terça-feira, 3 de abril de 2012

Eu não sei escrever

Não. Definitivamente, eu não sei.

E todas as expectativas vazias e mesquinhas que depositam sobre minha pessoa são apenas fichas se gastar com apostas. Investem na minha ruína. Os palpites são feitos diariamente e todas aquelas longos elogios apenas soam como o ranger das correntes prontas para serem presas aos meus calcanhares. Bola de ferro, gosto amargo, tempo retrocedendo, má respiração, falta de alimentação. Não, definitivamente não.

E o que é "escrever bem"?

Seduzir o leitor e fazer com que ele se sinta parte de algo importante? Aproximá-lo de uma realidade que nunca irá viver? Fazer com que a vida não passe de uma vitrine? Abordar as pessoas como se fossem animais de circo condenados à eterna alegria que causa loucura? Fazer chorar? fazer rir? Fazer ter medo? Não.

O que é escrever bem? E quem vai me dizer - com toda a certeza e experiência - que o que eu escrevi está realmente belo? Não tenho compromisso com o leitor. Ou melhor, não espero que este se torne um devoto fiel dependente das minhas palavras. Não há nada aqui para ninguém. E o motivo que me leva a escrever não precisa da compreensão dos outros.

Exatamente por isso que a escrita me intriga. É por isso que escrevo. Escrevo por não haver nada definido. Nem felicidade nem tristeza, nem esperança e nem revolta. Aqui estão palavras mudas, sem o tom de voz para ajudar na interpretação. Já não é mais meu texto, agora é seu, então julgue-o como seu e não meu.

Não quero esse fardo. Foda-se. Textos e mais textos que só se tornaram "obras" após alguém ter se apropriado de tais palavras e - oportunamente - "interpretou" seus significados. O seu texto depende de quem você aparenta ser para as pessoas. Depende de quem você conhece e dos olhos que vão se impressionar (ou se frustrar).

Eu não sei escrever e tenho consciência disso. Parei de me enganar, mas não posso parar as pessoas que querer ser enganadas. Elas buscam sentido no vazio que transbordou de mim. Querem me salvar valorizando o seco. Mas fazem isso por elas mesmas.

Nada como ser capaz de despejar o corpo imundo na cama e pensar "ajudei uma pessoa querida". De fato, ajudou. Injetou uma dose de heroína no próprio ego, este, por sua vez, imortal. Não há ruptura nem aprendizado, há um vício continuo que só gera gozo e vaidade. Para uns, o essencial.

Chego a ponto de admitir que a escrita é uma forma de expressão. Isso pode aniquilar tudo o que foi dito aqui. Ótimo. Há contradição. E também não há como negar o fato de que temos a necessidade de não nos expressarmos em determinados momentos. Passar o "nada" adiante. Um recipiente vazio que é acolhido por qualquer pessoa que precise encarcerar aquela velha Esperança, desgraça maior que escapou da caixa de Pandora. Faça o que quiser com meu texto, só não diga que eu sei escrever.

Não me conte nada sobre ele. Enquanto eu falar dos meus textos será assim. Todas os outros agrupamentos de orações e parágrafos são restos de exigências que devem ser atendidas. A liberdade não tem cheiro de grama molhada ou maresia. A liberdade é inodora. Assim como a morte.

E eu não sei escrever.

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