domingo, 5 de abril de 2015

Retorno à distância

Escrevi algo breve que desse apenas uma dica sobre o que estava sentindo. Mesmo com todos os aparatos tecnológicos de hoje, hoje eu quis ser mais substancial, orgânico, quis colocar o peso da minha mão na caneta e fazê-la dançar pelas linhas. Tudo isso para dizer que te escrevi um bilhete.

A luz era baixa, convite perfeito para os mais diversos tipos de cegueira. Eu tive a sentimental. Enquanto dançava com a música - e não com as pessoas - via pouca coisa. Apenas vultos, meus pés se entendo e as cores do ácido decorando o lugar. Em meio a tantas sombras, um sorriso. Não era pra mim e por isso tive vontade de tê-lo. Os olhos puxados me rasgavam para perto de você. Metade de mim ia, a outra dançava. Comecei a enxergar.

Magnetismo e gravidade. Inércia, insistência e distanciamento estratégico. Corpo a postos, desejo na ponta da língua, sem sair - apenas estando. Pele pedindo toque; toque clamando por aperto, aperto procurando carne; carne exalando suor; suor perfumando as vontades; vontades enrijecendo os músculos; músculos dando peso aos corpos; corpos a postos, apostando - quem vai beijar primeiro? Perdi pra mim mesmo. Ganhei seus lábios. Paguei pela língua.

Quando a música acaba, também acabam os motivos para ser mais do que um. Não há necessidade de se dividir novamente, de compartilhar os quereres ou se doar sem dor. O silêncio coloca todo mundo nos eixos. Ele vem para educar e tirar do rosto o sorriso de final de festa. Mas nós voltamos conversando, rindo, imaginando, sem querer, querendo-se novamente... e novamente... e novamente, até que chega a hora do adeus. E que "adeus" mais "a mim". Só eu ali, pra você, pra ser seu, e fui - sem saber que não voltaria mais.

O dia seguinte não existiu. Nem o outro. Tive que escrever um bilhete pra você. Sei que nunca será entregue. Que você nunca irá lê-lo, mas foi preciso. Nele, uma simples palavra do tamanho das maiores distâncias já percorridas por alguém:

"Volte".

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