sexta-feira, 14 de maio de 2010

You can be my sugar, be my Cherry Cola

Sinto sede em quase todas as situações. Frio, calor, chuva, sol, raios, fogos de artifício. A mala estava pesada, além do maldito cheiro de álcool que eu exalava. Achei aquele bar na beira da estrada. A paisagem me era familiar: Deserto, um tom amarelo que dizia "Atenção, melhor mudar de rumo". Entrei no boteco.

Quase como num ritual todos os cavalheiros e damas presentes olharam para a minha cara, esperado que eu sacasse uma arma e matasse a todos. Eles queriam ser parte de um filme qualquer, e eu achando que estava lendo suas mentes. Pedi uma dose de gim puro pro dono do inferninho, ele encheu o copo e depois enxugou o rosto gordo e avermelhado num avental tão imundo quanto o resto do balcão. O Jukebox tocava Eagles of Death Metal, e as dançarinas se divertiam. Aquelas mulheres eram fantásticas, seios enormes, loiras, sem nenhuma bunda, pernas finíssimas, cicatrizes por todo o corpo e o olhar mais vazio do que minhas promessas. Dançavam não para os gordos e falidos do local, dançavam para o diabo, para si mesmas. Era uma visão bem singular, era uma beleza que tinha gosto de "Cherry Cola". Quanto aos homens? Porcos, nenhuma novidade. Alguns esperando um motivo simples para brigar, outros apenas parados ali porque sabem que o som da voz de suas esposas escrotas não chegaria até seus ouvidos se ficassem bem quietinhos no canto do bar. E eu ? Magro, feio, mal alimentado, ateu, cretino, sarcástico, enfim, tudo isso foi o que uma das dançarinas me disse quando eu perguntei sobre uma de suas "tatuagens" (cicatrizes).

Ficar ali me encantava unica e exclusivamente pela possibilidade de observar as pessoas, suas manias e vícios, seus gestos amaldiçoados. Não tentava achar poesia neste momento, o que eu queria mesmo era me sentir menos perdido no meio dos condenados. Era uma fuga, olhar para um cara gordo e todo cagado e pensar "Minhas roupas de baixo ainda estão limpas, mesmo sem tomar banho há dois dias". Ok, peguei pesado, mas vocês não tem idéia de como era nojento aquele monte de carne com barba e boné trucker. Acabou a bebida, eu resolvi levantar e dançar ao som de "Solid Gold". Em poucos minutos um cara levantou e jogou uma garrafa na minha direção , acertando bem em cheio meu peito. Olhei para minha corrente de âncora e percebi que ela havia quebrado, não o pingente, mas a corrente que o segurava. Limpei a obra de arte, olhei para o artista e fui pedir um autógrafo. Ele, todo pronto para me contemplar com mais atos irreverentes pegou a cadeira em que estava sentado e jogou na minha direção. Errou. Infelizmente, errou em um momento que precisava muito acertar. Pedi para o dono do bar me descer mais uma dose de gim, peguei o canalha pelo pescoço, quando ele tentou reagir eu apaguei o resto de cigarro que tinha nos dedos bem em seu olho esquerdo. Claro, ele gritou feito uma puta grávida. Peguei meu copo de gim, arrastei meu amigo artista para fora do bar, dei um gole bem carinhoso, dividi o resto com o peito dele, peguei meu isqueiro e também fiz uma pintura na sua carne. Deixei o infeliz queimando, torrando e tudo isso com a benção do sol do deserto. Voltei, paguei 1 dose apenas, ganhei um beijo da loira e sai.

O dia já estava homenageado, além do mais, não é todo mundo que comparece a tal exposição de arte e ainda tem o privilégio de interagir com o artista.

Próxima parada: Hellville.

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