Todas as pessoas sentem algo. E "sentir" pode ter vários significados - desde os mais óbvios, semanticamente estabelecidos, até os mais complexos - subjetivamente escritos. Seja com for, há fluidez e alteração no corpo e no comportamento. Muda, como o olhar faz todos os dias. Inunda-se, como o mar faz todos as tardes.
E quanto custa permitir-se sentir o que há para ser sentido? O preço a pagar é sempre injusto. E assim pagamos. Pagamos o quanto for cobrado. Pagamos as passagens para visitar aquele amor de um dia; pagamos a cerveja bebida pela metade que rendeu a mesa a dois cheia de carinhos e mentiras; pagamos a entrada para a festa desinteressante com promessa de gente interessante; e no final da noite apagamos, como se não tivéssemos acontecido.
O preço do "sentir" está além da nossa capacidade de calcular. Ele oscila de acordo com a infla(ma)ção do querer e se faz nos detalhes de um perfume na nuca ou no descaramento em perguntar - "você está com alguém?". Geralmente, arriscamos linhas tortas - sem régua punidora - de um discurso sincero e patético que quer apenas ser amado, acolhido e - quem sabe - lido pela língua a frente. Depois, quando o efeito se desfaz pela correnteza sanguínea, a maré em nós deixa apenas uma sensação de derrota que custa a afundar na areia das expectativas. Cada palavra dita no momento de maior vulnerabilidade sentimental não pode ser apagada com os pés nem com a próxima onda. Marca profundamente e talvez um próximo verão possa então acobertar a memória do que a ponta dos dedos não entrelaçados entre mãos dadas pôde omitir. Paga-se se o preço, mas não apaga-se o peso - da rejeição, por exemplo.
Ainda assim, sentiremos. Espalharemos sobre o lençol exausto da cama as contas do peito e dividiremos a tristeza em suaves parcelas de consequências. Cada uma delas decididamente pronta a cobrar-nos diariamente um fragmento do carinho perdido.
2 comentários:
Jow, vc representa a quebra.
Jow, vc representa a quebra.
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