domingo, 28 de fevereiro de 2010

The Sorrow and The Frozen Words




(...)

Ele voltou. O frio que eu tanto esperei finalmente voltou. Olhando para esta parede cheia de quadros, e logo abaixo dela a lareira, não pude deixar de lembrar das tardes de longas conversas e reflexões. Um bom café e alguns biscoitos. Ao olhar pela janela podia ver o branco infinito que envolvia a terra, mas dentro de nossa casa um tom de marrom esquentava nossos corpos. Uma boa música, uma boa vida.

Naquele inverno eu achei que poderíamos encontrar certa paz. As pessoas geralmente não ficam nessa região quando o frio chega. Aas pessoas sempre saem em busca de um calor qualquer.Não sabem lidar com o frio, pois tem medo de que ele as traga a solidão. Com essa migração, as ruas ficavam vazias e ir comprar alimento no mercado mais próximo era uma aventura incrivel. Cada passo que eu dava olhava para os meus velhos sapatos, eles estavam cansados, mas eu me sentia muito feliz ao vê-los passar por poças d'água. As árvores dançavam de maneira sutil acompanhando o ritmo do vento que cortava a pele. De mãos dadas tudo parecia mais fácil, talvez por isso nem percebíamos o frio. Você me olhava sem dizer nada e eu sempre falando durante todo o caminho, lembro-me de uma vez em que você fitou meus olhos e em seguida disse que a minha capacidade de criar palavras era como um combustível para a sua vida. Me chamava de feiticeiro do inverno, aquele que encantava com versos e conseguia das pessoas tudo o que queria apenas com estrofes, com frases ... Era uma vida simples.

Eu olhava sua pele, seu jeito de chegar e de sair, fazia mil poesias sobre você. Mas nunca consegui achar uma palavra que te definisse. Na verdade, eu sempre temi achar algo que acabasse com o mistério fantástico que seu silêncio era para mim. Os dias de inverno sempre foram os melhores. Quando era criança eu saia sempre que esfriava, gostava de olhar as ruas sem gente, parecia que eu estava andando por um grande cenário feito apenas para exposição. Tudo ficava mais claro, mais detalhado, eu conseguia ouvir meus pensamentos, meus passos, conseguia guiar o meu olhar por diversos locais, passava por uma parede em branco e mesmo assim via um mundo por trás do inexistente. Quando chegava a noite as luzes da cidade pareciam aquecer meu coração. Café, folhas de caderno, caneta ponta fina. Nem todos os meus dias de frio foram bons, nem tudo era tão sublime assim.

A solidão também pede abrigo quando a temperatura cai. Saber lidar com ela é fundamental. Eu optava pelas lembranças, as boas que mornavam o coração com uma força divina. Lembrava da infância, de correr e cair , de sorrir e chorar no mesmo momento, da inquietação ao esperar uma resposta , da satisfação em ouvir algo positivo, da força que tive que ter quando ouvi algo negativo. Lembro dos jardins e a garoa , lembro dos passos depois da escola e do vento frio mais uma vez passando por mim. Lembro dos longos e demorados abraços e das idas à floresta. Lembro daquela velha jaqueta jeans e de quando te encontrei. A solidão parece uma vírgula perto disso, apenas divide um período e demarca o começo de outro. Talvez o verbo fosse "viver".

Lembro que os dias frios são os meus dias, os nossos dias. Volto à vida todas as vezes que olho pela janela e te vejo naquele imenso céu branco e sinto mais uma vez o frio envolver meu corpo. Sinto você em mim, e hoje te defino com uma palavra: Soulmate.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Amargo




Cigarro na boca, botas no pé, areia nas solas. Acordei com vontade de cuspir na cara do mundo, neste instante comecei a caminhar. Um calor maldito, muita gente nas ruas, sem uma árvore para descansar. Ainda sobraram algumas moedas no bolso. Ótimo, comprei aquela velha garrafa de vodka, continuei andando.

Sociedade acorrentada, música ruim, carros e olhares. Tudo o que eu não pedi para um dia qualquer, foda-se, eu nem sabia por que estava andando tanto. Pensei na criação dos seres humanos, como deve ter sido decepcionante para Deus olhar suas crias e ver que elas estavam seduzidas por tudo o que ele mais repudiava. Deve ser horrível você modelar um boneco de barro e depois ele olhar na sua cara e dizer " Me deixa andar sozinho, to legal, vai procurar outra coisa para manipular". Sei lá, que assunto ridículo.

Ela não me ligava já tinha 3 dias. Pensei que fosse desistir mais cedo, só que desta vez ela precisava provar que ainda tinha algum amor próprio. Eu? Não me lembro do número dela, mas de qualquer forma resolvi esperar. Calor texano, ar seco que corta a garganta, pedi mais uma garrafa de Jack Daniels. Eu não sei qual foi o motivo que me levou a aceitar o pedido daquele diabo de meio metro. Acho que foi a tentação de ter alguém para brigar , e para beber até cair , para fazer o inferno. Aquele bar já estava terminado, precisava andar mais, sentia uma forte dor nos braços. As veias pediam arrego.

