Era uma noite sem nuvens no céu. Apenas aquele azul escuro e
profundo, forrado com pontos cintilantes. Eu estava acompanhado de meu melhor
amigo. Caminhávamos pelas ruas do bairro sem motivo específico. Bastava-nos
andar. Era o movimento que nos atraía – e a companhia um do outro também. Atraía.
Lembro me de parar por alguns instantes e comentar com ele sobre a imensidão do universo sobre nós. Ele, curiosamente, parecia acender os olhos como se fossem estrelas. Eu explicava sobre qualquer coisa que para mim fazia sentido, mas que não tinha compromisso – ou base – algum com a ciência; com a exatidão do saber.
- Veja como estamos distantes. Como não existe nada perto fora daqui.
- Verdade. A gente tá no meio do universo e ele não tem fim, né?
- É, ele não tem fim.
- E eu achando que a gente que tava longe de tudo morando aqui. Longe é lá fora, no espaço.
- Sim. Aqui não tem muita coisa pra fazer e pra sair daqui é difícil, mas pensa como deve ser lá no vácuo. Sempre silêncio, sempre frio.
- Mas é bonito de olhar daqui. A gente não é o centro do universo, né?
- Não, nem sei se tem centro só sei que nós é que não somos. Tem galáxias e acho que todo mundo que tá dentro delas se acha o centro das coisas, mas não é. Não se um dia conseguir sair do lugar onde está e ver que existem mais lugares.
- Louco isso. Você acredita em vida fora daqui?
- Acho que sim. Porque se a gente pensar que lá fora tudo pode estar “morto” é porque em algum momento teve vida. E não só a nossa. Mas sei lá, não me interessa muito pensar nisso.
- Eu acho que não tem como sermos os únicos, é tudo muito grande e a gente é muito pequeno.
- Sim, pode ser que tenha. Mas o que me interessa mesmo é pensar no tempo lá fora, no espaço.
- Como assim?
- Não sei explicar direito, mas o tempo lá é diferente do daqui e isso influencia em tudo e todos. Fora daqui, passado, presente e futuro tão em tempos diferentes do nosso passo, presente e futuro aqui, entende?
- Acho que sim...
- Daí eu sinto que estamos mais longe de tudo mesmo... Mais afastados... Sozinhos.
- Bom, mas estamos aqui, não? Então é isso.
Após esta conversa, lembro que continuamos a olhar o céu, buscando uma profundidade que encontrávamos em nossas cabeças, um buraco negro, um vácuo que só poderia ser preenchido com os mistérios do conhecimento. Éramos dois adolescentes tentando entender o universo, nossa posição nele e o que ele escondia de nós – ou o que não estávamos enxergando.
Quando fiquei mais velho, costumava dizer em algumas conversas que para mim e meus amigos, durante a infância, o universo era do tamanho do quarteirão em que morávamos e que a qualquer dobra de esquina desconhecida morava o infinito. Hoje, ao recordar deste momento com meu amigo, penso que a sensação de afastamento, isolamento, de estar à deriva no todo é, em muitos aspectos, fruto de uma necessidade “humana” de se autocentrar para não se sentir solto na imensidão. Para ter onde voltar, ir, ficar, partir. Para ter movimento. Era o movimento que nos atraía – e a companhia um do outro também.
Atraía.
Percebi, com esta conversa, que nas palmas de minha mão cabe uma microdimensão capaz de abrir janelas para o além daqui. Foi assim que eu aprendi algo apenas olhando para o céu numa noite sem nuvens:
Que nós nunca estamos longe quando somos o centro de nosso próprio universo. Nem sozinhos.
Lembro me de parar por alguns instantes e comentar com ele sobre a imensidão do universo sobre nós. Ele, curiosamente, parecia acender os olhos como se fossem estrelas. Eu explicava sobre qualquer coisa que para mim fazia sentido, mas que não tinha compromisso – ou base – algum com a ciência; com a exatidão do saber.
- Veja como estamos distantes. Como não existe nada perto fora daqui.
- Verdade. A gente tá no meio do universo e ele não tem fim, né?
- É, ele não tem fim.
- E eu achando que a gente que tava longe de tudo morando aqui. Longe é lá fora, no espaço.
- Sim. Aqui não tem muita coisa pra fazer e pra sair daqui é difícil, mas pensa como deve ser lá no vácuo. Sempre silêncio, sempre frio.
- Mas é bonito de olhar daqui. A gente não é o centro do universo, né?
- Não, nem sei se tem centro só sei que nós é que não somos. Tem galáxias e acho que todo mundo que tá dentro delas se acha o centro das coisas, mas não é. Não se um dia conseguir sair do lugar onde está e ver que existem mais lugares.
- Louco isso. Você acredita em vida fora daqui?
- Acho que sim. Porque se a gente pensar que lá fora tudo pode estar “morto” é porque em algum momento teve vida. E não só a nossa. Mas sei lá, não me interessa muito pensar nisso.
- Eu acho que não tem como sermos os únicos, é tudo muito grande e a gente é muito pequeno.
- Sim, pode ser que tenha. Mas o que me interessa mesmo é pensar no tempo lá fora, no espaço.
- Como assim?
- Não sei explicar direito, mas o tempo lá é diferente do daqui e isso influencia em tudo e todos. Fora daqui, passado, presente e futuro tão em tempos diferentes do nosso passo, presente e futuro aqui, entende?
- Acho que sim...
- Daí eu sinto que estamos mais longe de tudo mesmo... Mais afastados... Sozinhos.
- Bom, mas estamos aqui, não? Então é isso.
Após esta conversa, lembro que continuamos a olhar o céu, buscando uma profundidade que encontrávamos em nossas cabeças, um buraco negro, um vácuo que só poderia ser preenchido com os mistérios do conhecimento. Éramos dois adolescentes tentando entender o universo, nossa posição nele e o que ele escondia de nós – ou o que não estávamos enxergando.
Quando fiquei mais velho, costumava dizer em algumas conversas que para mim e meus amigos, durante a infância, o universo era do tamanho do quarteirão em que morávamos e que a qualquer dobra de esquina desconhecida morava o infinito. Hoje, ao recordar deste momento com meu amigo, penso que a sensação de afastamento, isolamento, de estar à deriva no todo é, em muitos aspectos, fruto de uma necessidade “humana” de se autocentrar para não se sentir solto na imensidão. Para ter onde voltar, ir, ficar, partir. Para ter movimento. Era o movimento que nos atraía – e a companhia um do outro também.
Atraía.
Percebi, com esta conversa, que nas palmas de minha mão cabe uma microdimensão capaz de abrir janelas para o além daqui. Foi assim que eu aprendi algo apenas olhando para o céu numa noite sem nuvens:
Que nós nunca estamos longe quando somos o centro de nosso próprio universo. Nem sozinhos.
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