sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

'Cause nothing even matters at all

Se você não tivesse insistido pela terceira vez, jamais teria compartilhado a mesa.

Quinta-feira, sempre o dia mais odioso da semana. Choveu muito, mas agora só sobraram as gotas atrasadas e a brisa refrescante. Por que não sair para tomar uma cerveja? Sou muito sistemático: o mesmo caminho, o mesmo bar, a mesma cerveja. Sim, eu odeio a "mesmisse" e também tudo o que é previsível, mas faço questão de reproduzir os dois. Talvez, assim eu consiga preservar aquela esperança. Sabe? Aquela!

A cada garrafa, o pensamento fica afiado e o olhar procura um ponto de fuga. A profundidade de campo traz sempre as piores visões. O todo não é nada, prefiro sempre o Macro e sua visão penetrante. Mas era uma quinta-feira. Não poderia esperar muita coisa.

Você entrou, olhou para minha mesa (duas cadeiras, uma pessoa) e não foi previsível. Ao invés de pedir para retirar a cadeira, você simplesmente pediu para sentar comigo. Já na terceira garrafa, olhei nos teus olhos como se partisse sua alma em dois pedaços, e fiz "não" com a cabeça. Primeira tentativa.

Quando você entrou no bar e procurou outro local, percebi que já não conseguia mais pensar em outra coisa, senão naquela atitude muito valente da sua parte. Três minutos depois lá estava você, diante de mim, com uma garrafa de cerveja na mão. Mais uma vez, você não foi previsível (mas não foi surpreendente, vale lembrar) e disse que iria beber de pé, na minha frente. Fingi que não escutei e continuei bebendo e fumando meu cigarro. Segunda tentativa.

Quinze minutos e nada. Eu já estava começando a perder a paciência. Gosto de observar, não de ser observado. Você focava em cada movimento meu. Irritante, arrogante, interessante demais. Pedi mais uma bebida, dessa vez, vodca. Parece que isso te surpreendeu, pois vi que um sorriso de constrangimento cortou seu rosto. Agora, resolvi investir com o golpe final: Fui eu quem começou a focar no seu olhar. Parecia que eu buscava qualquer sinal de fraqueza ou resposta que justificasse aquela pessoa parada, de pé. Não escutava mais as pessoas ao redor, nem mesmo as via. Foi então que tomei uma atitude. Ainda olhando fixamente para seus olhos castanhos, disse: Sente-se. Terceira tentativa. Primeira conquista.

Conversamos bastante, eu ouvia, vc me ouvia, nós ouvíamos o casal apaixonado na outra mesa e tudo se encaixava. Só faltou "aquela" música tocar. Sabe? Aquela! É, então. Quando voltei para casa, o veneno já havia me dominado. O cheiro era do seu perfume. As músicas falavam de você e as imagens me faziam rir sem motivo. Não preciso falar dos filmes. De qualquer forma, não cultivei expectativas, sabia que te ver novamente seria outra obra do acaso, cansado de ser apenas mais um caso. Então, resolvi caminhar sem rumo durante a noite. Cansado dos meus discos e filmes, queria ver o imprevisível. Me lembrava de você, mas não com tanta força assim.

Cheguei naquele mesmo boteco. Como era um pouco mais tarde, eu fiquei sem opções de mesa. Justamente aquela em que sempre fico estava ocupada. Eu já preparava o olhar de ódio, quando percebi que quem estava lá, no meu lugar, no meu pequeno mundo, era você. Não pedi para sentar, apenas me acomodei. Lembro que você não disse nada. Ficou me olhando e aos poucos foi aproximando sua mão da minha. Meu rosto pegou fogo e o estômago congelou. Não consegui dizer nada, assim como não me movi. Estava na teia da aranha, amarrado e feliz, pois não sabia o que aconteceria. Quando sua pele tocou a minha sorrimos juntos. Eu, que odeio demonstrações de afeto em público, levantei, fui até você e dei um beijo na sua testa. Sei lá, sabe aquela maneira de dizer "sim", meio desajeitada? Sabe? Aquela! Isso, foi o que fiz.

Depois disso, nada mais importou, nem o tempo e nem os locais. O meu lugar é o seu e vice-versa. Agora, temos uma mesa só para nós.

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