Ela não ligou. Mas mandou um bilhete dizendo: " Desgraçado, você foi a pior maldição que já me jogaram, achei alguém melhor, que não bebe e lembra do meu telefone. Foda-se, te amo, mas acho bem mais fácil te odiar. Se cuida trapo.". Guardei o bilhete, foi a unica declaração de amor que recebi. Pelo menos eu achei que fosse uma declaração. Voltei para o emprego.

Aquele velho nojento e sua maldita "empresa". Fuma mais do que eu e mesmo assim não me deixa ter 10 minutos de autodestruição. Juro que um dia vou colocar pólvora dentro do estômago dele. Com a grana desse mês eu decidi viajar, vou cair na estrada. Perdi 2 quilos.

Conheci umas garotas estranhas, elas eram grossas, cheiravam mal e gostavam das mesmas bandas que eu. Deitavam no chão sem se preocupar com a porra do cabelo , corriam pela rua gritando hinos falidos de movimentos setentistas. Não trocamos nomes, eu era apenas eu e elas, elas. Foi divertido, arrumamos briga em uns 7 bares, olho roxo, boca cortada , sal nas feridas eu nem lembrava mais das feridas na alma. Elas se foram e eu fiquei. Ainda estava "na estrada". Quando sentia vontade de conversar eu ligava para um velho amigo meu, ouvia seus filhos gritando e sua esposa escrota obrigando ele a desligar o telefone para ir botar o lixo para fora. Outro dia liguei e ouvi seu pai mandando ir ao mercado comprar frutas. Certas coisas nunca mudam, sim, ele ainda continua sendo um grande amigo. Quando conto sobre o poço de merda que minha vida estava se tornando ele ficava interessado, deve ser foda você viver uma vida que nem para merda serve.

Recebi uma carta dela. Bebi tanto que usei o papel para limpar o resto de vômito na minha boca. Bom, provavelmente ela escreveu para dizer que estava bem e que eu continuava sendo um lixo. Aquela bruxa. Adotei um gato, batizei-o de "Raposa".

Conheci uns caras durante uma partida de sinuca, eles tocavam em uma banda de punk rock. Me chamaram pra tocar baixo e cantar, eu aceitei. Voltar para aquele trampo escroto não estava nos meus planos mesmo. Fizemos umas músicas, tocamos em alguns bueiros. Tudo muito divertido, eu particularmente liberava toda a raiva que não saia no cotidiano e de quebra ainda ganhava muita bebida de graça. Não vou mentir, eu estava tão longe daqui que nem percebia quantas pessoas se jogavam por cima do meu corpo. Ele agia por conta própria e a mente estava sempre de férias. Nomes, não sei qual a importância dos nomes, eu lembro dos rostos, mas nunca dos nomes.

A banda se chamava Under pocket.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Não sei se eu quero a tolerância

Provavelmente meu corpo a rejeita. Ele a vê como ignorância. Que te faz descer do palco, que te faz faltar na escola, que te faz ficar preso em casa. Ando assistindo a muitos filmes, isso não é uma novidade, mas os últimos que vi se passavam na Segunda Guerra Mundial. Acabei trocando o peso e valor de algumas palavras que são recorrentes no meu dia-a-dia. Tolerância/Ignorância. Tolerar = suportar, o que não me faz crer que haja de fato respeito.

Lembrei dos shows em que fui há alguns anos, 2003 e 2004, neste meio tempo pude ver o quão hipócrita era parte da "nova safra" de jovens que colavam nos shows. Decoravam ideais distorcidos para poder pertencer a um círculo de amigos. Pregavam utopias sem fim, esqueciam da música e se lembravam apenas do visual. Talvez hoje em dia com bandas como Cine e derivados as coisas não tenham mudado tanto assim. Os que realmente tinham algo a dizer faziam seu som, escreviam nos seus zines , corriam atrás da coletividade e não se limitavam a dogmas de rua. Não sei nem por que estou falando disto, nunca acreditei em cena ou coisa do tipo. Um amigo meu disse que mesmo hoje eu não consigo me livrar de uma carga niilista. Foda-se.

Voltar as aulas me ajuda a focar os pensamentos. Eu começo a acelerar o ritmo novamente e aí até tenho mais gosto em pegar a guitarra e compor alguma coisa. Ainda é cedo para tentar o português, porém não está tão distante assim. Existem coisas que soam melhor na sua língua local, principalmente aquelas que têm peso de soco na cara, de tiro de 12 no joelho. Talvez role alguma coisa na pegada de Hardcore Old School , intenso e tenso. De qualquer forma também estou na loucura para ensaiar com o Cabaret neste final de semana. Aproveitar que ultimamente eu num to me estragando tanto e ai a voz acorda junto comigo.

