quarta-feira, 26 de maio de 2010

Hoje fez frio no deserto

Muitas semanas caminhando à beira da estrada. Sem haver uma trégua entre eu e o sol. Pensando muito sobre os últimos acontecimentos, sobre a falta de um lugar para ficar, a falta de ter algo bom para comer. Os cigarros acabaram, a bebida também e o corpo começa a voltar para a realidade, começa a chorar por alimento, a pedir as coisas. Não tinha mais toxinas para enganar as necessidades básicas. Bem vindo ao mundo real. Carros passando, pessoas me olhando ... A próxima cidade ainda está muito longe. Dormir no chão duro, apenas forrado por areia e admirar aquele céu estrelado, aquela lua amarelada. Nem tudo era só desgraça. Odeio admitir, mas meus olhos ficavam cada vez mais apaixonado por aquele deserto infinito que mais parecia um oceano de solidão e paz.

Acordei no outro dia sentindo algo que há muito tempo não sentia: Uma gota tocando meu rosto. O deserto estava chorando. aproveitei para tomar um "banho", lavar a carne praticamente seca. Sorri sozinho e fiquei encantado com o barulho das gotas explodindo no solo morto. Percebi que a vida voltava a aparecer, que as nuvens cinzas eram mais belas do que eu imaginava. Deixei as malas para trás, corri durante muitas horas, bebi a água dos céus. Mas nem por isso senti que os pecados haviam me deixado. Não era uma momento de redenção, e sim de libertação.

Lembrei de um dia em que estava junto de um grande amigo e ele reproduziu o barulho da chuva com uma espécie de chocalho. Foi incrível, fechei os olhos e praticamente senti a tempestade e sua força. Agora que o céu voltou a ficar azul e o cretino do sol já me secou, vou atrás desse meu amigo. Preciso que ele me faça lembrar do canto da chuva mais vezes.

Get your guns, boy! I'm coming.

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