terça-feira, 27 de julho de 2010

Who's Veny?

Noite agradável, uma boa dose de vodka pura, apenas um cubo de gelo. Hoje vejo que a melhor coisa que fiz foi escolher uma janela bem grande para a sala. Vejo a Lua nua, completa, e as estrelas tentam driblar a fumaça cinza da cidade. é uma batalha justa. Depois de um dia cansativo tudo o que mais quero é poder saborear a noite.

Na cozinha, muita coisa para ser lavada. Resolvi que me daria um jantar de classe. Fiz as coisas que mais gosto e comprei outras que não sabia preparar. Um dos maiores prazeres da vida é comer. As pessoas evitam isso simplesmente porque não sabem aproveitar o momento, comem feito criaturas doentes. Trilha sonora: Jill Scott. Perfeita. Foi então que o destino me pegou assim que a música You Got Me começou a tocar. O tempo ficou lento, de repente o som foi diminuindo e eu não conseguia me mexer. Perdi a noção de espaço. Acho que neste momento ganhei uma percepção ampliada que me fez ter a noção do que não tem explicação.

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Corre, existe um exército atrás de você. Eu me vejo dividido, me alerto, me salvo, me resguardo e participo da corrida psicótica por um segundo de respiração profunda. As ruas se tornam verdes e as casas estão pegando fogo. Olho para as janelas e percebo que são todas pequenas, sufocantes. A voz está distante, mas ainda assim me guia. Perco meus sapatos e isso me desespera. Vejo vagões de trem despencando de pontes. Tudo completamente vazio de gente, só existem pessoas correndo atrás de mim, de você.

Quando as pernas já não respondem mais, eu paro com a corrida. Tapo os ouvidos e grito com toda a força. Todo o cenário começa a mudar e as pessoas tornam-se falcões. Sobem imediatamente para o céu roxo e lá ficam me observando, esperando que o sangue dos meus joelhos criasse um rio onde matariam a sede. Foi então que deixei a minha mente recriar o ambiente. Casas de madeira, flechas nas árvores, rios prateados, muitas árvores, uma estátua gigante, cega e sem um dos braços. Uma fúria crescia dentro do meu peito, e então o céu que era roxo transformou-se em uma massa densa e cinza. Os falcões morriam a cada raio lançado sobre suas asas. Todos no chão, se uniram e formaram Ícaro. Velho, acabado, com asas postiças, implorando pelo meu perdão. Queimei-o vivo.

Todos me temiam, eu criava e recriava. Ninguém mais me perseguia, ninguém mais olhava diretamente nos meus olhos. Acabava de ser nomeado Rei do Caos. Construí um castelo com os ossos de Ícaro. Sentei em meu trono e tirei das cinzas a matéria prima para criar meus filhos. Nasceram sem olhos, sem ouvidos, sem dentes, com os cotovelos invertidos. Eu odiava a beleza, ela me excluiu uma vez, hoje sou eu que a excluo.

No segundo dia, destruí todas as criaturas. As sementes que plantei não cresciam. Puxei para fora do meu braço uma de minhas veias, esperando coletar meu sangue e dali me duplicar. Mas só consegui areia. Eu estava cheio de areia e no lugar do coração crescia um cactos. Eu podia tudo, mover montanhas, secar rios, inverter céu e mar. E nada conseguia matar minha insatisfação. Cansado de tudo aquilo, eu criei a melhor das minhas invenções: A morte. E para arcar com a responsabilidade de me guiar pelo desconhecido criei Deus. Tirei o peso das minhas costas. Ele me pegou nos braços e me apagou, fez de mim sua consciência censurada e perigosa. Tornou-se perfeito no exato momento em que transferiu minha existência para o vácuo do universo, me condenando a permanecer em constante expansão. Jamais caberei dentro de mim mesmo.

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Passaram-se 5 horas. O relógio havia despertado e no momento em que cai ainda tocava You Got Me. Voltei para a janela e olhei para a Lua que já despedia. Pela primeira vez, prestei atenção no espaço e seu vazio infinito. Fui dormir.

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