Negue os seus sentimentos e vontades mais malucas. Negue o seu mau humor crônico e a falta de consideração para com o próximo. Negue a paixão que queima no peito e a indiferença diante da dor alheia. Negue o bom dia , negue o boa noite, negue que se sente só toda vez que deita na cama e não escuta a porta bater. Negue que precisa de dinheiro, negue que precisa ter mais do que necessita. Negue que saiu hoje, negue que voltará amanhã. Mas volte.
Optar por não sair pode ser optar por um vazio imenso nas próximas horas. Acordar no domingo sem nem ao menos ter alguma lembrança do sábado. Mas você tem a maldita lembrança de que teve uma visita digna e mesmo assim negou que ela tenha sito importante. Mas foi.
Aceite a fuga como base segura, aceite a desculpa como carta na manga. E negue tudo aquilo que vier por consequência da sua falta de otimismo. Aproveite a baixa iluminação e faça fotos em preto e branco, esconda os detalhes, ressalte as lacunas. Mas não deixe de retratar.
Diga uma frase que faça sentido, e que vá além do que foi delimitado. Explique que só se eterniza o que é escrito, e que a fala pode ser alterada , pode ser construída e o "não" tem toda a capacidade de se tornar um "sim". Mas deixe que falem , e falem bastante.
O som te induz a escrever compulsivamente, por linhas sem sentido ou com um sentido egoísta e egocêntrico. Se permita errar e optar por não ser um exemplo. Siga o caminho desenhado pelos seus olhos e esqueça que alguém à frente já ultrapassou a linha de chegada. Perdoa a si mesmo por não saber perdoar as outras pessoas. Não viva com o rancor, mas aprenda com ele. Queima a porcaria do "filtro solar", beba, grite , brigue , pegue todos os malditos verbos no imperativo e jogue no lixo. Mas comande a si mesmo.
Sei tão pouco e mesmo assim me acho em condições de escrever tudo o que escrevi. Vejo que pouco tempo tenho para tentar renovar ou passar por uma nova fase. Também sei que pouco me importo com a medida do tempo, pois sei que quando está se fazendo o que gosta tudo corre numa velocidade cósmica. Já não há mais busca por desejos barateados, já não há mais aquela vontade de simplificar para tentar alcançar. Eu sei que falo muito, contudo o conteúdo é praticamente o mesmo: Aquela velha insatisfação que me satisfaz, pois me faz pensar, refletir e tentar achar um sentido. Corte os solos imensos, corte os vocais afinados, corte o baixo sem palheta, corte a bateria com 10 mil pratos. Mas faça uma música sincera. Faça a porra de um bom punk rock.
Faça, e só.
sábado, 17 de outubro de 2009
A arte de negar
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