“O que acontece com você, garoto?”, perguntou a senhora. “Nada”,
respondeu-a sem erguer os olhos.
O que acontece aqui dentro? Por que simplesmente não
consigo...? Não consigo... Fico e finco lentamente uma adaga abaixo da terceira
costela à esquerda do tronco. Finco cada vez mais. Cai o fruto, o fruto
pulsante e avermelhado do galho seco no qual pendurei minhas dúvidas. Cai o
fruto da incerteza, suculento de saber. Mas é minha boca que desconhece o
gosto. Ela não foi educada pra degustar, assim como eu desaprendi a gostar dos
outros. Gosto do que os outros me oferecem. Seja fruta ou adaga, o que me
importa é a textura, o toque, o ruído da mordida doída, os olhos se semeando e
as raízes se entrelaçando numa dança milenar que não tira os pés do chão.
Finca-os. Aqui dentro. Porque simplesmente eu insisto... Sim, insisto... Afundo
e fundo minha pele a de outros, rapidamente, feito veneno no sangue, misturado,
confortável e silencioso. Afundo e fundo cada vez mais as palmas das mãos no
peito terroso e rachado de cicatrizes. Fundo-me. Sou dois. Sou solo, chão para
o par de pés. Sou solo em dois, fundo, tão fundo que me sinto assim, distante
de todos. Inclusive de mim.
Não consigo menos.
(...)
Eu pulso como um vulcão. Pulso mais do que muitos que gritam e que choram ou fazem declarações aos quatro ventos. Eu juro que eu pulso. Mas pulsação é silêncio. É um querer subcutâneo que só se faz na transpiração da alma. Na sutileza de uma ou duas palavras pontuais...
Esse meu silêncio é vulcão adormecido. É erupção paciente... Mas eu pulso. Eu juro.
Abaixo da crosta que faz berço no meu peito existe um coração de magma... Quente demais... Inquieto. Mas quieto. Dormindo o sono dos pacientes.Porque inocente ninguém é. E se fosse, jamais dormiria tanto tempo.
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