quinta-feira, 4 de julho de 2013

Placeita e nasce

E quando a razão voltar para garantir o pão do próximo dia, deixando de lado as libertinagens do desejo, eu saberei que o amor não se extinguiu. Apenas resolveu se esconder na segurança das respostas previstas e das perguntas sem curiosidade. Sei que meu “sim” terá valor de “fim” e conversa nenhuma, por mais profunda que seja, conseguirá se criar em mim. Assim seguirei sem abrir mão daquilo que me fez – e me faz – perder a doma da escrita, da letra, da frase e da coerência: o dissabor.

Porque o sentimento sempre foi assim. Desde o choro que clamava por litros de vida vindos de seis (horas antes) que até então nem podiam ser imaginados (das). Dentro do útero, sob a pressão da parede de placenta, a fé se fazia em cada gota de alimento transportada por cordão umbilical. A fé era desconstrução de tempo, de fala, de esperança, era apenas o presente se manifestando em cada chute na barriga ou enjoo programado. 

E mesmo assim nascemos, mesmo assim saímos na seca pelo abraço do desconhecido, abandonando no mar de sangue e suor qualquer medo que pudesse nos privar do primeiro chamado de vida: o choro depois do parto, o mesmo que encheu seus (meus) pulmões de ar.


E Deus? E Diabo? E Além? E Paraíso? E Inferno? No útero dessa terra incerta e arrependida, vivida e curtida no sol diário e implacável, não saber é a bênção que te faz nascer. Que te faz chorar. E quem não chora não mama – a vida. 

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