domingo, 18 de abril de 2010

Ah olha, se não sou eu, quem mais vai decidir o que é bom pra mim?




Costumava lembrar dos locais e dos nomes através de cheiros, ou de sons. Chegava dezembro eu lembrava da minha casa pintada de amarelo. Raios de sol, depois chuva, aquelas gotas douradas. Cheiro de terra, cheiro de comida da mãe. Durante o ano, eu lembrava do perfume forte de quem eu gostava, e toda vez que eu o sentia em outras pessoas, o rosto familiar surgia na minha mente. Talvez eu nunca estive só por completo.

Durante a semana em que rasguei o calendário, percebi que deixar uma lacuna no "espaço-tempo" é solução para o medo do novo. Não adianta eu ter uma âncora no braço, sem saber que ela está ali justamente pelo balançar do barco que me deixa à deriva. Sinto a liberdade correndo pelas minhas veias, ao mesmo tempo que o coração bate mais forte ao pensar que possa existir uma pessoa capaz de me abraçar e dizer "Hoje, sou eu quem luta por nós". Nunca gostei das coisas previsíveis, mas existem formas de dizer o que é clichê sem perder o "encanto".

Eu sei quando escrevo para alguém. Sei fazer as palavras baterem no ritmo da paixão, sei até onde posso ir, só que dentro dos meus textos não existe um único caminho. Eu já não me lembro do início, não sinto mais nenhum cheiro nem barulho. O silêncio me faz sair daqui e perder as lembranças que, quando não se apresentam na forma de nostalgia, guiam meu coração para a resistência.

Mas aos poucos sinto o perfume voltar. Tem cheiro de hortelã. Tem o som de um estalo vindo do beijo. Foi com isso que construí uma nova lembrança. Boa, mas breve.

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