Eu me perguntei. E ainda me pergunto: e agora?
E agora que saí sem as chaves de casa
Para não dar meia volta em minha vida
e abrir as portas do peito?
E agora que caminhei sobre pregos
até o emprego, contanto os passos
pra que as horas passassem logo, em largas passadas?
E agora que lembrei do seu cheiro na hora do almoço
um perfume de mágoas passadas, que me trouxe água aos olhos
com mais sal do que saudade?
E agora que olhei para meu corpo e me senti à vontade
para andar pelas nuas curvas, à noite, e sentar nas ossadas frente a minha casa
aquela cujo endereço está sobre a pele?
E agora que eu sou justamente aquilo que, no passado, torci para ser,
com tanta vontade que quando me vejo, vejo-me no ontem, provando que ainda
sou capaz de me enxergar - mesmo de longe?
E agora que eu cresci, mas não deixei de escrever, de me esconder nas palavras,
de me revelar nas entrelinhas, só, e sempre só, deixando pontas soltas para você me encontrar?
E agora que estamos aqui, um diante do outro, sorrindo de leve, conversando a sós
voltando a reconhecer o cheiro de nós, cheio de nós, nesta falta que não nos permite fazer falta?
E agora?
É agora.
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