sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Imersão Emersão



Imersão. Não basta afundar sua cabeça debaixo d’água. É preciso se afogar na própria alma. Vasculhar cada canto do corpo em busca de algum sinal vital. Entregue-se sem resistência. Só assim vai experimentar a sensação de leveza que lhe foi prometida desde o nascimento.

Quando a tristeza se instala no corpo, parece arranhar a pele por dentro. Risca os músculos sem considerar a dor. A tristeza tem esse dom. Camufla a dor. Acumula o sofrimento para que este seja despejado de uma só vez. E quando isso acontece, seus olhos são os primeiros a lhe trair. Você não consegue enxergar através da camada espessa criada pela angústia. Ainda que as cores estejam presentes, o buraco negro deixado pela ausência de alegria suga qualquer tom, no intuito de preencher-se novamente.

Lidar com o amor não é diferente. Ao invés de arranhar, ele pressiona o peito com uma força colossal. Parece nunca estar satisfeito com o tamanho do peito que lhe abriga. Inquieto, desconfortável, sempre vaza do coração. Sempre transborda. E quem surge para recolher seus excessos é justamente a melancolia. Aquela que sofre pelo amor, em silêncio, e se torna escrava de uma persistência doentia.

Tal carga sentimental e antagônica compõe o que alguns chamam de “pessoa”. Criatura capaz de mudar tudo ao redor, apenas com a mente. Com o descontrole. Com a ânsia por algo que nunca terá. Pelo prazer ou desprazer da eterna busca. Mosaico que desconstrói para depois refletir as dádivas que a natureza lhe deu. Sofre e ama ao mesmo tempo. Consegue maquiar a face da agonia com um sorriso. Chora de alegria. Sente-se humano quando erra sem se arrepender.

Mesmo que não exista fé ou esperança, existirão os pesares e as fugas. Seja o seu vício favorito ou sua prática mais odiada, anular-se pode ser o mantra principal da vida. Faz vibrar o universo. Clama por um sono sem despertador. Clama por uma chance de não ser. Se o amor é a prova de que não cabemos dentro de nós mesmos, a tristeza vem para recolher os pedaços da frustração. Depois que todos eles estão juntos, ela assopra e cobre nossa essência com as chagas de outrora.

Pai, mãe, irmão. Todos em um só lugar. Um só lugar capaz de abrigar a todos. Não está aqui, nem no céu. Está em todo o lugar. Mas principalmente na respiração. Alimenta os pulmões sem cobrar por isso. Pai, mãe e irmão. Vocês nunca existiram de verdade. Só na minha mente.

Emersão. Não basta tirar a cabeça debaixo d’água. É preciso querer estar fora da própria alma. Todos nós queremos. Eu, principalmente.

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