sexta-feira, 4 de junho de 2010

Eu não quero um doce romance, eu quero uma máquina !

Confesso, estava meio transtornado. Ler aquilo não me fez bem, mas ao mesmo tempo me deu forças. Nossa, que papo mais ridículo. Força nada, me deu é vontade de ir acertar algumas contas com um velho companheiro de patifarias. Porém, eu sabia que o caminho até ele era longo, tenso e muito, mas muito sujo.

Ao sair da velha cidade resolvi pedir carona. Não que eu quisesse a presença de outra criatura ao meu lado, mas é que minhas botas já estavam pedindo para serem queimadas vivas. Eu estava pedindo isso também. Três horas e nada. Tá certo, eu sei que minha aparência era quase igual a de um coiote faminto e surrado, a diferença é que o coiote ainda tinha a cara de "cão sem dono", no meu caso a cara era de cão raivoso. Fome, fúria, feridas, 3 F's mais um gosto amargo na boca. Nem mesmo com uma adaga eu seria capaz de rasgar um sorriso, e se sorrisse, ia ser pior ainda. Os músculos do meu rosto devem estar atrofiados. Quebrei uma garrafa no meio da estrada e então um carro parou.

Ela era linda. Parecia o diabo em dia de festa. Me olhou de cima a baixo e sentiu segurança, pois sabia que com um sopro me derrubaria. Estava bem alimentada, bem "dormida" e provavelmente, bem comida. Me deu carona. O nome dela era Consuelo. Não sei se era a falta de ter alguém do meu lado, mas logo de cara me senti bem. Ela falava muito, e eu quieto. Não que seus assuntos fossem idiotas, mas é que minha mente não tinha muita coisa útil para se comentar. Brigas, drogas, paganismo, enfim, mais do mesmo. Só que ela não era assim. Falava do deserto, da natureza morta, das cidades imundas e seus becos interessantes, dos segredos por baixo da pele, falava do tempo que andava para trás, falava do sol é sua mania estúpida de aparecer todos os dias. Eu só podia ficar calado mesmo. Aquela língua de serpente tinha um veneno que mais parecia remédio, cicatrizava os cortes que ardiam na minha garganta. A cada frase era mais uma bala carregada no barril do meu revólver. Consuelo, mais um demônio do deserto, perfumada. Depois disso aproveitamos os pecados que nos restavam. Ok, sai do carro sem olhar para trás, apenas com aquele cheiro de flor de cactos. Cheguei na próxima cidade e fui recebido por um cara muito estranho. Estranho o bastante pra me desarmar. Porra, eu nunca disse que queria um romance, o que eu queria mesmo é uma máquina!

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