quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Coração de vidro

Ele adorava ir ao cinema, mas quase sempre se atrasava para a sessão. Para cada momento de sua vida, utilizava um roteiro como alicerce, dando espaço para a imaginação. Talvez por este motivo seus sentimentos fossem sempre selvagens e incontroláveis. A desordem permitiu que voasse mesmo com asas de cera. O sol não foi forte o bastante para derretê-las. Nem ao menos foi capaz de secar as lágrimas.

(...)

Final de semana, feriado, trabalhos e ensaios. Precisava mesmo tirar um tempo para fazer as coisas que gosto, sem deixar de lado as obrigações. Sim, este é o modelo mais comum de vida, a eterna flexibilização das próprias atividades. Em outras palavras, vc se divide em três.

Nunca fui bom para contar sobre meus dias, sendo totalmente fiel ao realismo. No sábado passei grande parte do dia trabalhando com manipulação de imagens e ilustrações. Olhar aquelas páginas digitais em branco me dava vontade de liberar a criatividade, sem nem ao menos considerar os padrões técnicos e tudo mais. Foi assim que fiz.

Depois? Escrever... Consegui ensaiar com a banda. Minha voz está indo embora, cada vez mais rouco, mais grave. Não me importo, que seja eterna enquanto dure. Telefonemas, solidão, angústia. Coisas naturais que não surpreendem mais. Nem me fazem querer morrer.

Não tenho muito o que dizer. Aquilo que não escrevi aqui está guardado num lugar que não precisa de registro. Está no coração de vidro. Estou chateado e vou me sentir assim até que tal sensação me abandone. Tudo poderia ser diferente, não é mesmo? Só que sabemos que não é.

Será que realmente não me faz querer morrer?

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