Nestes dias de noite por dentro, eu viajo sozinho pelas
vielas que desenhei com a ponta das unhas. O mundo petrificou meus pelos e cobriu de cinza a pele toda. Deixei por onde passei rastro e marca das palavras que me faltaram à boca, mas nunca à mente. Nublado, senti o cheiro de chuva que se aproximara subitamente e aceitei, a cada trovoada sob o peito, a chegada da tempestade. Cortava o céu o raio em busca das areias que ainda me aqueciam por dentro.
O ritual é o mesmo: apago as velas, abro a garrafa, afogo a garganta, seco os lábios e chamo por quem não vai ouvir minha voz rouca de tanto cantar nossas músicas. Num cômodo pequeno, com espaço suficiente para sufocar meu desejo, fico enjaulado, temperando as vontades com álcool. O corpo é o primeiro a desistir e eu adoro. A sensação de queda sem se estilhaçar é algo raro, tem que saber desistir e se abandonar.
Eu, quando sinto que há chão debaixo dos pés, faço questão de me enganar. Finjo que estou bom, recuperado, sóbrio, firme, levanto e sinto o mundo rodar. Não sou de jogar nada fora, nem comida, nem bebida nem a mim, e acho que nem a você, mas quando as solas se cansam do concreto, do certo, do correto, jogam-se nas areias escuras do Kemet – sempre quente - que confortam e sepulcram aqueles que já morreram demais pra viver. Os pés, quase sempre rachados, afundam.
Volto toda manhã. Eu volto como aquela luz insuportável que corta as pálpebras e faz cada músculo do corpo recuperar suas funções e posições, tipo motor aquecendo pra sair, sem hora pra voltar, mas sempre com hora marcada pra partir. Aquele amanhecer que azeda por mostrar que ainda estamos azedos e o sono de ontem não foi o bastante. Eu sou assim, o despertar sem música, sem sopro, sem voz, só corpo, calor, copo seco, peso, carne, língua, osso, saliva, sangue, suor, dor. Te(n)são.
Há uma roleta de pessoas que se exprimem pra entrar no meu barril e ser a próxima bala a furar minha cabeça pra atingir o coração. Nunca saberão, entretanto, quando vão ser a bala da vez - ou o beijo da vez.
O que sabem é que entre areia e tempestade, vão sempre me encontrar, parado, afundando os pés. Relampejando as ideias.
Trovoando o coração.
O ritual é o mesmo: apago as velas, abro a garrafa, afogo a garganta, seco os lábios e chamo por quem não vai ouvir minha voz rouca de tanto cantar nossas músicas. Num cômodo pequeno, com espaço suficiente para sufocar meu desejo, fico enjaulado, temperando as vontades com álcool. O corpo é o primeiro a desistir e eu adoro. A sensação de queda sem se estilhaçar é algo raro, tem que saber desistir e se abandonar.
Eu, quando sinto que há chão debaixo dos pés, faço questão de me enganar. Finjo que estou bom, recuperado, sóbrio, firme, levanto e sinto o mundo rodar. Não sou de jogar nada fora, nem comida, nem bebida nem a mim, e acho que nem a você, mas quando as solas se cansam do concreto, do certo, do correto, jogam-se nas areias escuras do Kemet – sempre quente - que confortam e sepulcram aqueles que já morreram demais pra viver. Os pés, quase sempre rachados, afundam.
Volto toda manhã. Eu volto como aquela luz insuportável que corta as pálpebras e faz cada músculo do corpo recuperar suas funções e posições, tipo motor aquecendo pra sair, sem hora pra voltar, mas sempre com hora marcada pra partir. Aquele amanhecer que azeda por mostrar que ainda estamos azedos e o sono de ontem não foi o bastante. Eu sou assim, o despertar sem música, sem sopro, sem voz, só corpo, calor, copo seco, peso, carne, língua, osso, saliva, sangue, suor, dor. Te(n)são.
Há uma roleta de pessoas que se exprimem pra entrar no meu barril e ser a próxima bala a furar minha cabeça pra atingir o coração. Nunca saberão, entretanto, quando vão ser a bala da vez - ou o beijo da vez.
O que sabem é que entre areia e tempestade, vão sempre me encontrar, parado, afundando os pés. Relampejando as ideias.
Trovoando o coração.
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