Também to querendo retomar os Stencils, faz tempo que não bolo nenhum. Sim, muito tempo que não bolo nada. É tanta coisa, fotografia também tá caminhando, mudei para o noturno e sempre a levo comigo, mas ai esqueço de tirar umas fotos na noite, lidar com a porra do flash.

- Assistam: Um ato de Liberdade -

Bom , sei lá , acho que acabou. Ow, tchau!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Resistir

Pós show. Pós tudo, acho que passei do ponto em muitos momentos da minha vida e talvez por isso hoje eu ache tudo insuficiente. Tocar, descarregar a raiva, me manter de pé, não surtar, relembrar velhos tempos. Sentir uma vontade maldita de acabar um show e ter um tempo só com a minha banda.

Fim.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O sentimento sem nome




Mas como assim? Eu tenho que te explicar mesmo? Não é por que me enfiaram nessa droga de lugar que eu preciso mesmo falar de mim. Quem achou os problemas não fui eu, foram eles. Então pergunte a eles e me deixe em paz.

Quando eu vi aquela enorme "casa" rodeada de árvores já logo pensei: "Porra, vão me mandar acordar cedo para cortar grama e fazer exercícios". Senti tanta raiva que pensei várias vezes em estourar o vidro do carro e fugir. Mas no fundo eu sabia que a cada fuga o lugar ia se tornar pior, de árvores e grama à cela fria e cheiro de cachorro molhado. Foda-se, eu já estava na merda mesmo. O que mais podia acontecer? Tiraram todas as bebidas do meu quarto e os objetos cortantes também. Grande merda, pessoas lutando pela vida de uma pessoa que não faz questão de viver. Não adianta nem mesmo vir mostrar videos e cantar musicas de Paz, cada um sabe do que lhe faz mal. Se não morre de fome, ou frio , morre-se de desgosto, enfim , morre da porra que você quiser. Não to nem aí, apenas queria ficar só.

O lugar por dentro era idêntico a um hospital e claro, as pessoas como sempre fizeram aquela cara de aluno americano quando vê a líder de torcida gostosa passar pelo corredor com os cabelos ao vento... To longe de ser líder, muito mais longe de ser gostoso, mas as caras eu garanto foram iguais as do filme. Oferecer um cigarro ninguém ofereceu. Bando de filhos da puta.

Normas, quarto, roupas, drogas, blah, blah, blah. Já não fizeram 200 filmes mostrando essas coisas? Puta merda, eu não resisti e disse para a velha gorda "Ok Woopi Goldberg, aonde posso dormir sem ser cortado em fatias?". A primeira noite foi um lixo, se eu disser que dormi é mentira. Fiquei olhando para o teto contando todos os passos até o inferno quando de repente uma enfermeira entrou e me presenteou com ótimos comprimidos. Dormi, fato.

Dias vão passando, a irritação cresce. Eu nunca achei que devia estar ali, qual o problema em beber durante a semana? Qual o problema de não saber dizer aquelas coisas de cartão de Dia Dos Namorados para quem se ama? Que inferno! Repouso de cu é rola. Isso aí foi medo de me deixar na rua e depois ter que sair do conforto de casa para reconhecer um corpo mutilado. Droga, acho que estou roubando remédios demais, ai começo a delirar ou quem sabe estou falando a verdade que paira na minha cabeça? Grande bosta, quem vai me ouvir? O cara do lado que repete o dia inteiro "Eu vou ser feliz, ela me ama e vai voltar , eu vou ser feliz, ela me ama e vai voltar". Se eu bater novamente nele, vão me levar para o tratamento de choque. Sortudo do caralho.

Primeiro Mês

Queria saber como funcionava a cabeça do miserável que escreveu esses livros sobre "Mente humana". É de uma arrogância sabe? Ele nem imagina como eu sou, acha que está a par do que acontece no meu mundo, mas não está. Ele fica dando pistas de como as coisas vão acontecer, a hora que elas vão explodir... Caralho velho escroto filho da puta você acha fácil falar dos outros e escrever sobre os problemas deles porque é isso que ocupa sua mente e te impede de ser igual a mim. Se você se rendesse ao extremo do sentir e não passasse a vida dissertando talvez pudesse falar um pouco de mim. Ok cretinos, eu escrevo também, muito, mas não fico aí dizendo quem é perturbado, quem é viciado, quem vai poder ver a mãe nas próximas semanas. Vai se foder, eu não aguento mais, eu penso muito nas outras pessoas e elas me atormentam de longe. Quando se está aqui fica fácil perceber que ninguém nunca viveu por você, que as pessoas estão com as vidas delas e você é apenas aquela lembrança que alguém resgata na hora de rezar, para parecer bom, piedoso e garantir seu lugar no céu. Eu sinto que eu sou o mesmo, mas as pessoas não me dizem as coisas que diziam antes com amor e carinho, elas vêem em mim uma fuga para as suas próprias imperfeições. Falam de mim para evitar falar de si mesmas. Não as culpo, eu fiz isso só que ao contrário, falava de mim para não dizer a elas o quão patéticas pareciam.

