terça-feira, 13 de novembro de 2012

Recuo...

... quando sinto que me perdi durante o caminho. Não que seja minha meta sempre estar dentro de uma estrada ou ciente dos meus próprios passos, mas acabei ultrapassando certas linhas que não me trouxeram nada. E de “nada” já me basta o vácuo no peito.

Hoje, enquanto vinha para o serviço, lembrei de um velho amigo que tive. Ele já não faz mais parte da minha vida, ainda que esteja vivo. Talvez ainda leia meus textos... 

Era um garoto de olhos curiosos. Gostava de ouvir para depois mostrar que havia aprendido. Que já não estava mais “atrás” de ninguém. Não se conformava com o posto de retardatário. Precisa estar no páreo tanto quanto no pódio. 

Quando o conheci não houve surpresa alguma. Magro, braços longos, joelho ossudo e rosto que misturava infância com adolescência. Eu, vestido de arrogância. Ele, agasalhado com prepotência. Daí veio a conexão. 

Aos poucos fomos ganhando espaço um dentro do outro. Um dentro da rotina do outro. Dias e dias deitados no chão do quarto olhando para o teto e imaginando como seria uma turnê com nossa futura banda. Pensávamos nas exposições de estêncil que montaríamos e os dias fumando nas calçadas gringas. Andávamos por horas à procura de um sorvete. Não tentávamos abafar as mágoas um do outro... pelo contrário, jogávamos sal para que ardessem muito e depois cicatrizassem. Falando assim, ninguém jamais acreditaria que tal história existiu na vida real. 

Lembro-me do dia em que meus pais estavam brigando em casa e eu já não suportava mais os gritos. Ele me ligou e tinha acabado de discutir com a mãe. Decidimos sair. Na mochila, duas chapas de estêncial, um lata de tinta e o dinheiro da passagem de ônibus. Calça rasgada, camiseta feia e rua. Jamais esquecerei disso... corríamos pelos becos pixando as paredes e depois completamos a aventura com um saco de pipoca velha e extremamente salgada. 

Com o tempo, certos fatores estragaram tudo, mas isso não vem ao caso. Hoje dediquei estas linhas aos bons momentos que guardo comigo. Tão preciosos quanto o último abraço recebido em setembro de 2011. 

Eu nunca vou te esquecer, caro amigo. Uma tragada em sua homenagem.

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