O corvo, eterno luto da natureza. Tem asas, pois a morte
precisa viajar. Mas não é ele quem mata. É ele quem a segue. Precisa ver para
crer que a vida acabou.
Não participa do parto. Evita o choro da vida que sai em
forma de berro, pela boca da criança. Mas não perde um funeral. Observa a alma lamentar por cada lágrima que
escorre. Lá do alto, sente o cheiro de éter, mas prefere o da carne.
Nasce do desgosto. Não tem moradia. Basta ter um ombro que
ele se instala. Confunde-se com a própria sombra para então aguarda
pacientemente pela queda. O silêncio lhe garante a sobrevivência. E quando
decide fazer barulho, traz agouro para manchar a saturada esperança.
Seja na estrada, na esquina ou na janela da sua casa, vou
te observar como se já estivesse marcado para morrer. E está. Não quero suas
entranhas, nem seu sangue. Alimento-me do prazer em ver que nem mesmo a
perfeição divina faz com que você viva por mais tempo do que o que lhe foi
predestinado.
Eu sou o lembrete que você ignora. Sou aquele que nunca
esquece dos dias nem das horas. Espero, sem pressa ou ansiedade, pelo dia em
que sua visão ficará tão escura quanto minhas penas.
Sempre tenho fome.
O corvo, eterna ausência de cor. Ninguém consegue ver os
seus olhos. Mas ele vê os de todos.
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