Algumas perguntas surgem justamente para selar nossa
capacidade de raciocinar com precisão. Tais questionamentos praticamente
escravizam a sinceridade e a ameaçam com o risco de termos que explicar – em longas
linhas, falas ou choros – o que de fato acontece entre os lençóis do ego.
Oi, tudo bem?
(Sim)
Desnecessário dizer que as convenções sociais mutilam a
subjetividade todas as vezes que esta tenta sair para tomar um sol, tomar um
banho e tirar o gosto amargo do antidepressivo dos lábios secos. Mais
desnecessário ainda é dizer que este “sim” é a forma mais resumida de cravar os
pregos na mão do Cristo falido que habita em nós. Crucificados por algozes
invisíveis – ou camuflados de contas, traições e avôs preconceituosos – somos obrigados
a calar o sofrimento com um falso sorriso arroxeado de murros dados pela vida e
ainda pregar a falsa sensação de que “todo sofrimento será recompensado”. E
qual recompensa é capaz de trazer de volta o tempo sofrido?
(Não)
Ser franco, inconveniente, carente, depressivo, fraco,
falido, chato, espaçoso, melancólico, ingrato, pessimista, amargo, azedo,
descrente, desenganado, perdido, pobre, ignorante, coitado, infeliz,
insatisfeito, rancoroso. Ser humano. Ser gente mesmo. Ter a única chance de
responder à pergunta “Você é um homem ou rato?” sem titubear.
Eu ainda sou rato. Daqueles que escondem nos esgotos do
peito o lixo que o coração joga na privada para que nunca mais voltem a cobrir
o tapete do quarto com envelopes coloridos, letras desenhadas e as velhas
promessas que só cabem nos poemas infantis os quais somos obrigados a conhecer
antes mesmo do amor. Daquelas tralhas dispensáveis que não têm outro remetente
senão o fundo do vaso sanitário, do ego agora solitário, daquelas pontas que te ajudam a dormir;
daqueles comprimidos que comprimem a dor; daquelas bebidas que, misturadas à
água, tornam-se mais invisíveis ainda. Só não para os olhos turvados após a descarga
moral.
Entre o “Sim” e o “Não” reside o “Saco cheio”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário