E quando a razão voltar para garantir o pão do próximo dia,
deixando de lado as libertinagens do desejo, eu saberei que o amor não se
extinguiu. Apenas resolveu se esconder na segurança das respostas previstas e
das perguntas sem curiosidade. Sei que meu “sim” terá valor de “fim” e conversa
nenhuma, por mais profunda que seja, conseguirá se criar em mim. Assim seguirei
sem abrir mão daquilo que me fez – e me faz – perder a doma da escrita, da
letra, da frase e da coerência: o dissabor.
Porque o sentimento sempre foi assim. Desde o choro que
clamava por litros de vida vindos de seis (horas antes) que até então nem podiam ser
imaginados (das). Dentro do útero, sob a pressão da parede de placenta, a fé se fazia
em cada gota de alimento transportada por cordão umbilical. A fé era
desconstrução de tempo, de fala, de esperança, era apenas o presente se
manifestando em cada chute na barriga ou enjoo programado.
E mesmo assim nascemos, mesmo assim saímos na seca pelo
abraço do desconhecido, abandonando no mar de sangue e suor qualquer medo que
pudesse nos privar do primeiro chamado de vida: o choro depois do parto, o
mesmo que encheu seus (meus) pulmões de ar.
E Deus? E Diabo? E Além? E Paraíso? E Inferno? No útero
dessa terra incerta e arrependida, vivida e curtida no sol diário e implacável,
não saber é a bênção que te faz nascer. Que te faz chorar. E quem não chora não
mama – a vida.
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