sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Laço das almas


Os fogos já estalavam no céu. Escuridão profunda. Sem bordas, sem mapa, sem linhas, apenas algumas estrelas. Mais um ano começava e eu nem ao menos tinha como acender o primeiro cigarro de 2013. Virei o ano com vontade de morrer mais um pouco. Nada de inédito.

Comecei a caminhar pela praia. Sentia o mar diferente. Espreitava-me cuidadosamente. Sabia que seu eu adentrasse em sua pele jamais voltaria. E se voltasse, não seria o mesmo. Mantive certa distância, mas tive que molhar meus pés com suas lágrimas salgadas. À noite ele lamenta. Reclama da solidão. Vira deserto e só conta com a companhia da areia, sempre lá, fiel.

Gritava dentro de mim a necessidade ancestral de ficar só. Confundir-me com os grãos espalhados pelo litoral. Abri mão dos abraços e sorrisos, dos votos e goles no vinho seco. Senti uma forte brisa me cortar o rosto e então tive a certeza que estava no caminho certo. Aquele que não sabemos aonde nos levará.

A cidade em que nasci estava longe, assim como os rostos que diariamente ornamentam meu calendário. Mas tive saudades, sim. Muita. Porém, mais forte do que a falta foi a necessidade de ter você aqui comigo. Veja, tudo o que sinto fica no silêncio mesmo. No máximo viram palavras, textos, relatos...

Não se pode ter tudo. Mas se pode querer tudo. Querendo ou não.

O cigarro ainda desfilava nos meus lábios. Até que vi aquela faísca vagando solitária, um pouco a minha frente. Três tentativas, nada de fogo. Na quarta, o fumo se rendeu às chamas, assim como eu me rendi àqueles olhos tão escuros quanto o céu.

Horas e horas de conversas trocadas no alto de uma pedra escorregadia. Aquela parte da praia era vazia de gente. Só restava a natureza e suas manifestações. As ondas já haviam se deitado e só nos sobrava a calmaria.

Sem apresentações corriqueiras, trocamos poucas confissões: nomes, signos e bebida favorita. Em seguida, uma mão toca a outra. Um braço encontro o ombro do outro. A cabeça repousa no peito e a alma se entrelaça com o perfume de maresia. Ali, atados, provando para o mundo que o compromisso está além - muito além - das promessas. Sem dizer uma palavra, o beijo sussurrou em meus ouvidos um "eu te amo" puro, sem domínio, livre dos formatos. E eu amei.

Nunca mais nos vimos. Mesmo assim, ainda te vejo (sinto).

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