As paredes eram estreitas, mas confortáveis. Eu sentia ela
respirando, vagarosamente, num ninar suave que me tranquilizava. Ainda não
tinha palavras para definir nada, nem a mim, mas o coração já batia e grafava
no sangue meu nome, meu sobrenome e minhas futuras broncas. Estava no centro do
mundo, cercado pelas bordas de algo maior, bem maior do que os meus olhos
fechados podiam imaginar. Às vezes algo me pressionava de leve, como se tocasse delicadamente. Nesse instante, o corpo transparente se enchia de vida e
o recém-nascido carinho justificava minha existência. O tal mundo era desconhecido para
mim, mas já sabia que sem ele eu não teria lugar nos muitos lugares que viria a
conhecer.
Desconhecia frio, fome e luz. Nas trevas do tempo, aprendi a
esperar pelo inesperado, como promessa feita à base de amor que, mesmo sem se
realizar, já garantia a dose vitamínica de expectativa. Dose esta que nos faz nascer,
crescer e morrer. Nem poderia explicar como esses pensamentos cabiam numa
cabeça ainda tão pequena e vazia. Mas como medir o tamanho do vácuo que se
encontra em nossas mentes? Na minha, eu era gigante, um titã adormecido no
ventre da Terra.
Terra. Já havia um nome. Não se tratava mais de “mundo”. Era
Terra. Base, chão, força, concreto, material, era tocável. Possível. Essa Terra
me carregava com dores nos joelhos e costelas, e prazer no rosto e nas
palavras. Suspirava por dois, com medo de que me faltasse ar. Admirava meu
rosto e chorava sempre... Eu sei porque seu soluço agitava minha cabeça como
terremoto. Era bonito e bom.
E esse mesmo choro também desabava como chuva. Meu espírito,
ou aquilo que dentro de mim é intangível, atingia um estado letárgico no qual
bastava estar vivo para se sentir ser. E eu era dela, da Terra.
Sem mundo. Sem terra. Só com minha mãe a me criar.
Um comentário:
Apenas <3
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