segunda-feira, 11 de março de 2013

Azul acinzentado





A estação de trem tinha um tom azul acinzentado que encantava meus olhos. Fria e vazia de gente, tornava-se o melhor lugar para ficar e esperar. Esperar pela sua chegada. 

Passei meus olhos pelos corredores. Paredes marcadas com recados de pessoas que já se amaram – e também se decepcionaram. Frases soltas e desprendidas da mente. Palavras isoladas que por si só já chamavam a atenção. Um verdadeiro labirinto linguístico no qual a narrativa se perdia. Com as pontas dos dedos, senti cada traço, cada relevo. Cicatrizes. Parecia ser possível sentir o peso do punho e o deslize da caneta. Suavemente, imaginei rostos, gostos, tamanhos e cabelos; olhares e sorrisos. 

Caminhei mais um pouco. Lembrei-me de quando eu era criança e adorava olhar para lugares bem escondidos, acreditando que havia sido a única pessoa a tê-los visto. Era como se eu deixasse um pouco de mim ali e, ao mesmo tempo, fizesse com que aquele espaço fosse percebido. Era a fuga da minha visão, que buscava abrigo no desconhecido. 

O assovio do vento me trouxe de volta. Fechei a jaqueta, cruzei os braços e deixei que minhas bochechas fossem acariciadas pela brisa gélida. Na plataforma, bancos abandonados. Tirei um pedaço de papel e procurei no bolso da mala uma caneta qualquer. Devidamente equipado, distrai-me enquanto desenhava ocupantes para tais assentos. Eram as mesmas pessoas das paredes. Elas estavam ali, petrificadas, imaginando o que escreveriam em seguida. Buscavam uma caneta, um pedaço de papel que lhes permitisse ensaiar o traçado. Então, percebiam o quão romântica e bucólica era a união do azul e do cinza, ali, naquela estação. Manifestou-se a inspiração diante de tais tons. 

Levantei, novamente fui até a parede do corredor e lá colei meu desenho. Voltei ao banco em que estive nos últimos trinta minutos e aguardei até que a porta do trem abrisse. Lá estava você. 

Com as pontas dos dedos, você sentiu meu traço; as linhas que contornavam meu rosto; o relevo dos meus lábios. Era possível sentir o peso do seu punho e o deslize do seu carinho. Suavemente, aproximei meu rosto dos seus cabelos. Após o primeiro beijo, só então o último cigarro. 

Afinal, esse momento não precisava ser amargo.  

Nenhum comentário: