A estação de trem tinha um tom azul acinzentado que encantava meus olhos. Fria e vazia de gente, tornava-se o melhor lugar para ficar e esperar. Esperar pela sua chegada.
Passei meus olhos pelos corredores. Paredes marcadas com
recados de pessoas que já se amaram – e também se decepcionaram. Frases soltas e
desprendidas da mente. Palavras isoladas que por si só já chamavam a atenção.
Um verdadeiro labirinto linguístico no qual a narrativa se perdia. Com as
pontas dos dedos, senti cada traço, cada relevo. Cicatrizes. Parecia ser
possível sentir o peso do punho e o deslize da caneta. Suavemente, imaginei
rostos, gostos, tamanhos e cabelos; olhares e sorrisos.
Caminhei mais um pouco. Lembrei-me de quando eu era criança
e adorava olhar para lugares bem escondidos, acreditando que havia sido a única
pessoa a tê-los visto. Era como se eu deixasse um pouco de mim ali e, ao mesmo
tempo, fizesse com que aquele espaço fosse percebido. Era a fuga da minha
visão, que buscava abrigo no desconhecido.
O assovio do vento me trouxe de volta. Fechei a jaqueta, cruzei
os braços e deixei que minhas bochechas fossem acariciadas pela brisa gélida. Na
plataforma, bancos abandonados. Tirei um pedaço de papel e procurei no bolso da
mala uma caneta qualquer. Devidamente equipado, distrai-me enquanto desenhava
ocupantes para tais assentos. Eram as mesmas pessoas das paredes. Elas estavam
ali, petrificadas, imaginando o que escreveriam em seguida. Buscavam uma
caneta, um pedaço de papel que lhes permitisse ensaiar o traçado. Então,
percebiam o quão romântica e bucólica era a união do azul e do cinza, ali,
naquela estação. Manifestou-se a inspiração diante de tais tons.
Levantei, novamente fui até a parede do corredor e lá colei
meu desenho. Voltei ao banco em que estive nos últimos trinta minutos e
aguardei até que a porta do trem abrisse. Lá estava você.
Com as pontas dos dedos, você sentiu meu traço; as linhas
que contornavam meu rosto; o relevo dos meus lábios. Era possível sentir o peso
do seu punho e o deslize do seu carinho. Suavemente, aproximei meu rosto dos
seus cabelos. Após o primeiro beijo, só então o último cigarro.
Afinal, esse momento não precisava ser amargo.
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