As coisas aqui estão normais, se é que essa palavra entra no contexto. Conforme fui conversando com os parceiros pude perceber que eles também já passaram do ponto, que nada aqui os chama a atenção. Uma clínica para drogados que só os ajuda a substituir as velhas porcarias por novas porcarias, mas estas registradas pelo governo. Meu pau com fritas para o governo. Tem um louco aqui que fica observando meus passos, nunca me disse nada , mas me olha diretamente nos olhos, acho que nem deve ter percebido que eu tenho pernas, braços, orelhas alargadas.

O cara que olha

Para matar as malditas horas de sol eu fingia que estava lendo e que a forte luz atrapalhava. Aí ficava na sombra e os outros se matavam na porcaria do jardim. Eles me davam um cigarro que matava menos. Cheguei a pegar o suco de abacaxi que davam no almoço, guardar debaixo da cama e depois de seduzir uma faxineira misturei álcool de limpeza e bebi. Orra, você não está nem ligado na maravilha que foi, eu olhei para tudo aquilo e comecei a rir, rir, rir, rir, rir... Aí tive uma parada cardíaca devido a uma reação que os medicamentos tiveram com o álcool. Olha, eu pouco me fodi para o caso. A faxineira era uma vadia mesmo. Várias vezes eu a vi dando em cima do louco que me encarava, mas ele sempre dizia algo no ouvido dela que a fazia tremer e ir limpar as merdas no banheiro. Um dia, enquanto eu lia de verdade na sombra, ele se aproximou. Filho da puta veio acabar com minha paz. Dois meses e eu me orgulhava de não ter laço algum ali, já que eu sabia que não era aquele o meu lugar.

Ficou me olhando, depois disse com uma voz de radialista pervertido: - Posso me sentar aqui ou vou ter que te dar álcool também ?. Adoro a ironia, principalmente quando ela me permite responder: - Pode sentar sim, quanto ao álcool fique tranquilo, eu não costumo cobrar de retardados que transam com faxineiras fedendo a merda. Ok, foi nossa maneira de dizer "Olá, tudo bem ?". Nós rimos, e ele perguntou o que eu estava lendo. Bem, ele riu mais ainda quando viu o meu "livro". Era um caderno totalmente vazio, sem nenhuma palavra. Me perguntou como eu fazia aquela cara de quem estava na melhor parte do livro, e ai eu disse "Nessas horas eu estava lembrando dos dias em que eu ficava tentando achar um sentido em não me manter alto". Toda vez que eu pensava nisso fazia uma puta cara de sério, que bosta. De resto foi só silêncio, trocamos alguns comprimidos, pois o diagnóstico dele pressupunha outros remédios. Esse ato foi como trocar um abraço e ir dormir. Daqui em diante eu vou traduzir o que aconteceu.

A tradução do "nós"

No começo eu comparecia a análise com mais frequência, não por vontade, mas por obrigação. Era uma chance de mostrar que eu tinha me tornado um otário e que aceitava o mundo. Mas aí a frequência foi diminuindo, não por falta de vontade minha, mas porque os próprios analistas não queriam perder tempo com meus testes lúdicos. Eu conseguia transformar um texto em uma receita de bolo, e achava pornografias e declarações de assassinatos em bulas de remédios. Sim, era engraçado, mas também aumentava 3 semanas no meu tempo de permanência naquele lugar. Foda-se, agora eu já conseguia me distrair. Ste, o cara que olhava e não dizia nada, na verdade não se chama Ste, mas é assim que eu gosto de chamá-lo, começou a dar sentido nos meus dias. Ele me contou os ocorridos e tal , só que não foi como uma sessão de "viciados anônimos" onde você só melhora quando ouve um problema pior do que o seu. A gente foi falando de maneira satírica, irônica e nossa, eu ria muito. A doença se tornou um laço forte entre a gente, estávamos buscando fugas dentro de um lugar impossível de sair. Diferente dos filmes , aqui não tinha uma saída debaixo da terra nem mesmo portões fáceis de pular. Nós paramos de tomar os remédios. Eu voltei a escrever e ele disse que queria ser cada personagem meu e que em cada dia eu o matasse de uma maneira diferente. Porra, sem nada para fazer eu só podia aceitar né? Ele se encantava com as maneiras sádicas que eu usava para matá-lo, e as vezes nem motivos eu dava. "Acordei , olhei aquela merda de sol e os passarinhos cantando, pensei - Não é um dia para mim- pulei da janela, não morri ... Fui tomar café todo sujo de terra , meu pai bêbado deu um tiro na minha cara". Foda-se, ninguém aqui iria receber um premio de literatura, mesmo que fizesse uma releitura fantástica de "A Bíblia Sagrada". Black humor. Nós rimos muito durante esses textos, e aí um dia ele me disse que pensava em sair dali. Foi quando as coisas saíram dos textos e começamos a viver algo mais real.

