquina !

Confesso, estava meio transtornado. Ler aquilo não me fez bem, mas ao mesmo tempo me deu forças. Nossa, que papo mais ridículo. Força nada, me deu é vontade de ir acertar algumas contas com um velho companheiro de patifarias. Porém, eu sabia que o caminho até ele era longo, tenso e muito, mas muito sujo.

Ao sair da velha cidade resolvi pedir carona. Não que eu quisesse a presença de outra criatura ao meu lado, mas é que minhas botas já estavam pedindo para serem queimadas vivas. Eu estava pedindo isso também. Três horas e nada. Tá certo, eu sei que minha aparência era quase igual a de um coiote faminto e surrado, a diferença é que o coiote ainda tinha a cara de "cão sem dono", no meu caso a cara era de cão raivoso. Fome, fúria, feridas, 3 F's mais um gosto amargo na boca. Nem mesmo com uma adaga eu seria capaz de rasgar um sorriso, e se sorrisse, ia ser pior ainda. Os músculos do meu rosto devem estar atrofiados. Quebrei uma garrafa no meio da estrada e então um carro parou.

Ela era linda. Parecia o diabo em dia de festa. Me olhou de cima a baixo e sentiu segurança, pois sabia que com um sopro me derrubaria. Estava bem alimentada, bem "dormida" e provavelmente, bem comida. Me deu carona. O nome dela era Consuelo. Não sei se era a falta de ter alguém do meu lado, mas logo de cara me senti bem. Ela falava muito, e eu quieto. Não que seus assuntos fossem idiotas, mas é que minha mente não tinha muita coisa útil para se comentar. Brigas, drogas, paganismo, enfim, mais do mesmo. Só que ela não era assim. Falava do deserto, da natureza morta, das cidades imundas e seus becos interessantes, dos segredos por baixo da pele, falava do tempo que andava para trás, falava do sol é sua mania estúpida de aparecer todos os dias. Eu só podia ficar calado mesmo. Aquela língua de serpente tinha um veneno que mais parecia remédio, cicatrizava os cortes que ardiam na minha garganta. A cada frase era mais uma bala carregada no barril do meu revólver. Consuelo, mais um demônio do deserto, perfumada. Depois disso aproveitamos os pecados que nos restavam. Ok, sai do carro sem olhar para trás, apenas com aquele cheiro de flor de cactos. Cheguei na próxima cidade e fui recebido por um cara muito estranho. Estranho o bastante pra me desarmar. Porra, eu nunca disse que queria um romance, o que eu queria mesmo é uma máquina!

terça-feira, 1 de junho de 2010

I'm mad ...

Mas você é muito estúpida para entender. Eu não tenho casa, não tenho documentos.

Fiquei diante do velho diabo. Aqueles olhos negros, tão familiares não me fizeram sentir saudades. Sentamos e ele me ofereceu algo para beber. Nem imagino o que tinha dentro daquele copo, mas com certeza era algo da pior qualidade. Cigarros acesos, assuntos na mesa. Entreguei o anel a ele na esperança de que os velhos tempos tinham marcado alguma coisa em sua mente. Estava enganado. O velho diabo era tolo, hedonista, mal sabia o que estava acontecendo ali. Foi então que ele pegou um envelope amarelado e me entregou. A letra era minha, o cheiro na carta era o meu. O velho decrépito disse que eu havia escrito no dia em que toda minha esperança tinha ruído.

"Estou louco...

No meu jardim passeava um pônei. Ao seu lado, um cavalo enorme. Negro. E mais à frente uma garrafa de uísque. Um nevoeiro denso envolvia o local e eu estava descalço. Eu não conseguia respirar.

O pônei quebrou seu próprio pescoço e começou a agonizar. O cavalo negro foi até o corpo, e chorou. Em seguida, começou a morder as partes genitais do cadáver, até que então decidiu correr, desaparecendo no branco absoluto.

Ao tentar me mover, percebi que meus pés haviam desaparecido. Eu estava desaparecendo aos poucos. Achei uma arma dentro do meu bolso esquerdo. Sem pensar duas vezes disparei sete tiros em uma árvore seca que estava à frente. Percebi que algo caiu no chão, ao me aproximar identifiquei o objeto: Uma maçã, bem vermelha e convidativa. Não precisei que ninguém sussurrasse no meu ouvido, a mordi sem nenhuma culpa.

De repente toda a névoa desapareceu, vi as cores, vi o céu, vi o inferno. Mas o que mais congelou meu olhar foi Deus. Eu o vi, ele estava olhando para mim, assustado, sem acreditar que uma criatura tão inferior como eu poderia ter encontrado seu esconderijo. Se enfureceu e disse que precisava de mim, mais do que qualquer outro ser no universo. Disse que precisava de alguém para culpar, para odiar, para fortalecer mais ainda as suas ordens, sofrendo todos os castigos que ele aplicaria aos que fossem de encontro as suas vontades. Ele disse que eu era essencial, que precisava de um vilão. Eu era o exemplo a não ser seguido, alguém que já foi criado com o intuito de ser destruído. Não tive escolha, pois percebi nas palavras Dele o amor mais sincero.

Estou louco ...De cem maneiras diferentes.
"

Após ler a carta decidi sair da frente do velho zumbi. Decidi sair do mundo. Mas antes, eu precisava encontrar uma última pessoa. De volta ao deserto.