quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Dentro do mundo




As paredes eram estreitas, mas confortáveis. Eu sentia ela respirando, vagarosamente, num ninar suave que me tranquilizava. Ainda não tinha palavras para definir nada, nem a mim, mas o coração já batia e grafava no sangue meu nome, meu sobrenome e minhas futuras broncas. Estava no centro do mundo, cercado pelas bordas de algo maior, bem maior do que os meus olhos fechados podiam imaginar. Às vezes algo me pressionava de leve, como se tocasse delicadamente. Nesse instante, o corpo transparente se enchia de vida e o recém-nascido carinho justificava minha existência. O tal mundo era desconhecido para mim, mas já sabia que sem ele eu não teria lugar nos muitos lugares que viria a conhecer.

Desconhecia frio, fome e luz. Nas trevas do tempo, aprendi a esperar pelo inesperado, como promessa feita à base de amor que, mesmo sem se realizar, já garantia a dose vitamínica de expectativa. Dose esta que nos faz nascer, crescer e morrer. Nem poderia explicar como esses pensamentos cabiam numa cabeça ainda tão pequena e vazia. Mas como medir o tamanho do vácuo que se encontra em nossas mentes? Na minha, eu era gigante, um titã adormecido no ventre da Terra.

Terra. Já havia um nome. Não se tratava mais de “mundo”. Era Terra. Base, chão, força, concreto, material, era tocável. Possível. Essa Terra me carregava com dores nos joelhos e costelas, e prazer no rosto e nas palavras. Suspirava por dois, com medo de que me faltasse ar. Admirava meu rosto e chorava sempre... Eu sei porque seu soluço agitava minha cabeça como terremoto. Era bonito e bom.

E esse mesmo choro também desabava como chuva. Meu espírito, ou aquilo que dentro de mim é intangível, atingia um estado letárgico no qual bastava estar vivo para se sentir ser. E eu era dela, da Terra.

Anoiteceu ao contrário. Do escuro eu saí. A luminosidade não fez festa, cegou-me. O silêncio deu adeus sem abrir a boca e eu berrei de olhos fechados. Frio, calor, fome, ar. Sem chão, só com uma mão a me erguer. Sem água, só o vento seco a me batizar. Sem medo, só com o seu olhar a me salgar em lágrimas. Sem palavras, só com seus lábios a me abraçar.

Sem mundo. Sem terra. Só com minha mãe a me criar. 

Um comentário:

Letícia Melo disse...

Apenas <3