domingo, 23 de junho de 2019

O hífen entre querer e dizer

Chega de remeter ao título, de fazer malabarismos pra caber na narrativa. É ridículo, frustrantemente previsível. Por favor, sejamos sinceros... É perda de tempo e palavras.

Incluir pessoas nos textos e achar que são inteligentes o bastante para captarem as entrelinhas só comprova o quanto somos, nós, os escritores e escritoras, autores e autoras, seja lá o como queiram chamar, limitados. Oras, escrever sempre foi a forma mais informal de transgredir ainda que dentro de toda uma regra linguístico-gramatical - como diriam os caucasoides europeus que me obrigaram a grafar assim - insípida. Então, o que eu faço com ela, a tal escrita? Carta de amor? Declaração? Homenagem? Conto cujo personagem não vale a figura de linguagem? Francamente...

Perco linhas e mais linhas tentando reaquecer o sentimento petrificado que tenho por pessoas viventemente finadas no cotidiano e irrequietas apenas no memorial insuportável de quem ainda não chegou à linha neural do oblívio? Por favor, olhemo-nos com o mínimo de autoestima - e não vaidade. O que nos resta além de nós, na garganta da caneca? Gengibre puro pra limpá-la e forçar o fim da frescura "resfrial". Infelizmente, carrego um léxico que não permite a vasta capacidade que tenho de expandir seu acervo e incluir o adjetivo resfrial sem a necessidade de aspas.

Mas voltando...

Viu? Mais uma vez remetendo ao título. Olha, sinceramente, se fosse uma maldição untada no tabu do sangue eu até aceitaria em silêncio. Apenas tacaria pedras e desferiria socos em mim mesmo, sem furar nada, sem jorrar, mas me lendo, aqui, agora, a vontade que tenho é de dizer: "frustrantemente previsível".

Entretanto - como dito anteriormente a esta vírgula ortograficamente duvidosa tanto quanto a crase facultativa -, pior é sentir excitação em esperar que aqui apareçam eles e elas, eternos aguardantes, citados num texto amargo e de auto-ódio. Inclusive, a quem dê muita monta para o ódio, como se ele fosse realmente autossuficiente, não o é, viu?. Preciso dizer que apenas queria matar o hífen visualmente horrível e consegui. Linguístico-gramaticalmente virginiano - se é que há espaço pros astros. 

Leu? Isto aqui, este espaço, este tempo, este mundo, esta vida que pulsa, este vai e  volta sem ter endereço anotado nada mais é do que o famoso "perdido" que a gente - tipo eu e você - aplicamos quando queremos dar a letra sem semântica, pra ver se alguém finalmente se manca.

Sem hífen pra forçar nós dois juntos num "chateou-me você":  hoje você me chateou.

Era só isso que eu queria dizer.

Só que escrevi.

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