quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Sobre sobras e camilas
Injustamente, as sobras recebem sempre um canto, um espaço vago pelo acaso, um saco ou uma vala qualquer para residir. Justamente porque o resto do mundo se esquece de que sobra é excesso, é fruto do que transbordou, é a prova de algo um dia foi abundante e constante.
Das sobras de si mesma nasceu a Fênix. Das sobras de si mesmo estruturou-se o universo. Das sobras sobramos nós, excesso do desconhecido. E dos farelos de quem não cultiva crença nascem sobras e argumentos para justificar a existência autônoma.
Sobra, porque não nos permitimos mais faltar. E fazer falta.
quinta-feira, 19 de setembro de 2013
O complexo vem sem medo
Perdi a conta de quantas calçadas eu precisei me perder para
te achar, assim, numa esquina, fantasiado de fumaça – todo cheio de graça. Completamente
indisponível, como último cigarro do maço, mas pronto pra caber entre os meus
lábios. Indispensável.
Perdi as contas de quantas vezes eu achei que duas pessoas
somadas se tornariam apenas uma. Perdi a conta, mas não perdi o texto. Nem o desespero. Nem você.
Amigos e mais amigos perderam a conta de quantas vezes me
disseram: “Quando você menos esperar, ele vai aparecer”. E eu passava a esperar
mais ainda, com vontade de ter só porque era assim que meu coração dizia que
tinha que ser. Passei por filas, vagões, assentos de ônibus, mesas de bar, por
tudo o que pude. Mas eu passava e olhava, sem ver nada. Quando vi, parei,
pensei e não fiz nada. É assim que funciona: quando eu menos espero, mais me
desespero e palavra nenhuma pega carona na fala. Na ponta da língua não sobrou
frase feita muito menos perfeita. Na ponta da língua só a boca selada. Então o
peito se enche de coragem e pede pra gritar. O berro sai da ponta dos dedos
que, sem educação nenhuma pede pra tocar seu rosto e desenhar as quatro linhas
do seu queixo quadrado.
Quem dera todas as relações começassem assim, no silêncio.
Na simplicidade do olhar que não tem nada de puro e já deixa claro – “ilusão de
ótica, cegueira sentimental, miopia racional, astigmatismo estético“. Eu me dei
de presente a chance de ser enganado, afinal, é mais simples não viver e
interpretar o protagonista da própria vida, decidir - por meio de um falso
roteiro – quem vai beber do mesmo copo que a decepção. E o simples se resume em
ressaca. O complexo vem sem gelo. Sem medo.
Toque
Respiração
Aperto de mão
Perfume forte
Beijo na barba
Atrição
Golpe
Abraço de alma
Duas costelas
Dois Adãos
Sua mão
A minha sobre ela
Porta aberta, cama bagunçada, cinzeiros no lugar de vasos. Você,
eu, minha casa desconhecida - aberta para um conhecido -, no lugar de conversas.
Não fiz sala – não havia sala pra se fazer, apenas um sofá disputando espaço
com as garrafas -, só mantive o silêncio.
Janela aberta pra rua do céu. Nela, a lua mostrava metade do
rosto. A outra metade estava colada no topo da minha boca, de olhos fechados e
mordidas cadentes.
Cedo ou tarde um de nós virará a esquina. E não vale a pena
esperar. Não vale a pena dizer qualquer palavra.
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
Os garotos sempre estarão aqui!
Creio que nunca cedi espaço aqui para que outra pessoa fizesse de suas palavras as minhas.
Contudo, dividi um momento único e valioso que não cabeira apenas nas minhas frases.
Obrigado, Diego Torres. Agora você estará sempre aqui.
Estão abertas as cortinas para o portal. Eis que o ritual para a libertação comum começa. Movimentam-se os corpos sedentos por um pingo verdade.
São rápidos, violentos e amorosos.
Comunitariamente serenos em sua visceralidade. Complacentes. Terapêuticos.
Os gritos, emudecidos pelo real, dilaceram as faringes, laringes e mentiras.
Roupas sujas vestem os corpos das mentes limpas. Há candura em palavras torpes, organizadas de forma a tocar corações. Tocar a alma e lavar o espírito.
Lágrimas que descem por observar o lirismo do entender. Entender o som. Entender o movimento e entender a vida de uma forma nunca antes concebida. Epifania define.
Corpos enclausurados na necessidade de liberdade que a prisão do cotidiano impõe. São dores transfiguradas em rotinas que ficam pelo chão. Lavam a pista com suas matérias líquidas. Sangram. Não há regras. Não há condutas. Não há entidades. Autônomos.
Sobem para o salto. Jogam-se no rio de gente para limpar a lepra do coração. Sorriem ao cair. Agradecem ao levantar.
A pressão abaixa na baixa pressão. Peles são rasgadas. Cabelos são arrancados. Ossos estralam. Corações aquecem. A felicidade existe.
O caos necessário ao mundo.
Mas há um limite. Um tempo. Logo vão embora e as vidas voltam do banho de sol.
Agora, um pouco mais gratas.
Cortinas fechadas.
Contudo, dividi um momento único e valioso que não cabeira apenas nas minhas frases.
Obrigado, Diego Torres. Agora você estará sempre aqui.
Estão abertas as cortinas para o portal. Eis que o ritual para a libertação comum começa. Movimentam-se os corpos sedentos por um pingo verdade.
São rápidos, violentos e amorosos.
Comunitariamente serenos em sua visceralidade. Complacentes. Terapêuticos.
Os gritos, emudecidos pelo real, dilaceram as faringes, laringes e mentiras.
Roupas sujas vestem os corpos das mentes limpas. Há candura em palavras torpes, organizadas de forma a tocar corações. Tocar a alma e lavar o espírito.
Lágrimas que descem por observar o lirismo do entender. Entender o som. Entender o movimento e entender a vida de uma forma nunca antes concebida. Epifania define.
Corpos enclausurados na necessidade de liberdade que a prisão do cotidiano impõe. São dores transfiguradas em rotinas que ficam pelo chão. Lavam a pista com suas matérias líquidas. Sangram. Não há regras. Não há condutas. Não há entidades. Autônomos.
Sobem para o salto. Jogam-se no rio de gente para limpar a lepra do coração. Sorriem ao cair. Agradecem ao levantar.
A pressão abaixa na baixa pressão. Peles são rasgadas. Cabelos são arrancados. Ossos estralam. Corações aquecem. A felicidade existe.
O caos necessário ao mundo.
Mas há um limite. Um tempo. Logo vão embora e as vidas voltam do banho de sol.
Agora, um pouco mais gratas.
Cortinas fechadas.
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Sangue da alma
Suor, o sangue da alma.
Transpirar e transcender as veias, a pele e os limites do
corpo
Maré alta do desejo, a cheia dos rios de anseios
Suor, o sangue da alma
Que sai salgado
Pra curar as feridas
Pra benzer cicatrizes
E afastar mau agouro
Suor, o sangue da alma
Invisível, mas sensível
Que exala o cheiro da gente
E atrai outras como a gente
Untadas em marcas há pouco marcadas - E nem um pouco
salgadas
Suor, o sangue da alma
A prova de que não se cabe no próprio corpo
A lágrima de cansaço
Que não ri nem chora
Nem triste nem alegre
Salgada, lágrima caída
Ou gota de chuva
Tanto faz
Que fez
Suou
Até deixar no chão
O mar.
Mar de nós.
Mar de nós.
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