segunda-feira, 30 de julho de 2012

Eterno luto da natureza


O corvo, eterno luto da natureza. Tem asas, pois a morte precisa viajar. Mas não é ele quem mata. É ele quem a segue. Precisa ver para crer que a vida acabou. 

Não participa do parto. Evita o choro da vida que sai em forma de berro, pela boca da criança. Mas não perde um funeral.  Observa a alma lamentar por cada lágrima que escorre. Lá do alto, sente o cheiro de éter, mas prefere o da carne. 

Nasce do desgosto. Não tem moradia. Basta ter um ombro que ele se instala. Confunde-se com a própria sombra para então aguarda pacientemente pela queda. O silêncio lhe garante a sobrevivência. E quando decide fazer barulho, traz agouro para manchar a saturada esperança. 

Seja na estrada, na esquina ou na janela da sua casa, vou te observar como se já estivesse marcado para morrer. E está. Não quero suas entranhas, nem seu sangue. Alimento-me do prazer em ver que nem mesmo a perfeição divina faz com que você viva por mais tempo do que o que lhe foi predestinado. 

Eu sou o lembrete que você ignora. Sou aquele que nunca esquece dos dias nem das horas. Espero, sem pressa ou ansiedade, pelo dia em que sua visão ficará tão escura quanto minhas penas.
Sempre tenho fome.

O corvo, eterna ausência de cor. Ninguém consegue ver os seus olhos. Mas ele vê os de todos.

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