sexta-feira, 25 de junho de 2010

Um dia ele acordou e estava na Califórnia.




Senti o sol queimando meu rosto. Estava deitado em um gramado qualquer, com a mesma roupa de ontem. De qualquer forma, eu nem lembrava de como tinha sido ontem. Era cedo, e a brisa fresca cortava meus braços. Resolvi caminhar sem destino, como tenho feito ultimamente.

Pessoas correndo, outras sem pressa alguma. Peles desenhadas, roupas simples, carros antigos transitando no meio de carros luxuosos. Um tom amarelado. Acho que era meio dia e eu não tinha mais perspectiva. Deixei tudo para trás, complicações, trampo, estudos e teorias falidas de pessoas frustradas. Dessa vez eu fui buscar o astro rei.

Não tinha mais sobrenome nem endereço. Sentia fome, frio, calor, medo como qualquer outra pessoa, mas diferente delas eu não tentava evitar nenhuma sensação. Eu ia em frente, com a cara e a coragem de um covarde que sempre temeu enfrentar a vida. Comecei a perceber que estava dando meus primeiros passos. Olhando para o céu, me senti tão pequeno, e pensei: "Meus problemas são menores ainda".

Fui sentar e observar aqueles caras voando com seus carrinhos. Dançavam no ar e se divertiam na terra, iam mais rápido do que o ritmo da minha respiração. Lembrei de um velho amigo, senti saudades dos dias em que ficávamos a mercê do inesperado. Street Art, planos e música, eu só precisava disso. E ainda preciso, para falar a verdade. Acho que tudo seria perfeito se o amor também me acompanhasse por essa estrada sem nome. Só que não sou mais escravo desta busca. Como ouvi em uma música, "Deixar estar, que o que for para ser vigora". Eu tô vigorando você em mim, e nem ligo se você tá fazendo o mesmo ou não. Meus olhos acharam a visão mais bela. O sol alaranjado banhava as ruas, o horizonte me lembrava da chama que motivou meu coração a sair e buscar muito mais além do que o planejado por meus pais, ou pelo meu país.

Jamais vou esquecer daquele dia, ouvindo Garage Fuzz, olhando o fim de tarde e imaginando que naquele momento também chegava ao fim todos os sonhos quebrados, as brigas, as incertezas, os medos, as promessas não cumpridas, as traições, tudo, absolutamente tudo ficou nas costas de quem nunca acreditou nas minhas palavras. Eu estava livre. Livre de mim e do passado que já não servia mais. Sabe quando sua mente fica realmente limpa? É apenas contemplação.

Mesmo assim, eu ainda guardo no meu peito o nome de todos os meus fellas, o rosto de todos os corações que parti, o jeito de todos os corações que conquistei e o gosto amargo de todas as vezes que não consegui aqueles corações que tanto quis. Eu sei quem sou, como estou e o que vou ser daqui pra frente não pertence mais a mim. Entreguei ao horizonte, e ele não se importou em levar para si o que restava de um garoto que nunca desistiu de ser verdadeiro consigo mesmo.

Assim eu amei, odiei, tive raiva, te busquei, me encontrei e caminho, mais uma vez, durante esta manhã californiana. Sei que sempre estaremos juntos, porque fomos abençoados pelo mar e pelo sol, pela terra e pela chuva. A gente é que sabe viver, fella.

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