quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um cesto de serpentes perfumadas

Desarmado, cansado, confuso. Aqueles olhos amarelados pareciam estar em chamas. Olhavam fixamente para mim, e o pior: Não demonstravam nem raiva, nem medo, nem alegria, nada. Definitivamente, eu não estava diante de um diabo do deserto.

A inquietação tomou conta de mim e então resolvi ir até ele, conversar (juro). Perguntei se ele podia me dizer aonde ficava o bar mais próximo. Ele não respondeu. Insisti, e disse que não ficaria na cidade por muito tempo, mas precisava comer e beber alguma coisa. Então, ele me disse para segui-lo. Eu tinha outra opção? Sim, mas a curiosidade também havia tomado conta da minha pessoa.

Era a casa dele. Tinha um forte cheiro de cemitério. As coisas bem arrumadas, móveis bonitos. Nem parecia que estava rodeada por uma cidade a beira do colapso. Fomos até a cozinha, ele me ofereceu algo para beber, sem álcool, achei estranho, mas também não reclamei. Perguntei seu nome e foi então que as coisas mudaram. Joshua. Aquele nome bateu nos meus tímpanos e em seguida uma forte sensação de que eu já o conhecia há milênios surgiu. Ele me perguntou o que eu fazia na cidade. Disse que precisava encontrar um velho amigo meu e que isso era um motivo para eu continuar buscando algo que eu não sei o que é. Ele se mostrou indiferente.

Não demorei muito lá, resolvi sair. Quando cheguei na porta ele me chamou por outro nome. Não me lembro bem, mas sei que também me soou familiar. Quando olhei para ver o que ele queria tomei um tiro de bala de sal bem no meio do peito. Cai feito um cadáver, mas ainda estava vivo. Quase sem ar, olhei para a cara de Joshua. Ele continuava sem expressar um sentimento se quer e me arrastou para os fundos de seu "templo". Lá, me deixou amarrado, dizendo que eu deveria secar ao brilho da estrela D'Alva, deveria queimar durante o amanhecer. Eu não entendi porra nenhuma, só queria achar uma brecha para me desamarrar e arrancar o fígado dele com as mãos. Porém, não era tão simples assim, o usou de nó cego para garantir o meu conforto.

Durante a noite passei muito mal. Fome, frio, sede, ódio, tudo isso misturado com um cheiro maldito de velas. Percebi que alguma coisa se movia na minha direção, e logo pensei que fosse virar comida de coiotes ou chacais. Quando a luz da lua iluminou o vulto, pude ver um cara bem apessoado, com os mesmos olhos de Johua, mas este estava sorrindo de leve. Chegou perto do meu rosto e disse: "Qual é o peso das asas nas suas costas? Deve ser um fardo muito grande.". Ok, eu já estava todo fodido mesmo, investi contra ele, no pouco espaço que me restava tentei arrancar um pedaço do seu rosto com uma mordida colérica. Errei e consegui quebrar mais um pedaço do meu dente. O rapaz recuou um pouco, mas sem mudar a expressão no rosto disse: "Eu entendo, queremos o seu fim ao mesmo tempo que sabemos ser essencial a sua existência". Não entendi muita coisa, mas senti que concordava com ele. Perguntei seu nome. Ele ficou sério e respondeu, Iessus, e desapareceu. Olhei para minhas mãos e elas estavam desamarradas. Quando entrei na casa de Joshua não havia ninguém, só um forte cheiro de lavanda.

Parti sem saber o que havia acontecido de fato. Mas sabia que o destino me traria todas as respostas. Independente de terem ou não sentido.

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