Chega de remeter ao título, de fazer malabarismos pra caber na narrativa. É ridículo, frustrantemente previsível. Por favor, sejamos sinceros... É perda de tempo e palavras.
Incluir pessoas nos textos e achar que são inteligentes o bastante para captarem as entrelinhas só comprova o quanto somos, nós, os escritores e escritoras, autores e autoras, seja lá o como queiram chamar, limitados. Oras, escrever sempre foi a forma mais informal de transgredir ainda que dentro de toda uma regra linguístico-gramatical - como diriam os caucasoides europeus que me obrigaram a grafar assim - insípida. Então, o que eu faço com ela, a tal escrita? Carta de amor? Declaração? Homenagem? Conto cujo personagem não vale a figura de linguagem? Francamente...
Perco linhas e mais linhas tentando reaquecer o sentimento petrificado que tenho por pessoas viventemente finadas no cotidiano e irrequietas apenas no memorial insuportável de quem ainda não chegou à linha neural do oblívio? Por favor, olhemo-nos com o mínimo de autoestima - e não vaidade. O que nos resta além de nós, na garganta da caneca? Gengibre puro pra limpá-la e forçar o fim da frescura "resfrial". Infelizmente, carrego um léxico que não permite a vasta capacidade que tenho de expandir seu acervo e incluir o adjetivo resfrial sem a necessidade de aspas.
Mas voltando...
Viu? Mais uma vez remetendo ao título. Olha, sinceramente, se fosse uma maldição untada no tabu do sangue eu até aceitaria em silêncio. Apenas tacaria pedras e desferiria socos em mim mesmo, sem furar nada, sem jorrar, mas me lendo, aqui, agora, a vontade que tenho é de dizer: "frustrantemente previsível".
Entretanto - como dito anteriormente a esta vírgula ortograficamente duvidosa tanto quanto a crase facultativa -, pior é sentir excitação em esperar que aqui apareçam eles e elas, eternos aguardantes, citados num texto amargo e de auto-ódio. Inclusive, a quem dê muita monta para o ódio, como se ele fosse realmente autossuficiente, não o é, viu?. Preciso dizer que apenas queria matar o hífen visualmente horrível e consegui. Linguístico-gramaticalmente virginiano - se é que há espaço pros astros.
Leu? Isto aqui, este espaço, este tempo, este mundo, esta vida que pulsa, este vai e volta sem ter endereço anotado nada mais é do que o famoso "perdido" que a gente - tipo eu e você - aplicamos quando queremos dar a letra sem semântica, pra ver se alguém finalmente se manca.
Sem hífen pra forçar nós dois juntos num "chateou-me você": hoje você me chateou.
Era só isso que eu queria dizer.
Só que escrevi.
domingo, 23 de junho de 2019
quinta-feira, 20 de junho de 2019
VocÊu
Da última vez que nos encontramos, você disse que passava em frente a minha casa e se perguntava se eu estava - e se o atenderia caso me chamasse. Disse, também, que me amava e que não deixara de pensar em mim um dia sequer. Você estava incrédulo. Parecia não acreditar que eu estivesse vivo, ou melhor, que nós dois estivéssemos. Abraçou-me, ofereceu-me de sua cerveja, chamou-me para fumar. Sua sorte é que eu ainda tinha meio maço de Lucky Strike vermelho.
Fez exatamente como eu queria. Nossa vantagem - e, ao mesmo tempo, desvantagem - é que um lia a mente do outro como bula de remédio. O que não entendíamos, imaginávamos e acertávamos, no final das contas, achando que faria bem e curaria.
Voc sabia que eu queria aquele momento contigo. Digo isso porque sei que você só sabia porque também queria. Há um idioma não dito que é sabido só por aqueles que se atam nos laços invisíveis e, desprovidos de audição e visão, farejam no ar o que está sendo dito, saboreado e sentido. A gente se olhou e não se ouviu. Ainda assim, entendemo-nos. Faz sentido pra você? Faz.
Êu confesso que não sei explicar porque ainda sonho conosco. Não tivemos nosso estúdio, nossa banda, nossa casa, nossa mesa pra arrumar - não tivemos nossa família pra criar. Eu queria que você lesse esse texto pra sentir - como eu sinto - nós, na garganta. Só isso. Queria, não. Quero.
Sei que ainda pensa em mim. Sei que me busca quando ninguém está olhando. Também sei que você sobrevive do seu orgulho e, ao meu ver, está tudo bem. É o que nos resta, não?
Eu só sei porque eu te sinto tanto quanto você me sente, hoje, sem precisar passar diante da minha casa e imaginar se eu estou e seu eu te atenderia caso chamasse. Você continua me chamando.
Eu continuo te respondendo.
Está tudo bem porque está entre nós.
VocÊu.
Fez exatamente como eu queria. Nossa vantagem - e, ao mesmo tempo, desvantagem - é que um lia a mente do outro como bula de remédio. O que não entendíamos, imaginávamos e acertávamos, no final das contas, achando que faria bem e curaria.
Voc sabia que eu queria aquele momento contigo. Digo isso porque sei que você só sabia porque também queria. Há um idioma não dito que é sabido só por aqueles que se atam nos laços invisíveis e, desprovidos de audição e visão, farejam no ar o que está sendo dito, saboreado e sentido. A gente se olhou e não se ouviu. Ainda assim, entendemo-nos. Faz sentido pra você? Faz.
Êu confesso que não sei explicar porque ainda sonho conosco. Não tivemos nosso estúdio, nossa banda, nossa casa, nossa mesa pra arrumar - não tivemos nossa família pra criar. Eu queria que você lesse esse texto pra sentir - como eu sinto - nós, na garganta. Só isso. Queria, não. Quero.
Sei que ainda pensa em mim. Sei que me busca quando ninguém está olhando. Também sei que você sobrevive do seu orgulho e, ao meu ver, está tudo bem. É o que nos resta, não?
Eu só sei porque eu te sinto tanto quanto você me sente, hoje, sem precisar passar diante da minha casa e imaginar se eu estou e seu eu te atenderia caso chamasse. Você continua me chamando.
Eu continuo te respondendo.
Está tudo bem porque está entre nós.
VocÊu.
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