segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Vejo muitas coisas, olho para poucas

Lá fora, a chuva. Aqui dentro, um calor infernal.

Não sei mais o que te dizer. Perdi as palavras. Talvez, tenha que esperar o frio voltar. Pode ser apenas uma "coisa" de tempo. Clima, de repente.

Até penso que tenho certos assuntos a serem tratados com você. Só que o silêncio parece mais cômodo. Para ambas as partes, isso está claro. Perdemos a criatividade. E eu ainda não sei o que fiz para você. Assim como também não sei o que fiz comigo. Só deixei acontecer. Queria ver no que ia dar.

Olho para mim! Ainda vejo aquela parcela da existência com grandes dificuldades em se expressar. Sempre inserida em suas metáforas e palavras ambíguas, sentindo que a insatisfação vem da falta de cobiça por algo que está no cotidiano. A falta de fé aliada ao cansaço mental e solidão compõem as notas dessa música. Trilha sonora de um coração que existe porque é assim que tem que ser. Não há uma opção ou melhor, até existe, mas o preço é alto.

Meus sonhos estão fragmentados como se o espelho que refletisse o rosto tivesse levado um tiro. Vejo pedaços da infância silenciados pelo tempo. Também vejo o presente correndo livre, sem que eu possa controlá-lo. Na verdade, não quero controle. O que eu estou buscando, então? O que eu quero? O que me falta? Não sei. Se soubesse, também continuaria agindo como se me fosse desconhecido. Não mais ouço aquelas vozes que diziam "Ah, você tem que seguir adiante, tem que continuar. Bola pra frente!". Palavras vazias. Quem disse que eu parei com minha vida? É difícil perceber que eu não vivo no mesmo ritmo que as outras pessoas? Às vezes, eu preciso me sentir triste.

E quando a necessidade de alegria surge, acabo ficando irritado. Ir em festas, reuniões de amigos, idas ao parque, não. Não existe fórmula exata e permanente que faça com que a alegria sempre chegue na hora que você mais precisa. Não são apenas essas coisas que me farão sorrir. A minha alegria é aleatória. Se hoje ela vem da fotografia, amanhã pode surgir de um cigarro num banco de madeira.

Já não falo mais em simplicidade. Admito que a complexidade em que fui construído faz tudo soar familiar. Com isso, olho todas as ideias e afirmações como se não passassem de elementos óbvios para compor a felicidade de qualquer humano. Vivi muitos anos dentro do meu mundo. Agora, me sinto um forasteiro no seu. E no de todo mundo.

Barulho, muitas pessoas que não param de falar e os problemas alheios. Contribuição indispensável para o desgosto. Não me interessa se filósofos, religiosos ou psicólogos disseram algo sobre tudo o que já senti e falei. O peso que o mundo tem é algo que varia de pessoa para pessoa. Nunca saberão. No máximo, vão tentar adivinhar e ganhar dinheiro e reconhecimento com isso. Uma forma de alcançar a alegria.

Toda vez que estou no Metrô e alguém me pergunta sobre alguma estação, eu me embaralho. Parece que tudo some da minha mente, mesmo que eu esteja indo para o mesmo local que a pessoa. A mesma coisa acontece com as horas. Não entendo o idioma deles, nem seu jeito invasivo de perguntar as coisas, mesmo com placas e relógios por todos os lados. Como se a confirmação de um ser humano fosse mais confiável do que a precisão mecânica das máquinas. Humano, demasiado humano.


Vejo muitas coisas, mas olho para poucas.

Nenhum comentário: