segunda-feira, 12 de julho de 2010

Parte de mim corre para qualquer direção.

Estava concentrado nos meus livros. O terceiro cigarro já é tão familiar que parece durar muito mais tempo que os anteriores. Depois de tanto tempo esperando você aparecer resolvi deixar as lembranças para trás, desviando o pensamento para outra direção que não aquela que me levava direto aos seus olhos.

Tinha começado a escrever um conto. Era uma das formas que encontrei para descarregar a angústia ou culpar alguém pela sua ausência. Na verdade, eu sabia que a culpa era minha também. Os últimos meses serviram para que eu ocupasse toda a minha agenda. Coisa que eu odiava fazer. Mas parece que esta era a única forma de levantar todos os dias mesmo que estes já não tivessem cor alguma. Era sobreviver a mais um dia comum, estúpido repleto de pessoas que me atormentavam justamente por tentar me ajudar. Ajuda essa que eu nunca pedi. O mundo custa a entender que nem todos querem ser salvos, nem todos querem superar. Existem histórias que acabam mal, e deixam uma tristeza crônica somente pelo fato de que o final é como é. Nem todos os contos acabam em felicidade. Talvez nem tenha percebido quantos olhares e sorrisos recebi. Estava vazio.

Confesso que o meu lado criativo se sentiu muito contente com tudo isso. Eu criava na compulsão, não via mais arte, não via mais estética ou aura. Criava apenas para evitar me destruir. A vodka já não era mais tão relaxante. Criar tinha se tornado a razão de viver. Imagine, você ser feliz por longos anos e um dia a felicidade desaparece. E você tem que acordar para trabalhar, você tem que fazer tudo o que fazia, mas agora sem sentir vontade alguma. Você olha para o lado e vê casais felizes brigando, traindo uns aos outros, enquanto tudo o que mais desejava era ter de volta a outra metade do seu coração. Imagina, que droga deveria ser viver assim. Pois é.

Um dia, quando fui até a cozinha pegar mais café o telefone tocou. A voz demorou a responder, mas quando o timbre meio rouco tocou meus tímpanos não tive dúvida. Era você. Por te conhecer bem sei que não ia dizer o que estava acontecendo logo de primeira. Então, resolvi jogar qualquer assunto idiota para dar espaço a sua pessoa. Pois bem, quando percebi já estávamos falando de suas angustias, de suas decepções com o mundo. Adorei ouvir você admitir que eu "tinha razão", mas nem por isso me senti vitorioso. Não, a minha vitória foi não ter tirado de você o direito de errar, se decepcionar e se levantar com as próprias pernas. Nunca estivesse ao seu lado para viver sua vida como vivi a minha. Estava do seu lado para garantir que você não ia correr e se esconder. Apenas isso, mais nada. Ah, também estava lá porque te amo, e acima de qualquer outra coisa, te admiro.

Tem coisas que são simples, outras que são complexas mas breves. Algumas vezes não queremos parecer sentimentais ou admitir que o calor da paixão nos pegou. Mas no fundo, nunca tivemos dúvida daquilo que buscávamos, mesmo que não houvesse nomes ou cartões de Dia dos Namorados.

Não larguei os livros nem os cigarros e muito menos os filmes por sua causa. Não parei a minha vida ou deixei de criar dentro do meu mundo que se auto consome. Apenas deixei que você sentasse ao meu lado novamente, me abraçasse e desse cor às pinturas que fiz desde então.

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