O que há de real na loucura

Eu não sei se queria mesmo sair, mas sei que faria um bem para o meu orgulho, que havia virado um monte de vômito na minha cama. Não pensava em beber, até pensava só que me fazia ouvir um leão dentro de mim pedindo por mais seis doses. Ste corria contra o tempo. Ele era viciado em cocaína e não se recuperava tão facilmente , porra, não há um "facilmente" em nenhum caso de recuperação de drogados, mas ele tentava. Eu havia feito uma espécie de guia para ele, lá estavam todas as possíveis coisas físicas que ele poderia fazer nos momentos de crise, e todas as outras coisas impossíveis que ele poderia pensar e controlar o corpo. Ele descartou as coisas reais, e preferiu ficar com as impossíveis. O engraçado foi que ele riscou metade delas e no lugar escreveu meu nome. Achei estranho, mas ao mesmo tempo bonito. Sempre achei um pouco de beleza na bizarrice. Na verdade o que me deixava encantado era a capacidade de me surpreender, e isso ele tinha.

A capacidade de me surpreender

Minha família veio me ver. A igreja disse que era o certo a fazer. Dei um beijo na mãe que não parava de chorar, dei um abraço no irmão que falava sem parar e pedi a assinatura do meu pai para provar que ele passou a visita toda sem sofrer agressões físicas ou psicológicas. Foram embora, a família do Ste também, Um pai feio pra caralho e um irmão com cara de canalha. Eu descobri o que o Ste dizia para a faxineira e que a fazia sair com cara de bunda. Ele dizia que o irmão dele a viria visitar em breve e que com ele viriam gramas consideráveis de cocaína. Aí perguntei para ele: Tá e daí , o que isso tem a ver com a cara de idiota que ela faz ?. E ele respondeu: - Cara, ela é tão viciada em cocaína quanto eu e quanto você no seu suco de cana, daí ela morre de inveja e saí. Achei ridículo, esperava bem mais, sinceramente fui até dormir depois disso, mas o tonto fui eu de achar que estava num filme e que iria ouviu ele dizer "Ela faz aquela cara porque sabe que eu vi seus três peitos e que é um travesti". Relatos "fail". Nós achamos um lugar no jardim muito bom, com umas árvores bem altas, lá ficavamos madrugadas inteiras conversando , teorizando, criticando e claro, tomando remédios para manter aquela névoa roxa, meio verde e com forma de cavalos. Até que um dia a vadia da dona do bordel arrancou a árvore para construir um estacionamento maior. Eu e Ste aceitamos o desafio dela, e devolvemos o golpe. Pegamos caixas de remédios vencidos, litros de produtos de limpeza inflamáveis (cortesia da nossa mais nova amiga de infância junkie, Débora) e caixas com velhos relatórios de pacientes mortos ou irrecuperáveis, juntamos tudo, colocamos no carro da desgraçado e aí você pode imaginar o que aconteceu. O carro se fodeu e nós também, um idiota que tinha medo de fogo começou a gritar , a velha olhou pela janela e nos viu. Separaram eu e Ste e a faxineira foi demitida. Ele me mandava bilhetes todos os dias, disse que estava sentindo falta de morrer pelas minhas palavras. Comecei a matá-lo novamente , matando o tempo também.

Dizer olá é equivalente a dizer adeus

Depois de 1 mês nos encontramos novamente. Ele estava com cor, não parecia um pano sujo. Confesso que achei uma porcaria, gostava de ver ele como um vulto, pois me sentia vivo ainda. Conversamos o dia todo, e ele me disse que queria muito sair dali. Eu me lembrei de quando nos falamos pela primeira vez, a vida ali seria simples para nós, mas fora dali o mundo era grande demais e com certeza nos separaria. Porra, aí você começa a ser gente novamente e a cair nas utopias de sempre, achando que tudo vai dar certo mesmo saindo da zona de segurança. Era como dizer "olá mundo, adeus Ste". Eu não ia querer nenhuma lembrança dali, e ele seria uma delas. A namorada dele havia se casado e ele me disse que nem lembrava direito do rosto dela. Bem, isso é compreensível já que a vagabunda era viciada também, em estética, vulgo plástica. Pensamos em arranjar um trampo no começo e alugar um lugar simples para ficar, depois com o tempo íamos nos ajustando e aí cada um seguia seu rumo. Mas eu não era mais tão tolo assim, tudo o que eu conseguia ver eram garrafas no chão , cocaína no lugar de pães e queijo e a porra da porta aberta, como se fosse as pernas da ex namorada dele. Só que não queria mais dizer "adeus" simplesmente. Eu sei que se ele voltasse para a vida suja e viciante eu seria o único a entendê-lo. Nunca achei ele fraco, como todos diziam o tempo todo, nunca achei ele inseguro, como todos diziam e aquele livro de bicha também, só achava ele disperso e que precisava de uma âncora. Eu adorava âncoras, tenho uma no braço, comentário cretiníssimo. Decidimos fazer tudo certo para sair, com a mente livre de remédios pesados era mais fácil fingir ser gente comum. É isso que te ensinam lá dentro, a fingir ser alguém normal com sonhos cadastrados no banco de dados do "Sistema de Pessoas Politicamente Corretas". Meu pau com sal para esse sistema.

