terça-feira, 1 de junho de 2010

I'm mad ...

Mas você é muito estúpida para entender. Eu não tenho casa, não tenho documentos.

Fiquei diante do velho diabo. Aqueles olhos negros, tão familiares não me fizeram sentir saudades. Sentamos e ele me ofereceu algo para beber. Nem imagino o que tinha dentro daquele copo, mas com certeza era algo da pior qualidade. Cigarros acesos, assuntos na mesa. Entreguei o anel a ele na esperança de que os velhos tempos tinham marcado alguma coisa em sua mente. Estava enganado. O velho diabo era tolo, hedonista, mal sabia o que estava acontecendo ali. Foi então que ele pegou um envelope amarelado e me entregou. A letra era minha, o cheiro na carta era o meu. O velho decrépito disse que eu havia escrito no dia em que toda minha esperança tinha ruído.

"Estou louco...

No meu jardim passeava um pônei. Ao seu lado, um cavalo enorme. Negro. E mais à frente uma garrafa de uísque. Um nevoeiro denso envolvia o local e eu estava descalço. Eu não conseguia respirar.

O pônei quebrou seu próprio pescoço e começou a agonizar. O cavalo negro foi até o corpo, e chorou. Em seguida, começou a morder as partes genitais do cadáver, até que então decidiu correr, desaparecendo no branco absoluto.

Ao tentar me mover, percebi que meus pés haviam desaparecido. Eu estava desaparecendo aos poucos. Achei uma arma dentro do meu bolso esquerdo. Sem pensar duas vezes disparei sete tiros em uma árvore seca que estava à frente. Percebi que algo caiu no chão, ao me aproximar identifiquei o objeto: Uma maçã, bem vermelha e convidativa. Não precisei que ninguém sussurrasse no meu ouvido, a mordi sem nenhuma culpa.

De repente toda a névoa desapareceu, vi as cores, vi o céu, vi o inferno. Mas o que mais congelou meu olhar foi Deus. Eu o vi, ele estava olhando para mim, assustado, sem acreditar que uma criatura tão inferior como eu poderia ter encontrado seu esconderijo. Se enfureceu e disse que precisava de mim, mais do que qualquer outro ser no universo. Disse que precisava de alguém para culpar, para odiar, para fortalecer mais ainda as suas ordens, sofrendo todos os castigos que ele aplicaria aos que fossem de encontro as suas vontades. Ele disse que eu era essencial, que precisava de um vilão. Eu era o exemplo a não ser seguido, alguém que já foi criado com o intuito de ser destruído. Não tive escolha, pois percebi nas palavras Dele o amor mais sincero.

Estou louco ...De cem maneiras diferentes.
"

Após ler a carta decidi sair da frente do velho zumbi. Decidi sair do mundo. Mas antes, eu precisava encontrar uma última pessoa. De volta ao deserto.

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