quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O seu perfume de canela...






O que esperar do concreto? Do profetizado? Do escrito? Nada. Escuto os pássaros em meio das longas árvores de eucaliptos. Minha fé já não acompanhava os passos perdidos na estrada sem placas.

Um mergulho dentro da própria mente. Arriscado. Todas as coisas que estavam guardadas no inconsciente assumem seu posto na parte mais racional do cérebro humano. Os contos de fadas encaixam perfeitamente em sua vida miserável. Os amigos que você gostaria de guardar no bolso esquerdo ou as cartas de amor que você queria ter entregado. São fragmentos da sujeira que o moralismo colocou debaixo do tapete. Você tem vergonha? No fundo, nunca teve. O problema foi o medo de prejudicar os outros ao respeitar seus desejos. Não é o dono dos adjetivos, nem mesmo de sua retina partida no meio. Tudo que vê são pescoços quebrados e cansados, costas curvadas e cotovelos invertidos.

A respiração muda de ritmo, nada de correr. Apenas caminhar. Escravos do tempo agora olham para os pulsos e não encontram relógios. É desesperador. Eles gritam e o tempo não passa. Os mesmos braços magros. As pernas magras. O rosto magro. Os joelhos magros. Sentei diante da capela e pedi de volta o genes que faltou. Perguntei qual era o problema, qual defeito eu tinha. E nada. As velas se acenderam e as velhas senhoras cantavam em voz baixa aquele hino dos arrependidos. Arrependeram-se de ter nascido. O perfume de rosas me dava náuseas e todas as estátuas de gesso pareciam me olhar com ódio. Se não é aqui que encontrarei respostas então me retiro, e tiro de vocês a fé que depositei.

Caminhar é a melhor opção agora. A pele marcada por agulhas. Desenhos sem sentido e um sono patológico. O solo banhado pelo sangue de índios inocentes. Terra amaldiçoada por aqueles que a fertilizaram. O preço pela prata, ouro e virgens está sendo cobrado agora. Nada mais justo. Sujaram meu sangue com cobiça e narcisismo. Sou aquele fruto que despencou da árvore genealógica. Sou a maçã. A pior dentre as piores. Qual cromossomo está ausente? Os gigantes já não são mais soberanos. Tudo o que tocam, se desfaz. Um brinde à geração Midas, da riqueza à miséria.

Ela prende os cabelos negros com a fita mais bonita. Arruma toda a casa, toma o banho demorado e prepara o "arroz e feijão" mais gostoso do planeta. A música toca e seus quadris acompanham o ritmo sedutor. Toma mais um gole da boa Tequila e pinta os lábios com o vermelho mais intenso. Está linda e pronta. Passa o perfume de canela e agradece pelo alimento. Na outra ponta da mesa está seu parceiro: O assento vazio. Ela sorri tranquila, pois sabe que não é escrava de ninguém. Cozinhava, dançava, ficava bela para si mesma. Coração selvagem e capaz de ir além da maldita rotina. Não era Dona de Casa, era Dona de Si. Tão linda.


Pluguei os cabos e pedais nas veias. Liguei as guitarras e os contrabaixos, no intuito de fazer música. Te chamei para ficar do meu lado. A minha cruz é carregar palavras e mais palavras na mente, sem ter um segundo de paz. Enquanto a sua é descobrir a melhor trilha sonora para conduzir minhas explosões. Sem sua presença nem a ausência do "nós" faria sentido. Fui eu quem lavou seus olhos quando não via mais nada. Foi você quem beijou minhas lágrimas quando nem mesmo os santos souberam o que fazer. Podemos chorar.

Eu e minhas balas de canela.

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