Mordi os lábios, tapeis os ouvidos, soquei a parede até as mãos sangrarem e consegui. Isso! Estava fora, livre, "curado" e rindo. Caralho, como eu ri. Quer mais ? O Ste também. Foi considerado " Capaz de conviver em sociedade sem praticar atos destrutivos ou auto destrutivos". Acredito nisso também.

De volta ao mundo sem dono

Vivemos bem por dois meses. Trabalho, estudo, eu escrevendo muito, ele desenhando compulsivamente. Sem bebida, sem cocaína. Muito café, muito cigarro e muita, mas muita bala de canela. Eu particularmente vou começar um tratamento para parar com elas, tá foda. A família fazia questão da nossa presença em festas, quase como colocar um babador na gente e dizer " olha que lindinhos, saíram da U.T.I., foi Deus". A família do Ste (o pai feio e o irmão imprestável) não apareceu mais. Ele também nem fez questão de vê-los. Ao invés disso ele fez novos amigos, dessa vez optou por pessoas que não traficavam. Achei justo. Eu também conheci gente nova, mas ainda estava num ritmo bem diferente do deles. Eu gostava de filosofar com os amigos, por horas e horas. Beber estava fora de cogitação, mas eu levava café gelado na mochila, era como um vampiro bebendo sangue de mula. Adorei a analogia. Cinema, shows, botecos... Sim, eu sabia que não podia beber nada de álcool , mas consegui ir a botecos, sem maiores problemas. Era só ter uma bala de canela no bolso e pronto, os filhos da puta paravam de me oferecer pinga.

O mais difícil foi reencontrar aqueles que se diziam meus "verdadeiros amigos". No começo eu os evitei muito, sempre pedia para o Ste dizer que eu não tinha chegado da rua. Mas era óbvio que um dia isso tinha que acabar. Os recebi em casa, num típico domingo de pau no cu, sol , cheiro de comida boa ( o Ste arrebentava na cozinha, cuzão dos infernos) e casais apaixonados. Vomitei duas vezes, era muito para mim. Entretanto segui com o almoço. Eles me contavam de sua vida saudável, de suas carreiras promissoras, as namoradas falavam de como eles eram incríveis, de como eles haviam superado enormes diferenças, e eu olhava, pensava: "Eles são tão vazios, reprimidos, bebem pouco e acham que com isso estão soltos para se expressarem de verdade ... Talvez se eu transar com todas vocês e provar para eles que vocês são umas vadias então quem sabe eles não se mostrem pessoas capazes de superar enormes diferenças". Ai nessa de pensar eu deixei uma garrafa de vinho cair e a bebida respingou nos meus lábios. Neste momento o Ste se levantou rapidamente e antes mesmo que eu passasse a língua nos respingos ele limpou o que havia ali. Ele me surpreendeu. Meus amigos ficaram em silêncio, e aí quem começou a falar fui eu. Não, eu não fiz ninguém passar vergonha, afinal eu não consegui beber gotas de álcool. Eles ficaram tão tensos que só pude perceber o quão falsos eram. Estavam ali por caridade, não porque queriam ver o velho amigo deles. Estavam ali porque era socialmente louvável, na verdade eles queriam mesmo era estar em casa transando com suas namoradas maravilhosas. Namoradas do tempo de escola. Acho bonito o amor, mentira. Mas acho legal ver os amigos felizes, mas ainda assim existem "casais" que nem mesmo o Cupido gastaria flecha. E namorada de amigo é algo difícil de lidar, porque elas esfregam na minha cara um fato duro de aceitar: Em um mês eu consegui conquistá-lo dez vezes mais do que você em 6 anos. Aí eu penso: - Ok, vadia. Pode me passar o macarrão e ir embora da minha casa?. O Ste percebeu que eu estava começando a ficar tenso, então decidiu me descontrair. Criou histórias incríveis sobre nós lá no hospital velho. Eu ri tanto, meus amigos ficaram fascinados e suas namoradas foram esquecidas como se fossem vassouras velhas. No final das contas eu nem percebia mais os outros, só o Ste e seu sorriso de diabo.

