quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Fogo e Vento na moleira do menino

No céu vermelho, quente feito o chão da pele, corta com luz o raio da ordem. Retumbo acha abrigo dentro dos corpos curvados esperando a chuva quente pra limpar. Sobe pro céu suspiro do desespero e o choro engasgado vira grito nos tambores do trovão. Vem à guerra os filhos da terra escura, filhos do sol e do ferro, banhados pelo ouro que adorna a memória dos ancestrais. Saúda o mensageiro que abre os caminhos, povo dos povos, e deixa passar o senhor da justiça. 

O sangue que ferve também escorre e lava o espírito. Banho de vida, legado, enrolado nos panos do destino, paga hoje aquele que ontem se omitiu – e amanhã vai cobrar. Enxague bem a nuca, a moleira, o peito, porque passado, futuro e presente são um só, ao mesmo tempo, como nome e sobrenome. Então revele pra eles, senhor dos raios rubros, do vento quente, quem levará o nome da mãe e do pai.  Quem é a fruta que amadurece no calor, seca o caroço antes de virar semente. Peça à bênção das mães das águas, dos filhos do solo, pra fazer berço às crianças que estão por vir. Aquece os corações, dono das tempestades, pra batucar o soluço das crias pelos tantos cantos do mundo. 

Chamo pra cabeça o peso do machado que corta a mentira. Chamo o trançar dos raios que desenham os caminhos pro espírito passar. Chamo o fogo, queimo os ossos, entrego os joelhos, dou-me pra incendiar a dor e, mais uma vez, erguer a cabeça como filho de reis e rainhas. A pedreira não rolará em cima de mim.  

Sou filho da tempestade, parido na madrugada de uma quarta-feira.

Pai e mãe fecharam os braços em volta de mim, como o tempo acima de nós.

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