Sente a terra gelar a sola dos pés. Dança, sem parar. E se
parar, sorria. Faz do mar teu amante e deixe que o sal da sua boca lave as
feridas da alma. Lave-se com o amor de quem profetiza o início, o meio e o fim.
Diante do mar, diante dele, sobre a terra e distante de si mesmo, você se torna
o interlúdio entre vida e morte.
Aos poucos, os braços vão seguindo o ritmo das ondas. A
música envolve como feitiço. Muda o ritmo dos passos e inventa coreografias de
acordo com o que foi ensaiado pelos olhos. Sente a música agora, menino. Deixa
fluir. A maré vai subir pra te buscar e levar até ele, o mar. Teu, só teu.
Ao respirar, preenche com esperança os pulmões cansados.
Esperança essa que nasce e se põe na risca do horizonte. Ponto onde o infinito
faz morada. Lugar no qual o mundo nasce e morre todos os dias. Desta paisagem
tire o suco que alimentará sua fome. Alaranjado, amarelado, doce como manga... É
para se lambuzar, menino. É para viver até doer todos os músculos. Olha no
espelho do mar e veja ele te refletir com amor.
Quando a brisa abençoar o litoral, esteja preparado para se
despedir. Pois amor nenhum é amor se não estiver cheio de todos os outros
sentimentos. Ama quem sofre, perde, desapega e ainda assim continua amando. É
amor porque não se limita. Nasce e morre naquele horizonte que está pintado
para você.
Foi ele, o mar, que te presenteou com o entardecer. Menino,
se o amor de hoje é aquele que faz par com a dor, saiba de uma coisa: a maré
vai baixar e te deixar do mesmo jeito que te encontrou; no interlúdio entre a
vida e a morte. Entre o coração e a razão. Entre o mar e a última canção.
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