Não sei como terminar

Ste namorou algumas vezes, eu obviamente nem quis opinar sobre. Mas depois me acostumei, ele que não se acostumou. Quando eu fui namorar ele ficou descontrolado, porque achou que eu ia trazer a pessoa para dentro de casa. Aí eu falei para ele: Quer fazer um teste? Fizemos o teste e ele é quem ficou consolando a pessoa durante os meus ataques de nervos. Eu ri tanto da cara dele, aquele filho da puta era muito sentimental, vai se foder. Já nem pensávamos mais em drogas, mas uma inquietação sempre batia na nossa porta e o gosto ou a coceira no nariz voltavam. Encontramos um jeito de evitar isso, saíamos para caminhar , sem rumo, sem dinheiro (pois corríamos o risco de parar em algum lugar e fazer merda), era uma caminhada compulsiva e de certo modo destrutiva. Andávamos até perder o ar, até cairmos no chão com as pernas imóveis. Mas dividíamos um sentimento sem nome. Era assim que nos mantivemos durante as férias, durante os feriados, durante as brigas que não eram poucas. Demorou para ele aprender que brigar é uma prova concreta de que se gosta, mas que precisa ser dosado como tudo na vida. Ta aí, uma coisa que nunca pensei que ia dizer, eu que nunca dosei nada e vivi o extremo do que tinha no dia, hoje vejo que me surpreendi comigo mesmo. Depois disso eu comecei a gostar mais ainda de mim, mais ainda do Ste. Não existiu um final , porque ainda estou aqui escrevendo. Ele não está por perto hoje, teve suas coisas para fazer, mas nos resolvemos e hoje existe um mundo nosso onde as luzes de fora não alcançam e a musica que toca é sempre a nossa.

...

Veny Santos

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Eu não sei o que dizer




Hoje não consegui falar nem ao menos mover os olhos na sua direção. Não consegui encarar os dias comuns, tudo porque me causa uma dor ainda. São tantas coisas passando plea minha cabeça, tantos momentos que compensam e outros que destroem. Estou lhe dizendo, eu não soube o que dizer por isso optei pelo silêncio. De qualquer forma, não houve uma pergunta se quer. Não houve preocupação da sua parte, talvez se eu estivesse realmente morrendo você nem saberia de fato. Porque não lhe é interessante saber. É um silêncio vindo de ambos os lados.


Não faço uso destas palavras para mais uma vez retratar uma tristeza profunda, hoje eu as uso para dizer que estou conseguindo me reerguer. Ainda dói muito, mas estou tentando, firme. E também para refletir quanto uma coisa que está realmente clara. Sim, as coisas tomam sempre o mesmo rumo, e quando a amizade não importa mais apenas vivemos de tolerância.


Hoje, ao cantar uma música chamada "Blood Stain On My Shirt" eu quase fraquejei. Pois pude sentir cada frase cantada. Uma droga, mas uma droga que eu preciso.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Mãos dadas

Nunca senti tanta dor no peito ao ver duas mãos dadas. Jamais percebi que dentro de mim havia um demônio adormecido que dispertou e simplesmente tomou conta do meu corpo. Eu busquei a morte, busquei a fuga, busquei pessoas, mas tudo o que encontrei foi uma tristeza tão grande que se misturou a toda raiva que já tive durante a vida.

Realmente, estou fora de controle, e só escrevo aqui para distrair a cabeça e não optar por um sono daqueles que nunca se sabe quando vai acordar, ou se vai acordar.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Se eu pudesse fazer um trato com Deus ...




Não dói. Desde que você confie em mim. O "adeus" nunca dói de verdade. O que dói mesmo é a sensação de derrota, de perder para si mesmo. Ser incapaz de te manter por perto, sob meu controle. Ainda assim, não dói tanto, já sofremos bem mais que isso. E lembrar as vezes serve como bateria.


Sei que no fundo você não quer me machucar, só ver o quão fundo a bala pode ir. Se ela chega até meu coração. Tudo o que você sempre quis foi ele. Corremos juntos contra o tempo, e se pudéssemos teríamos feito um trato com Deus pedindo que ele guardasse todos os nossos lugares. Aqueles em que fomos felizes do tamanho de um infinito, insuportavelmente felizes. Lugares em que precisávamos brigar para equilibrar os chakras. Lugares que só eu, você e Deus dançamos. Mas claro, a três sempre um sobra, e eu sei que Deus vai entender.


Não há culpa que nos faça ir embora. Você sempre olhou diretamente nos meus olhos, sempre me abraçou com força, mas nunca alcançou o coração. Quando ambas as casas estavam queimando feito inferno, e você não aguentava ouvir as mesmas reclamações nós fomos até aquele lugar. E quando eu estava dilacerando a mim mesmo, pagando caro apenas por alguns minutos de briga e catarse você me levou para aquele lugar. Percebe ? Nós nunca pertencemos a um único lugar, somos tão fragmentados quanto os trovões constantes em nossos corações. Ambos nos importávamos com cada lugar, com cada pedaço nosso. E de tanto percorrer diversos lugares, e deixar em cada um deles um pouco de nós, não nos restou nada. Eu e você nos olhamos pela ultima vez, e mandamos o amor se calar. Mandamos Deus tocar outra música, uma que não pedisse a união de nossos corpos.


