Você, diante do seu pai, da sua mãe. Antes, aconchegado no
sangue, útero, na vontade que ainda não cabia no orçamento. Agora
contabilizado, cotado, calculado e projetado para uma carreira promissora.
Você, fragmento de união estável reconhecida em cartório,
igreja e mesa de domingo. Você, solda das alianças douradas, movimento de mão
que desenha assinatura do contrato de casamento, do cheque para a mobília e
impede a timbrada nos papéis que oficializam a partida. Você: filho, filha,
culpa, culpado, motivo, desabafo, problema, dilema, ingrato, algoz. Você, o “sim”
do casamento e o “sim” do “ainda há tempo”. Laço que obriga o amor a amar, o
pai a trair e a mãe a aceitar.
Causa e efeito, consequência, sequência de nove meses – ou oito,
de repente -, você, mais uma vez você, mais 13 vezes, uma a cada ano, a cada
vela apagada e primeiro pedaço dado para calar, e não adoçar, a boca. Você,
orgulho de notas altas e estridentes, de “A” valendo mais que “C” e de gol na
final do campeonato juvenil ecoando mais do que o chamado para o almoço.
Você, na flor da adolescência, na dor na impaciência, no
choro engolido por orgulho e no medo adquirido pelo mundo; você, desbravador de
peles e pernas, acariciador de cabelos e egos, eternamente apaixonado por tudo
o que não pode ter, mas pode tocar.
Você, ingrato, que de filho passou a bastardo. Que da porta
da rua passou a ser gaiato, pilantra, esperto demais pra caber numa cadeira de
delegacia, disperso demais para ouvir quem te ensina, ingênuo demais pra
conhecer a família da menina.
Você e quantos mais de vocês para compor apenas o único
realmente capaz de se entregar em escritas sem fé nem destreza? Você, eu.
Um comentário:
Eu ia comentar numa boa, mas o seu servidor me pediu pra escrever duas palavras pra provar q eu não sou um roBô... sem mais meu amigo.
Ativo na escrita há mais dez anos! PAZ
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