... quando sinto que me perdi durante o caminho. Não que
seja minha meta sempre estar dentro de uma estrada ou ciente dos meus próprios
passos, mas acabei ultrapassando certas linhas que não me trouxeram nada. E de “nada”
já me basta o vácuo no peito.
Hoje, enquanto vinha para o serviço, lembrei de um velho amigo que tive. Ele já não faz mais parte da minha vida, ainda que esteja vivo. Talvez ainda leia meus textos...
Hoje, enquanto vinha para o serviço, lembrei de um velho amigo que tive. Ele já não faz mais parte da minha vida, ainda que esteja vivo. Talvez ainda leia meus textos...
Era um garoto de olhos curiosos. Gostava de ouvir para
depois mostrar que havia aprendido. Que já não estava mais “atrás” de ninguém.
Não se conformava com o posto de retardatário. Precisa estar no páreo tanto
quanto no pódio.
Quando o conheci não houve surpresa alguma. Magro, braços
longos, joelho ossudo e rosto que misturava infância com adolescência. Eu,
vestido de arrogância. Ele, agasalhado com prepotência. Daí veio a conexão.
Aos poucos fomos ganhando espaço um dentro do outro. Um
dentro da rotina do outro. Dias e dias deitados no chão do quarto olhando para
o teto e imaginando como seria uma turnê com nossa futura banda. Pensávamos nas
exposições de estêncil que montaríamos e os dias fumando nas calçadas gringas.
Andávamos por horas à procura de um sorvete. Não tentávamos abafar as mágoas um
do outro... pelo contrário, jogávamos sal para que ardessem muito e depois
cicatrizassem. Falando assim, ninguém jamais acreditaria que tal história
existiu na vida real.
Lembro-me do dia em que meus pais estavam brigando em casa e
eu já não suportava mais os gritos. Ele me ligou e tinha acabado de discutir
com a mãe. Decidimos sair. Na mochila, duas chapas de estêncial, um lata de
tinta e o dinheiro da passagem de ônibus. Calça rasgada, camiseta feia e rua.
Jamais esquecerei disso... corríamos pelos becos pixando as paredes e depois
completamos a aventura com um saco de pipoca velha e extremamente salgada.
Com o tempo, certos fatores estragaram tudo, mas isso não
vem ao caso. Hoje dediquei estas linhas aos bons momentos que guardo comigo.
Tão preciosos quanto o último abraço recebido em setembro de 2011.
Eu nunca vou te esquecer, caro amigo. Uma tragada em sua
homenagem.
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