Amigos e mais amigos perderam a conta de quantas vezes me
disseram: “Quando você menos esperar, ele vai aparecer”. E eu passava a esperar
mais ainda, com vontade de ter só porque era assim que meu coração dizia que
tinha que ser. Passei por filas, vagões, assentos de ônibus, mesas de bar, por
tudo o que pude. Mas eu passava e olhava, sem ver nada. Quando vi, parei,
pensei e não fiz nada. É assim que funciona: quando eu menos espero, mais me
desespero e palavra nenhuma pega carona na fala. Na ponta da língua não sobrou
frase feita muito menos perfeita. Na ponta da língua só a boca selada. Então o
peito se enche de coragem e pede pra gritar. O berro sai da ponta dos dedos
que, sem educação nenhuma pede pra tocar seu rosto e desenhar as quatro linhas
do seu queixo quadrado.
Quem dera todas as relações começassem assim, no silêncio.
Na simplicidade do olhar que não tem nada de puro e já deixa claro – “ilusão de
ótica, cegueira sentimental, miopia racional, astigmatismo estético“. Eu me dei
de presente a chance de ser enganado, afinal, é mais simples não viver e
interpretar o protagonista da própria vida, decidir - por meio de um falso
roteiro – quem vai beber do mesmo copo que a decepção. E o simples se resume em
ressaca. O complexo vem sem gelo. Sem medo.
Toque
Respiração
Aperto de mão
Perfume forte
Beijo na barba
Atrição
Golpe
Abraço de alma
Duas costelas
Dois Adãos
Sua mão
A minha sobre ela
Porta aberta, cama bagunçada, cinzeiros no lugar de vasos. Você,
eu, minha casa desconhecida - aberta para um conhecido -, no lugar de conversas.
Não fiz sala – não havia sala pra se fazer, apenas um sofá disputando espaço
com as garrafas -, só mantive o silêncio.
Janela aberta pra rua do céu. Nela, a lua mostrava metade do
rosto. A outra metade estava colada no topo da minha boca, de olhos fechados e
mordidas cadentes.
Cedo ou tarde um de nós virará a esquina. E não vale a pena
esperar. Não vale a pena dizer qualquer palavra.
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