quinta-feira, 11 de julho de 2013

Você, filho, a causa de quem casa



Você, diante do seu pai, da sua mãe. Antes, aconchegado no sangue, útero, na vontade que ainda não cabia no orçamento. Agora contabilizado, cotado, calculado e projetado para uma carreira promissora.

Você, fragmento de união estável reconhecida em cartório, igreja e mesa de domingo. Você, solda das alianças douradas, movimento de mão que desenha assinatura do contrato de casamento, do cheque para a mobília e impede a timbrada nos papéis que oficializam a partida. Você: filho, filha, culpa, culpado, motivo, desabafo, problema, dilema, ingrato, algoz. Você, o “sim” do casamento e o “sim” do “ainda há tempo”. Laço que obriga o amor a amar, o pai a trair e a mãe a aceitar. 

Causa e efeito, consequência, sequência de nove meses – ou oito, de repente -, você, mais uma vez você, mais 13 vezes, uma a cada ano, a cada vela apagada e primeiro pedaço dado para calar, e não adoçar, a boca. Você, orgulho de notas altas e estridentes, de “A” valendo mais que “C” e de gol na final do campeonato juvenil ecoando mais do que o chamado para o almoço. 

Você, na flor da adolescência, na dor na impaciência, no choro engolido por orgulho e no medo adquirido pelo mundo; você, desbravador de peles e pernas, acariciador de cabelos e egos, eternamente apaixonado por tudo o que não pode ter, mas pode tocar. 

Você, ingrato, que de filho passou a bastardo. Que da porta da rua passou a ser gaiato, pilantra, esperto demais pra caber numa cadeira de delegacia, disperso demais para ouvir quem te ensina, ingênuo demais pra conhecer a família da menina. 

Você e quantos mais de vocês para compor apenas o único realmente capaz de se entregar em escritas sem fé nem destreza? Você, eu.  

Um comentário:

gabrielO HA!records disse...

Eu ia comentar numa boa, mas o seu servidor me pediu pra escrever duas palavras pra provar q eu não sou um roBô... sem mais meu amigo.
Ativo na escrita há mais dez anos! PAZ