quarta-feira, 20 de março de 2013

O pouco que aprendi com o ônibus lotado



Aprendi que respeito faz apertar os punhos, cerrar o lábios e não explodir com quem escorre safadeza pela ponta dos dedos;

Aprendi que só o lugar no cantinho do banco é que é seguro mesmo, o resto só te deixa vulnerável;

Aprendi que esperança não te leva a lugar nenhum, basta olhar no olho do motorista, mais morto que o gargalo do escapamento do busão;

Aprendi que a catraca só deixa passar quem tá com bala na agulha e moeda no bolso e que saco vazio não para em pé, ele tem que deitar, arrastar o corpo no chão e torcer pra chegar do outro lado do corredor sem mancha de pé na cara; 

Aprendi que bom humor vai queimando ao longo do caminho feito gasolina barata, dura pouco, morre a cada ponto, a cada parada e no final do dia se transforma em sono e cara grudada na janela; 

Aprendi que mochila pesada entorta as costas e arreia os ombros, mas também serve de remédio pra falta de gentileza, vira empatia da tia que sabe o quão cansado tá meu corpo magro e oferece seu colo pra levar metade do meu dia corrido;

Aprendi que sinal pra descer é alívio e que andar pelas calçadas vale bem mais do que horas dentro de uma lata, balançando feito boi; 

Aprendi que fone de ouvido, livro e graffiti na parede das ruas são meus melhores amigos;

Aprendi que ponto final é começo de viagem pra quem tá longe do trabalho e mais longe ainda de realizar os sonhos; até realiza, mas precisa de muito tempo e se vacilar passa do terminal; termina na calçada;

Aprendi que a condução é condição e quem não tem opção e vai... Sem nem saber se amanhã o bilhete vai passar, se o busão num vai atrasar, mas que a certeza não vai mudar: tem que trabalhar/estudar/caminhar. 

Boa viagem.

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