Eu nunca quis te machucar, mas sabe que dentro de mim mora uma besta violenta e incontrolável. Você nunca quis me machucar, mas me disse que dentro de você existe vários "vocês" e que eu já não conseguia mais conviver com todos. O que mais me seduz nessa música é saber que não há um fim. Não houve uma ruptura. E eu falo por nós. Não sei quem está do outro lado do muro, não sei nem se lembra do meu nome ou da promessa. O que sei é que você não me machucou, só me ajudou a perceber que no final das contas ( mesmo não havendo um final ) nós ainda procuramos os mesmos lugares. Pois ali estamos nós, não te contei, mas Deus aceitou minha proposta.


Eu fiz um trato com Deus, e como pagamento ele me fez esquecer do seu nome, do seu rosto e do seu gosto. Mas algo em mim ainda busca aquele unico lugar onde fomos um, por alguns bons segundos.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Insonia




Impossível dormir. A cama se torna um inferno quente e desconfortável, mas antes fosse esse o obstáculo. Quando me deitei a mente disparou feito gatilho sedento por miolos. Hora se horas me virando e tentando pensar em coisas nulas ou repetitivas que me deixassem com sono, mas foi inutil, eu só conseguia pensar nas piores coisas e nas vivências mais dolorosas. Nem água, nem leitura me ajudaram. As luzes se apagaram e mesmo com os olhos fechados eu ainda via rostos e revivia dias em que tudo o que eu achei ser felicidade era na verdade plástico com laços de presente. Eu que deixei quase tudo para trás em nome do que parecia "certo", hoje vivo a tormenta de não ter vivido tudo o que estava reservado para mim. Não me interessa se hoje tudo isso não faz sentido, mas pelo menos fez naquela época , e também não me interessa se os amigos repetem as mesmas frases achando que estão ajudando. O que é dito, o que é escrito não vale porra nenhuma, o que vale mesmo é a intenção por trás das palavras. Quantas vezes eu quis dizer "eu te amo" e disse "você é foda", quantas vezes eu quis dizer " fica " e acabei dizendo " pode ir, eu não me importo". Sempre quis que entendessem que eu não digo diretamente o que sinto, aguardo até que a pessoa compreenda ou tente compreender. Por isso estou como estou , descontente com quase tudo. Tenho amigos maravilhosos, nunca vou negar isso, só não sei como dizer as coisas a eles.


Eu me vejo caminhando dias e dias pelas mesmas estradas paro e olho a minha volta, um enorme deserto me convida para passar a noite em sua cama de areia. Não consigo dormir, o cheiro de gasolina perto do meu rosto e os espinhos de cactos rasgando meus braços. Sei que amanhã eu não vou ter coragem de usar regatas, e se tiver vou dizer " Alergia, odeio". Mais uma vez eu não sei como dizer " socorro eu não consigo me controlar quando estou extremante nervoso". A cabeça se acostuma com aqueles pensamentos violentos de querer arremessar pessoas de penhascos, socar pessoas sorridentes, queimar pessoas enquanto elas dormem, e eu não.


A verdade é que "amigo" só é amigo enquanto ele faz os outros rir e resolve parte dos problemas das outras pessoas. Porque quando é ele que está na lama os "amigos" só sabem dizer " Vai passar", " A vida é assim", "Você tem que sair", etc. Uma vez, um amigo me disse "É raiva que você tem ? Então vamos descontá-la ! É tristeza que você tem ? Então vamos dividi-la ! É solidão que você sente? Então vamos caminhar !". Algo desse tipo.


Posso garantir, foram as noites em que melhor dormi.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Jurei que aprenderia a me controlar ...




Mas menti mais uma vez. Não consigo criar um limite para "o gostar" ou "o admirar". Faço isso em silêncio, e demonstro aos poucos, de uma maneira sutil. É como dizer "acho que gosto de você" escrevendo com o dedo no vidro da janela e depois soprando ... No entanto, quanto eu te quiser , você não vai estar lá para mim.


Acalma meu coração, silencia meus pensamentos e pelo amor de Jah, abrace meu espírito, como aquele abraço de partida , que risca uma lágrima no rosto e aperta um coração ao outro. Não me deixa fugir, não me deixa sentir que perdi algo importante. Pelo menos, dessa vez , me ensina que não estou perdendo nada , pois de fato nunca tive. Nunca te tive. No fundo a culpa é toda minha, eu não devia ter me aproximado tanto assim. Existe sempre uma voz que diz " Quanto mais próximo, mais longe da razão estará".


Ter a sensação de que é capaz de mudar o mundo para ver você feliz, e ainda assim faz tudo isso em silêncio. Eu serei sempre aquela brisa leve que bate no seu rosto e te faz sorrir a qualquer hora. Só não me deixe como lembrança, pois o tempo seria meu dono e já decidi que quero pertencer a você.


Não é uma declaração, nem ao menos um pedido. Sou apenas eu conversando comigo mesmo, mais uma vez.